Revista Exame

Escolas brasileiras começam a preparar para a carreira

Aproximar os estudantes do ambiente de trabalho pode ser um caminho para formar profissionais mais produtivos — e algumas escolas brasileiras já começaram a pôr essa ideia em prática

Escola Sesc, no Rio de Janeiro: preparação para o trabalho desde o ensino médio (Divulgação)

Escola Sesc, no Rio de Janeiro: preparação para o trabalho desde o ensino médio (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 10 de março de 2014 às 06h00.

São Paulo - Nos últimos meses, executivos da área de recursos humanos de empresas como IBM, Stefanini e Natura passaram a visitar a Escola Sesc de Ensino Médio, no bairro carioca da Barra da Tijuca. O objetivo deles é conhecer como funciona a instituição, na qual estudam 500 alunos oriundos de colégios públicos e de famílias com renda de um a cinco salários mínimos.

A escola seleciona 165 estudantes por ano entre mais de 8 000 candidatos de todos os estados, que veem ali uma oportunidade de concluir o ensino médio com uma formação de qualidade — está entre as dez melhores escolas do Rio de Janeiro. “Queremos que os alunos saiam daqui prontos para os desafios da vida e da carreira”, diz Claudia Fadel, diretora da escola.

Na prática, as disciplinas tradicionais são ensinadas na Escola Sesc de forma que os alunos compreendam como aplicar o conhecimento no dia a dia. Os estudantes mantêm, por exemplo, uma miniagência de publicidade para produzir o material usado na comunicação interna.

Um laboratório para fabricar biodiesel serve de apoio às aulas de física e química. Uma vez ao ano, as turmas excursionam para conhecer parte do conteúdo do currículo na vida real — como história em Outro Preto, geografia e urbanismo em São Paulo e biologia no Pantanal.

Nessas atividades, os alunos desenvolvem habilidades como autonomia, criatividade e trabalho em equipe. Os resultados têm chamado a atenção das empresas. “Fiquei impressionada com os alunos”, afirma Luciana Camargo, diretora de recursos humanos da IBM, que já visitou a escola. “Eles parecem mais preparados para o mercado de trabalho do que a maioria dos adolescentes.” 

A Escola Sesc é um exemplo aplicado de uma tese cada vez mais forte entre os educadores: a de que boas notas não bastam para garantir um bom futuro profissional. Um dos defensores da ideia é o americano James Heckman, prêmio Nobel de Economia.

“Os professores têm de ajudar os alunos a moldar traços de personalidade vitais para a carreira”, diz. Especialistas dividem essas características, chamadas de socioemocionais, em cinco categorias — equilíbrio emocional, extroversão, cooperatividade, consciência profissional e abertura a novas experiências.

Uma das consequências dessa maneira de encarar a educação é a revisão dos métodos de avaliação dos estudantes. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) discute alterar o exame Pisa, aplicado em mais de 60 países para mensurar o aprendizado de jovens de 15 anos.


Há dois anos a OCDE começou a selecionar 10 000 alunos em 11 países — eles serão acompanhados num estudo para medir os efeitos das intervenções na personalidade adulta. A experiência da Escola Sesc mostra que o reforço do aprendizado socioemocional dá resultado. Em 2012, a média de seus alunos no Exame Nacional de Ensino Médio foi a nona mais alta do estado, à frente de colégios tradicionais.

Pode parecer desperdício exigir que as escolas invistam no desenvolvimento de traços de personalidade num país como o Brasil, onde só 10% dos alunos terminam o ensino médio com conhecimento adequado de matemática. Mas esse pode ser um caminho para recuperar o atraso cognitivo.

“Trabalhar a habilidade socioemocional tem um forte impacto positivo no desempenho escolar”, diz o economista Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. 

O remédio pode ser mais eficaz quando se estabelece uma relação entre escola e trabalho. Algumas empresas brasileiras começaram a comprovar isso na prática. Um programa do Instituto de Oportunidade Social, criado pela fabricante de softwares Totvs, seleciona 2 000 estudantes por ano em escolas públicas de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina para participar de um curso.

Nas aulas, eles aprendem a usar softwares de gestão e a executar tarefas administrativas. Um terço do tempo é dedicado ao reforço de português e matemática e ao desenvolvimento de habilidades sociais, como objetividade e clareza. A melhoria nas notas chega a 40% após os seis meses de curso.

No Rio de Janeiro, cinco escolas técnicas têm o apoio de companhias como Oi, Pão de Açúcar e ThyssenKrupp. Além de ajudar a bancar salários e equipamentos, elas interferem no currículo para que os alunos desenvolvam atitudes pessoais que são valorizadas no mercado.

Na Escola Nave, patrocinada pela Oi, os alunos estudam programação de jogos de forma integrada a história e ciências. “Além das provas, eles são avaliados pelo comportamento nos grupos de trabalho”, diz Paola Scampini, diretora do instituto de responsabilidade social da Oi.

Em 2012, a escola foi escolhida pela empresa de tecnologia Microsoft como uma das 30 mais inovadoras do mundo. A expectativa é que a aproximação de empresas e escolas comece a dar frutos — o que pode abrir uma nova era para a educação.

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