Exame Logo

Pode ser bom, mas não é ótimo

Assim o vinho brasileiro é avaliado pelo enólogo francês Michel Rolland, um dos mais prestigiados do mundo

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h23.

Michel Rolland, de 58 anos, é visto como uma espécie de selo de qualidade para os vinhos. Ao lado do americano Robert Parker, é o nome mais influente do ramo. Produtores do mundo todo seguem fielmente suas orientações para o cultivo e o manejo de vinhas e o processamento das uvas. Atualmente, Rolland trabalha para cerca de 100 clientes em mais de 14 países. A Miolo, empresa que tem vinícolas no Sul do país e no Nordeste, contratou-o recentemente. "São vinhos originais e interessantes", disse a EXAME RESERVA, de sua casa na região de Bordeaux, na França.

Reserva - O que o senhor acha dos vinhos brasileiros?
Michel Rolland
- Há os do Sul e os do Nordeste, que são completamente diferentes. A Campanha Gaúcha, quase na divisa com o Uruguai, é o melhor lugar para produzir vinhos no Brasil graças ao clima e ao solo. No começo, os produtores de lá não faziam um vinho muito interessante, mas agora estão trabalhando com uvas melhores. Na Miolo, por exemplo, melhoramos definitivamente. Agora começamos a desenvolver castas portuguesas, como a touriga nacional.

E os vinhos do vale do rio São Francisco?
O Nordeste é completamente diferente. Lá, a vinha cresce sem parar, não tem descanso. Por isso, acho que não se devem esperar grandes vinhos dessa região. Acho que é possível, sim, fazer vinhos muito bons -- mas não vinhos ótimos e muito menos os profundos, aqueles que podem envelhecer por dez anos. Acho que são vinhos jovens, não muito caros, vinhos para outro mercado. A syrah é uma casta bem-sucedida na região.

O Brasil pode se tornar um grande exportador de vinhos, como outros países do Novo Mundo?
Os brasileiros estão bebendo mais vinho, o que faz do Brasil um dos mercados com maior potencial do Novo Mundo hoje. Mas o primeiro mercado para o vinho brasileiro deve ser o próprio Brasil. Depois disso, é possível exportar para outros mercados. Afinal, há brasileiros no mundo todo. Hoje, existe potencial para fazer bons vinhos no Brasil -- talvez não ótimos, como vemos na França e até na Espanha --, mas acho que é possível fazer vinhos muito interessantes para o consumidor brasileiro.

Já alcançamos o mesmo nível de qualidade dos vinhos chilenos e argentinos?
Na média, certamente não. Mas há alguns vinhos específicos no mesmo nível, sim. A diferença é que no Chile, agora, há umas 20 empresas com capacidade para produzir bons vinhos. Na Argentina, umas 25. No Brasil, apenas duas ou três.

Os brasileiros ainda não estão totalmente convencidos da qualidade do vinho nacional. E, no exterior, que tipo de imagem tem o vinho produzido no Brasil?
O Brasil tem uma boa imagem no mundo todo. As pessoas, em geral, gostam do país -- seja pelo samba e pelo Carnaval, seja pelo futebol. Acho que esse é um bom começo para o marketing dos vinhos brasileiros.

Será possível produzir no Brasil um vinho de alta qualidade, comparável ao europeu?
Volte a me perguntar daqui a alguns anos. No momento, estou trabalhando nisso. Estou fazendo todo o possível nesse sentido.

Com que freqüência o senhor bebe vinho?
Meu trabalho é, em grande parte, testar vinhos. Começo a fazer isso às 7h30 da manhã e termino às 9 da noite. Mas não bebo, só testo. Depois disso, sim, eu bebo. A vida é dura e o vinho é uma das melhores coisas para mim. Eu não me imagino passando um único dia sem beber vinho.

No documentário Mondovino, o senhor é acusado de "globalizar" o gosto dos vinhos. Qual sua resposta para a crítica de que o senhor se utiliza das mesmas regras de produção em qualquer lugar do mundo?
Não tenho resposta para essa estupidez. Às vezes, quando provo um vinho muito ruim, meu sonho é que a globalização no mundo do vinho fosse verdade.

O senhor é amigo do crítico mais famoso do mundo, Robert Parker. Muitos dizem que, graças a essa relação, os vinhos que passam por sua consultoria recebem boas notas. É verdade?
Não é e fico muito triste com isso. Se fosse verdade, minha situação seria muito mais fácil. É só pesquisar: os vinhos que resultam do meu trabalho também já receberam notas baixas.

Quanto o senhor cobra para prestar consultoria?
De zero a muito.

O senhor é rico?
Não. Tenho um carro, não um avião particular. Vivo em uma boa casa, não em um chatô. Acho que sou um cara normal. Quer dizer, um normal plus.

Veja também

Michel Rolland, de 58 anos, é visto como uma espécie de selo de qualidade para os vinhos. Ao lado do americano Robert Parker, é o nome mais influente do ramo. Produtores do mundo todo seguem fielmente suas orientações para o cultivo e o manejo de vinhas e o processamento das uvas. Atualmente, Rolland trabalha para cerca de 100 clientes em mais de 14 países. A Miolo, empresa que tem vinícolas no Sul do país e no Nordeste, contratou-o recentemente. "São vinhos originais e interessantes", disse a EXAME RESERVA, de sua casa na região de Bordeaux, na França.

Reserva - O que o senhor acha dos vinhos brasileiros?
Michel Rolland
- Há os do Sul e os do Nordeste, que são completamente diferentes. A Campanha Gaúcha, quase na divisa com o Uruguai, é o melhor lugar para produzir vinhos no Brasil graças ao clima e ao solo. No começo, os produtores de lá não faziam um vinho muito interessante, mas agora estão trabalhando com uvas melhores. Na Miolo, por exemplo, melhoramos definitivamente. Agora começamos a desenvolver castas portuguesas, como a touriga nacional.

E os vinhos do vale do rio São Francisco?
O Nordeste é completamente diferente. Lá, a vinha cresce sem parar, não tem descanso. Por isso, acho que não se devem esperar grandes vinhos dessa região. Acho que é possível, sim, fazer vinhos muito bons -- mas não vinhos ótimos e muito menos os profundos, aqueles que podem envelhecer por dez anos. Acho que são vinhos jovens, não muito caros, vinhos para outro mercado. A syrah é uma casta bem-sucedida na região.

O Brasil pode se tornar um grande exportador de vinhos, como outros países do Novo Mundo?
Os brasileiros estão bebendo mais vinho, o que faz do Brasil um dos mercados com maior potencial do Novo Mundo hoje. Mas o primeiro mercado para o vinho brasileiro deve ser o próprio Brasil. Depois disso, é possível exportar para outros mercados. Afinal, há brasileiros no mundo todo. Hoje, existe potencial para fazer bons vinhos no Brasil -- talvez não ótimos, como vemos na França e até na Espanha --, mas acho que é possível fazer vinhos muito interessantes para o consumidor brasileiro.

Já alcançamos o mesmo nível de qualidade dos vinhos chilenos e argentinos?
Na média, certamente não. Mas há alguns vinhos específicos no mesmo nível, sim. A diferença é que no Chile, agora, há umas 20 empresas com capacidade para produzir bons vinhos. Na Argentina, umas 25. No Brasil, apenas duas ou três.

Os brasileiros ainda não estão totalmente convencidos da qualidade do vinho nacional. E, no exterior, que tipo de imagem tem o vinho produzido no Brasil?
O Brasil tem uma boa imagem no mundo todo. As pessoas, em geral, gostam do país -- seja pelo samba e pelo Carnaval, seja pelo futebol. Acho que esse é um bom começo para o marketing dos vinhos brasileiros.

Será possível produzir no Brasil um vinho de alta qualidade, comparável ao europeu?
Volte a me perguntar daqui a alguns anos. No momento, estou trabalhando nisso. Estou fazendo todo o possível nesse sentido.

Com que freqüência o senhor bebe vinho?
Meu trabalho é, em grande parte, testar vinhos. Começo a fazer isso às 7h30 da manhã e termino às 9 da noite. Mas não bebo, só testo. Depois disso, sim, eu bebo. A vida é dura e o vinho é uma das melhores coisas para mim. Eu não me imagino passando um único dia sem beber vinho.

No documentário Mondovino, o senhor é acusado de "globalizar" o gosto dos vinhos. Qual sua resposta para a crítica de que o senhor se utiliza das mesmas regras de produção em qualquer lugar do mundo?
Não tenho resposta para essa estupidez. Às vezes, quando provo um vinho muito ruim, meu sonho é que a globalização no mundo do vinho fosse verdade.

O senhor é amigo do crítico mais famoso do mundo, Robert Parker. Muitos dizem que, graças a essa relação, os vinhos que passam por sua consultoria recebem boas notas. É verdade?
Não é e fico muito triste com isso. Se fosse verdade, minha situação seria muito mais fácil. É só pesquisar: os vinhos que resultam do meu trabalho também já receberam notas baixas.

Quanto o senhor cobra para prestar consultoria?
De zero a muito.

O senhor é rico?
Não. Tenho um carro, não um avião particular. Vivo em uma boa casa, não em um chatô. Acho que sou um cara normal. Quer dizer, um normal plus.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais na Exame