Planta da Stellantis em Porto Real (RJ): montadora vai investir 30 bilhões de reais até 2030. (Stellantis/Divulgação)
Repórter de Lifestyle
Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 06h00.
Soldas, o vaivém das empilhadeiras e o aperto constante de parafusos marcam a rotina na construção da fábrica da BYD em Camaçari, na Bahia. Há pelo menos dez meses, as obras na planta, que antes foi propriedade da Ford, operam 24 horas por dia, sete dias por semana. Com cerca de 10.000 funcionários e um investimento de 3 bilhões de reais, a unidade se prepara para se tornar o maior centro de produção da montadora chinesa fora da China, com a expectativa de iniciar a produção de seus primeiros veículos nos próximos meses.
A GWM, outro gigante chinês, também está de olho no Brasil. A montadora começará a produzir veículos em 2025 na fábrica de Iracemápolis, no interior de São Paulo, anteriormente operada pela Mercedes-Benz. Com um investimento de 4 bilhões de reais, a GWM aposta na produção local e na criação de um centro de pesquisa.
“Com a fábrica, podemos desenvolver produtos regionais, algo que é um dos nossos principais objetivos”, afirma Ricardo Bastos, diretor de assuntos institucionais da GWM Brasil. E o movimento não para por aí: pelo menos outras quatro marcas chinesas devem desembarcar no Brasil no próximo ano, impulsionadas pela demanda crescente e pelo cenário geopolítico global.
O setor automotivo teve um papel fundamental na industrialização do Brasil quando, nos anos 1950, o presidente Getúlio Vargas proibiu a importação dos carros inteiros e incentivou a instalação de fábricas por aqui. Agora, o bom momento do segmento, atual e no futuro próximo, pode ter um ingrediente geopolítico. O crescente interesse das montadoras chinesas pelo Brasil deve se intensificar com a política protecionista do novo governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, que assumirá em janeiro.
“A Tesla tem um acordo com a BYD sobre o fornecimento de baterias, produzidas na Ásia, mas, se o governo americano se tornar mais hostil, a China pode priorizar sua própria indústria”, explica Milad Kalume Neto, consultor independente do setor automotivo. A supertaxação de veículos chineses nos Estados Unidos pode acelerar a busca por mercados alternativos, com o Brasil se posicionando como um destino prioritário.
O setor automotivo local já está em ascensão. O país deve fechar 2024 com 2,5 milhões de carros emplacados, um número não registrado desde 2018, superando até a Grã-Bretanha e consolidando-se como o sexto maior mercado global, segundo dados da Anfavea.
“Para 2025, a projeção é de 2,6 milhões de unidades”, afirma Kalume Neto. Apesar da crescente presença chinesa, empresas europeias, japonesas e americanas continuam apostando no Brasil. Até 2033, as montadoras instaladas no país planejam investir 125 bilhões de reais, o maior valor já registrado no setor. Esse investimento deve ser impulsionado pelos incentivos do programa Mover, que visa promover a eficiência energética e a produção de veículos menos poluentes.
“Esses bilhões em investimentos serão direcionados à modernização das fábricas, com foco na redução das emissões de carbono e no desenvolvimento de motores híbridos flex”, afirma Kalume Neto. A projeção é que em 2030 híbridos e elétricos representem metade das vendas de carros novos no país.