André Jankavski
Publicado em 10 de agosto de 2017 às 05h21.
Última atualização em 2 de agosto de 2018 às 18h24.
Em 2011, durante o governo de Dilma Rousseff, foi aprovada uma lei que proíbe as operadoras de telecomunicações de atuar ao mesmo tempo como produtoras e distribuidoras de conteúdo. A justificativa era preservar a independência da produção audiovisual nacional, uma vez que as grandes operadoras pertencem a grupos estrangeiros, e evitar a concentração do mercado. Essa “jabuticaba” não existe no resto do mundo — lá fora, as duas atividades podem ser exercidas pela mesma empresa.
Uma saída encontrada pela Vivo para não ficar de fora do mercado de aplicativos e plataformas digitais foi oferecer esse conteúdo por meio de uma de suas empresas, a TData, que desenvolve soluções para internet, dados e voz. Com esses serviços, a TData faturou 764 milhões de dólares no ano passado — 6% da receita do grupo — e teve um lucro de 225 milhões de dólares, gerando um retorno de 40% sobre o patrimônio líquido. Sua margem de vendas, de 29%, foi a maior do setor. “Os serviços serão cada vez mais relevantes para aumentar nossas margens e nos transformar em uma empresa de tecnologia”, diz Eduardo Navarro, presidente da Vivo.
É fácil entender por que a TData é estratégica. No fim da década de 90, a Vivo comprou a concessão da operadora paulista Telesp e começou a atuar no Brasil. As receitas vinham basicamente dos serviços de telefone fixo, internet discada e vendas de cartões telefônicos. Nos últimos cinco anos, porém, a receita da Vivo com a telefonia fixa caiu 70%. O que vem crescendo é a venda de dados, especialmente para smartphones e tablets. Não por acaso, boa parte do investimento da empresa espanhola no país — em média, 8 bilhões de reais por ano — tem sido direcionada para a expansão da cobertura 4G e para a ampliação de sua rede de fibra óptica.
Com a TData, o objetivo da Vivo é rivalizar com potências da tecnologia que incomodam o setor. Afinal, poucas pessoas ainda enviam mensagens de SMS desde a popularização do WhatsApp, entre outros serviços de comunicação via internet. A estratégia da TData é fazer parcerias de conteúdo. Com a francesa Vivendi, criou o aplicativo Studio+, que oferece acesso a filmes e séries e concorre com a Netflix. A TData também fechou um contrato com a Napster, empresa de streaming de músicas, para enfrentar rivais como Spotify e Deezer. Além disso, criou parcerias no mercado editorial — com o Grupo Abril, que publica EXAME, oferece a leitura de revistas por meio da plataforma digital GoRead.
Outra novidade em gestação é o uso do portal Terra como uma companhia de serviços digitais. O negócio deve funcionar nos moldes do concorrente UOL, que dispõe de soluções de pagamentos e de hospedagem de sites. “Existe uma transformação em curso nas operadoras que estão se tornando plataformas digitais”, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. Como se vê, a “jabuticaba” que cresceu por uma imposição da legislação brasileira deve ter um papel cada vez mais relevante no grupo espanhol.