Revista Exame

Volvo S60 híbrido é um eco friendly no país dos beberrões

Ao volante do S60 híbrido, o primeiro automóvel Volvo sem versão a diesel, pelas estradas da Califórnia

O primeiro Volvo produzido nos Estados Unidos: um esportivo para todos os terrenos (Volvo/Divulgação)

O primeiro Volvo produzido nos Estados Unidos: um esportivo para todos os terrenos (Volvo/Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 25 de outubro de 2018 às 05h32.

Última atualização em 4 de junho de 2020 às 15h17.

O dia prometia. O céu estava limpo, a temperatura amena e, à minha frente, na sacada do hotel, um impressionante mar se estendia a perder de vista. Passava um pouco das 8 da manhã de uma quarta-feira útil, e talvez por isso tenha me chamado a atenção uma movimentação de homens e mulheres de aparência feliz e saudável, carregando pranchas molhadas, que em nada remetiam ao estereótipo do surfista-padrão. Eram pessoas comuns, nem tão jovens assim, algumas até de meia-idade, sem cabelos parafinados, tatuagens ou corpos definidos. Deviam ter acabado seu exercício matinal e se encaminhavam para o expediente diário. Eis o tal California Dreaming, especulei comigo mesmo…

Bem, eu também estava ali a trabalho e, diante da tarefa que me cabia, confesso que não senti inveja daquela rotina dos nativos. Em instantes, sairia do meu quarto e pilotaria por mais de 200 quilômetros a nova geração do Volvo S60 pelas sinuosas vias dos arredores de Los Angeles, partindo de Santa Mônica, seguindo por um roteiro que margeava as praias do Oceano Pacífico e, estrada adentro, percorreria trechos serpenteando montanhas em um cenário característico do Oeste americano, ideal para ser desbravado — por um turista, claro.

A escolha daquele lugar para fazer o lançamento mundial do sedã esportivo da marca era cercada de simbolismo, a meu ver. O mais evidente era que estávamos nos Estados Unidos, país onde é produzido pela primeira vez um automóvel Volvo, no caso o S60 — e potencialmente o maior mercado do modelo no mundo, ao lado da China. Também naquela região, precisamente no Vale do Silício, fica o centro de design e pesquisa da montadora sueca.

Interior do Polestar, o modelo híbrido do S60: mais espaço interno do que a versão anterior | Foto: Divulgação

A mensagem subliminar da escolha menos evidente é que a Califórnia está na vanguarda em assuntos que dizem respeito à tecnologia, à sustentabilidade e ao meio ambiente. E o S60 é o primeiro carro da Volvo a não dispor de motor a diesel, o que pode soar como heresia em se tratando da importância desse combustível para a frota americana, mas tem sua razão de ser. São adaptações à tal da filosofia eco friendly, que almeja reduzir as emissões dos gases causadores do efeito estufa com a diminuição do uso do combustível fóssil nos carros de passeio. E, seguindo essa linha, o lançamento traz a versão híbrida plug-in, com motor elétrico e a combustão.

Foi com esse confortável exemplar que eu comecei o dia de trabalho — e, você aí, sentado diante do computador, não entenda essa afirmação como uma provocação. Apesar de carregar a pecha de esportivo, o novo S60 é discreto em sua aparência, ligeiramente maior do que o antecessor, mantendo a elegância dissimulada de toda a linha. É no sutil jogo de cores da versão Polestar (nome da submarca esportiva da Volvo) que está sinalizada sua vocação irreverente. Do lado de fora, os freios aparentes nas rodas dianteiras, da marca italiana Brembo, são pintados de dourado, que, de longe, aparenta amarelo, mesmo tom dos cintos de segurança. Meros detalhes, mas que saltam aos olhos por contrastar com o preto da carroceria e do interior. As primeiras impressões, logo, foram indicativas de que aquela espécie queria se diferenciar de sua linhagem. Conseguiu.

O híbrido S60 Polestar, como a definição do motor indica, é um veículo para quem quer se ambientar com os tempos sustentáveis. Mas não interprete essa afirmação como sinônimo de falta de emoção. A potência combinada entre motor elétrico e a combustão resulta em respeitáveis 407 cavalos. Convenhamos, um número digno de um esportivo. Rodar com esse carro só não foi melhor porque eu estava nas freeways californianas, e não nas permissivas pistas alemãs, as autobahns — o que implica dizer que a velocidade final não passou das 65 milhas por hora, algo próximo dos 100 quilômetros por hora. Mas não foi nada que impedisse de perceber o poder da aceleração nas arrancadas e ultrapassagens e o prazer de interagir com um automóvel dócil, de comportamento dinâmico equilibrado e que responde com eficiência aos comandos do piloto, ou, no meu caso, do motorista.

Quem não quiser, digamos, atualizar seu software automotivo, talvez possa continuar na versão puramente a combustão do S60, cujo sobrenome é -R-Design e tem tudo para ser vendida no Brasil também. Dirigi uma versão na sugestiva cor vermelha, que poderia muito bem ser identificada como pimenta. O motor, de 320 cavalos, apesar de nominalmente mais acanhado, é bem resolvido, garantia de eficiência e diversão ao volante. O acabamento é praticamente o mesmo do Polestar — com exceção dos referidos amarelo nos cintos e dourado nos freios. Couro com costura aparente, revestimento de alumínio escovado e estilo sóbrio estão no pacote de ambos os carros. Assim como uma parafernália eletrônica e sensores para auxiliar a condução do carro e para a proteção de passageiros, pedestres, ciclistas e seres vivos que estejam próximos.

Fim de tarde. A movimentação na praia de Santa Mônica voltava a ficar intensa. Estacionei o carro, desliguei o motor, ao simples deslizar de um botão no console, e saí, conferindo pela última vez as curvas do S60, pensando comigo: é bom que o modelo esteja bem preparado mesmo, porque sua concorrência alemã (Audi A4, BMW Série 3, Mercedes-Benz Classe C) está andando de peito inflado mundo afora, feito os surfistas de bem com a vida da costa californiana. O mar está para belas e desafiadoras ondas.

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