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Vale tudo por dinheiro no UFC?

O UFC, maior empresa de lutas do mundo, acabou de organizar seu evento mais rentável. Mas vem perdendo fãs em países como o Brasil

Epstein e Shaw, executivos do UFC: o número de assinantes brasileiros está em queda  (Wander Roberto / UFC/Divulgação)

Epstein e Shaw, executivos do UFC: o número de assinantes brasileiros está em queda (Wander Roberto / UFC/Divulgação)

AJ

André Jankavski

Publicado em 25 de outubro de 2018 às 05h48.

Última atualização em 26 de outubro de 2018 às 16h25.

Nem toda pancadaria é bem-vinda no UFC, maior empresa de lutas de artes marciais mistas (MMA) do mundo. No dia 6 de outubro, o irlandês Conor McGregor, maior estrela da franquia, perdeu a luta que valia o título dos pesos-leves para o russo Khabib Nurmagomedov. Depois de encerrado o combate, Nurmagomedov foi para cima de McGregor e de seus treinadores, iniciando uma confusão generalizada. Para chamar a atenção da mídia e dos torcedores, o irlandês não só havia xingado o adversário como também ofendido o pai e a religião dele, além da Rússia, durante os meses que antecederam o evento. Tudo pela promoção. Deu no que deu.

A luta, realizada em Las Vegas, mostra como, para o UFC, equilibrar esporte e entretenimento é um grande desafio. No curto prazo, quanto mais rivalidade e mais polêmica, melhor — é a senha para conquistar audiência e patrocinadores. No longo prazo, o UFC precisa mostrar que seu campeonato dá prioridade à meritocracia e, portanto, consegue atrair os melhores atletas do mundo.

Pelo menos no balanço, a estratégia de prioridade para o entretenimento vem dando certo. O evento que teve McGregor e Nurmagomedov como protagonistas foi o mais rentável da história da organização: 2,6 milhões de pessoas pagaram pacotes avulsos para assistir ao combate em todo o planeta. Antes dele, o UFC tinha como recorde 1,6 milhão de assinaturas avulsas vendidas em outra luta de McGregor, em 2016. As vendas de assinaturas representam cerca de 35% do faturamento global do UFC, de 700 milhões de dólares no ano passado, segundo estimativas — o UFC não divulga dados financeiros.

“Sabemos que o esporte é o mais importante, mas não podemos ignorar o entretenimento. É preciso haver uma combinação”, diz o americano Lawrence Epstein, vice-presidente e diretor de operações do UFC. Em setembro, ele veio a São Paulo com David Shaw, vice-presidente internacional, promover uma edição do torneio. Foi o entretenimento que fez o grupo WME-IMG, especializado na área, desembolsar 4 bilhões de dólares pelo controle do UFC no ano passado.

Criado em 1993, o UFC — iniciais de Ultimate Fighting Championship, ou “Campeonato de Luta Definitivo”, numa tradução livre — se destacou dos demais torneios de luta por levar profissionalismo a um setor marcado pelo voluntarismo. Introduziu regras como categorias de peso e tempo para as lutas. Com isso, o UFC se notabilizou por elevar seus campeões ao status de ídolos mundiais do esporte, como são os melhores atletas de boxe, tênis, golfe etc.

Mas, como ficou claro na batalha de Las Vegas, isso pode ter ido longe demais. A dependência dos ídolos fica evidente nas vendas de assinaturas do UFC. Em 2016, cerca de 60% de todo o faturamento com vendas de pacotes avulsos veio de dois nomes: McGregor e Ronda Rousey, lutadora americana. “Para ter sucesso no longo prazo, o esporte precisa estar relacionado à justiça, com a qual o melhor vence. Não necessariamente a quem vende mais”, diz Pedro Daniel, especialista da área de esportes da consultoria EY.

Colocar os ídolos na frente do esporte faz com que a geografia do UFC vá mudando de acordo com os campeões. Como há novos mercados para conquistar, o risco no curto prazo é pequeno. A questão é o que vai acontecer quando o UFC precisar reconquistar mercados em que perdeu espaço, como o Brasil. Em 2011, o país recebeu o primeiro evento do UFC após 13 anos. Com o ex-campeão Anderson Silva como principal estrela, os ingressos, que chegavam a 1.600 reais, esgotaram em 2 horas. A Rede Globo fechou contrato para transmissões em TV aberta. Em 2013, Silva foi considerado o quinto atleta mais admirado do Brasil, segundo a consultoria Nielsen Sports.

O país chegou a sediar 20% dos eventos do UFC em 2014, tornando-se o segundo maior mercado do UFC. Há dois anos, veio o ápice: um evento no estádio da Arena da Baixada, em Curitiba, reuniu 45.000 pessoas. O interesse foi caindo com as derrotas dos preferidos do público.

De sete eventos por ano, agora o Brasil recebe no máximo três. Nomes conhecidos, como Lyoto Machida e Wanderlei Silva, foram para o rival Bellator. Executivos brasileiros também pediram demissão diante da falta de oportunidades para os lutadores locais nos principais eventos — preteridos por atletas da Europa e da Ásia, mercados mais quentes no momento. EXAME apurou que o número de assinantes do canal brasileiro Combate caiu pela metade em comparação aos anos de auge. O contrato do UFC com a Globo, que termina neste ano, deve sofrer alterações. “Continuamos na TV aberta com programas que procuram as novas estrelas do esporte”, diz Epstein. “Investimos em conteúdo para atrair mais fãs e manter a base.” Procurada, a Globo, em nota, afirmou que, se chegar “a um acordo que seja benéfico para os dois lados”, continuará apostando no MMA. A luta, fora do octógono, está ficando mais difícil para o UFC.

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