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O futuro dos "pandemials": como garantir confiança aos jovens?

O desânimo entre os jovens, ou pandemials, aparece entre os principais riscos globais. Como driblar a desigualdade de oportunidades?

O Brasil precisa combinar incentivos à contratação e ao fomento de treinamento dos jovens. É o caminho para dar ânimo e confiança  (Boris SV/Getty Images)

O Brasil precisa combinar incentivos à contratação e ao fomento de treinamento dos jovens. É o caminho para dar ânimo e confiança (Boris SV/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2021 às 05h47.

Nossos jovens estão desiludidos. Isso é um fato já conhecido. O que talvez seja menos conhecido é que essa desilusão é um risco para nosso futuro como planeta. No Relatório de Riscos Globais de 2021 do Fórum Econômico Mundial, a desilusão jovem aparece como a principal ameaça global negligenciada e cujos reflexos sentiremos nos próximos dois anos. Uma geração assustada diante do desemprego crescente, dos cenários ambiental, econômico e político instáveis ­— principalmente no Brasil.

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Índices de confiança sempre foram observados por economistas e empresários com rigor, já que direcionam o “humor” de segmentos do mercado. O Índice de Confiança do Consumidor, da FGV, é avaliado com regularidade para definir, entre outras, as taxas de juro. Pois bem, o que a análise do Fórum Econômico Mundial nos traz é que os pandemials, jovens de 15 a 24 anos, estão imersos num profundo desencanto. O que faremos com essa informação? Como ela impactará nossa recuperação? Como ela impactará a vida desses jovens? Como oferecer otimismo e confiança diante da desigualdade de oportunidades escancarada pela covid-19?

No mundo, 13,6% dos jovens estão sem emprego. No Brasil, são 36%. E, segundo o relatório, para os jovens de 18 a 20 anos ficar um mês sem trabalho pode significar uma perda de rendimento de 2% no futuro. Mas o desemprego é uma das causas da desilusão.

O que ocorre é que os jovens de hoje vivem os efeitos da segunda grande crise global em pouco mais de uma década e o agravamento das condições climáticas, sociais, de educação e da desigualdade, tanto de gênero quanto intergeracional e econômica.

 

As políticas fiscais depois da grande recessão, iniciada em 2008, exacerbaram essas diferenças, promovendo prosperidade de forma desequilibrada. O mesmo fenômeno observamos neste início de 2021, com os muito ricos concentrando ainda mais suas riquezas. 

Começamos o ano sem boas perspectivas para a volta do ensino presencial, principalmente nas escolas públicas, e com milhões de jovens sem acesso à internet para seguir seus estudos — globalmente, 30% não tinham a estrutura necessária para acompanhar o aprendizado digital.

No Brasil, o patamar de pessoas sem acesso à internet é muito maior. Os desdobramentos dessa interrupção veremos nos próximos anos, com o aprofundamento das desigualdades e da ameaçadora lacuna tecnológica. Um fantasma para todas as gerações e que pode deixar para trás quem não receber a atenção necessária agora. 

Como apresentar um novo cenário ao jovem? Algo inspirador que se traduza em ação? Como engajar o jovem para construir o futuro? Precisamos do ímpeto e da ousadia juvenil para evoluir. Um dos caminhos é estarmos atentos a suas inquietações. Durante a pandemia, 80% dos jovens no mundo declararam que houve uma deterioração da saúde mental. Com sentimentos misturados de raiva, frustração, medo e apatia. Precisam de ajuda.

Outro caminho é oferecer instrumentos, pela educação e pelo treinamento, para que se reconectem com seu potencial. Esse é um dos caminhos para a evolução pessoal e da empregabilidade. É investir em habilidades para atuar diante do mundo em transformação. Das necessidades que decorrem das novas demandas ambientais, tecnológicas e sociais. 

Os jovens estão chegando ao mercado num momento de obsolescência tecnológica, acelerada pela pandemia. Enxergar essa curva é o primeiro passo para rever a forma de absorção dos jovens e direcionar seu treinamento e crescimento profissionais dentro dessas novas realidades — a partir do “escaneamento do horizonte”.

É mapear seriamente onde haverá maior demanda de mão de obra no futuro e formar pessoas para atuar no novo, já construído a partir do presente. Há muita pesquisa e material disponível para isso. Um exemplo é a guinada no setor de combustíveis fósseis.

Grandes empresas produtoras de petróleo estão revendo seus negócios e investindo maciçamente em energia renovável, caso da BP, e na captura de dióxido de carbono, como a Occidental Petroleum. Então, para qual mercado você conduziria os jovens profissionais?

É de agilidade para acompanhar as disrupções que precisamos. Foi o que fez Bangladesh há alguns anos. Em 2019, um em cada dez jovens estava sem trabalho. Mas o país tem uma meta. Bangladesh quer se tornar uma economia próspera e reconhecida por isso até 2041. E investe em digitalização para reduzir gaps de saúde, inclusão financeira e educação.

O governo compreendeu que a tecnologia representa empregabilidade, mesmo para quem vive no campo. E pulverizou a criação de parques de alta tecnologia e a oferta de cursos de qualificação. Resultado: em pouco tempo, Bangladesh se tornou o segundo maior fornecedor de mão de obra freelancer para o mundo, atrás apenas da Índia. 

Um dos aprendizados que Bangladesh nos oferece é que o governo deve liderar as mudanças para que ocorram de forma estruturada. No caso específico do emprego jovem, o Brasil precisa combinar incentivos à contratação e ao fomento de treinamento e de educação profissionalizantes.

Esse, sim, é um caminho para a formação da mão de obra necessária, capaz de criar novos mercados, e com fôlego para dar ânimo, confiança e esperança. Mas desde que enxerguemos a curva de obsolescência tecnológica à porta e ofereçamos opções de qualificação conectadas com as novas dimensões do futuro, mais digitais, verdes e humanas do que nunca. 

(Leandro Fonseca/Exame)

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