Revista Exame

Um ano mais velho

Dados prévios de MELHORES E MAIORES mostram que a queda dos investimentos das grandes empresas cria um novo risco: o de o parque produtivo ficar obsoleto

Fábrica de papel em São Paulo: setor investiu menos do que o necessário para renovar as máquinas (Germano Lüders / EXAME)

Fábrica de papel em São Paulo: setor investiu menos do que o necessário para renovar as máquinas (Germano Lüders / EXAME)

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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2015 às 13h15.

São Paulo - Há dois motivos básicos que levam as empresas a investir. Um deles é ampliar a capacidade de produção para crescer. O outro é manter os equipamentos atualizados para obter a máxima produtividade. Um levantamento feito pela consultoria Economatica para EXAME mostra um quadro preocupante.

Desde 2011, os investimentos das companhias de capital aberto no Brasil vêm caindo ano a ano e, em alguns setores, já estão até abaixo do valor da chamada depreciação do patrimônio — um cálculo dos custos que as empresas têm com o desgaste sofrido por seus equipamentos. No ano passado, o valor investido pelas 180 empresas analisadas foi 43% maior do que a depreciação.

Parece um bom número, mas o fato é que quatro anos atrás as mesmas empresas haviam investido o equivalente a mais que o dobro do custo causado pelo envelhecimento dos bens de capital. Os dados indicam que em 2014 os investimentos caíram em 13 dos 20 setores analisados. Em dois desses setores — papel e celulose e confecção de roupas —, os recursos aplicados foram inferiores ao que é preciso para evitar a obsolescência das máquinas.

Na área de celulose, projetos de ampliação fabril da Suzano e da Fibria foram adiados nos últimos dois anos. No caso da Suzano, a decisão foi motivada por “mudanças no cenário macroeconômico” e pela adoção de “uma política de endividamento mais conservadora”, de acordo com Walter Schalka, presidente da empresa. A Fibria preferiu não fazer comentário.

Tirar o pé dos investimentos é uma reação comum entre as empresas em momentos de crise. Um exemplo recente é o dos Estados Unidos. Em 2009, no auge da crise econômica, as empresas de lá investiram apenas o equivalente ao desgaste dos bens de capital. Em outras palavras, o investimento foi o mínimo exigido para preservar o maquinário.

Desde então, as companhias americanas retomaram o ânimo e, no ano passado, investiram 40% acima do custo estimado do envelhecimento do patrimônio. Ainda é um índice inferior ao das empresas daqui — mas, enquanto nos Estados Unidos os investimentos crescem, no Brasil, encolhem. “Os empresários já não enxergam no mercado brasileiro as boas perspectivas de anos atrás”, diz Fernando Exel, presidente da Economatica. “Por isso os investimentos em bens de capital têm diminuído.”

O principal problema é que a redução dos investimentos e da renovação das máquinas deve resultar em queda na eficiência mais adiante. Isso significa que a baixa produtividade — um problema crônico da economia brasileira — tende a ficar pior. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, a idade média do parque fabril nacional é de 15 anos, mais do que o dobro da idade dos equipamentos de um país altamente produtivo, como a Alemanha.

Aqui por ora não há expectativa de reversão do cenário de investimentos minguados. “A situação piora quando se consideram os efeitos da Operação Lava-Jato na cadeia de petróleo e gás, que responde por quase metade do investimento industrial no país”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

A esperança é que o dolorido ajuste posto em curso pela equipe econômica do governo venha a dar frutos adiante. O fim das intervenções no mercado de câmbio, por exemplo, permitiu que ocorresse a desvalorização do real, o que ajuda parte da indústria a se tornar mais competitiva.

A Termomecânica, metalúrgica do ABC paulista, espera exportar até 20% mais neste ano. Para aumentar a produção, deve investir 50 milhões de reais na instalação de novas máquinas. “Temos de buscar as exportações para crescer, já que o mercado interno está retraindo”, diz Regina Celi Venâncio, presidente da empresa. Por enquanto, ela ainda é uma exceção.

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