Revista Exame

Apple e Microsoft contra o Android

A Apple lançou o iPhone 5c, seu smartphone popular, e a Microsoft comprou a Nokia. O objetivo é o mesmo: enfrentar o Google


	Tim Cook, da Apple: o iPhone 5C custará 100 dólares a menos do que a versão tradicional do aparelho
 (Justin Sullivan/Getty Images)

Tim Cook, da Apple: o iPhone 5C custará 100 dólares a menos do que a versão tradicional do aparelho (Justin Sullivan/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2013 às 06h00.

São Paulo - A Apple, maior empresa de tecnologia do mundo em valor de mercado, está tendo um déjà vu nada prazeroso. No fim dos anos 70, a companhia lançou o primeiro computador pessoal vendido em grande escala, o Apple II. Ele tinha um sistema operacional integrado ao hardware e definiu o padrão tecnológico dos PCs.

Mas, em menos de dez anos, a Apple foi superada pelo modelo de negócios da Microsoft. Em vez de mirar a produção de computadores, Bill Gates passou a licenciar seu sistema operacional, o Windows, para fabricantes de PCs. Assim, conquistou 90% do mercado nos anos 90.

Depois de três décadas, o mesmo filme parece se repetir com o produto do momento, os smartphones. Em 2007, a Apple reinventou o mercado de celulares ao lançar o iPhone. O aparelho trazia um sistema operacional próprio da Apple. As vendas cresceram até a empresa atingir um máximo de 20% das vendas mundiais de smartphones em meados de 2012.

O problema, para a Apple, é que o Google resolveu entrar com força nesse mercado e adotou a mesma estratégia da Microsoft nos anos 80. Criou um sistema operacional, o Android, e liberou seu uso para fabricantes de celulares. Resultado: hoje, de cada dez smart­phones vendidos no mundo, oito usam o software do Google. A Apple, por sua vez, vem perdendo participação e agora responde por uma fatia de 14% das vendas de smartphones.

Para virar esse jogo, Tim Cook, o sucessor de Steve Jobs, decidiu tornar o iPhone um produto mais acessível — uma tentativa de aumentar as vendas em mercados emergentes. Na segunda semana de setembro, Cook lançou o esperado iPhone 5c, versão mais barata do smartphone da Apple.

Nos Estados Unidos, o aparelho desbloqueado custa­rá 549 dólares, 100 dólares a menos do que o iPhone 5s, nova versão do modelo principal, também lançada em setembro. Mas o valor efetivamente pago pelo aparelho poderá ser bem menor, pelo menos nos Estados Unidos. Com um contrato de uma operadora americana, na prática será possível comprar um iPhone 5C por apenas 99 dólares. 

A questão está fora dos Estados Unidos. Em mercados emergentes, como Brasil e China, o preço do iPhone 5C ainda será salgado, provavelmente próximo aos 549 dólares propostos pela Apple. E isso é um problema. Um relatório divulgado no fim de agosto pela consultoria americana de tecnologia IDC diz que o mercado global de smart­phones em 2013 crescerá 40% em relação a 2012.


Esse aumento será sustentado principalmente pela venda de aparelhos inferiores a 400 dólares em mercados emergentes. “O certo é que a Apple não terá mais os lucros estrondosos que marcaram os lançamentos da empresa no passado”, diz o analista Hyoun Park, da consultoria Nucleus Research, de Boston.

Novo fôlego da Nokia

O sofrimento da Apple com o avanço do Google, no entanto, ainda é pequeno quando comparado ao da finlandesa Nokia, ex-gigante do mercado de celulares. Depois de dominar mais de 50% do mercado de aparelhos mais sofisticados na metade da década de 2000, a Nokia foi atropelada pelos concorrentes.

Em 2012, as vendas da companhia europeia caíram 22%, e o lucro recuou 26%. Sem perspectiva de melhora no futuro próximo, a solução da Nokia foi vender sua divisão de celulares para a Microsoft no início de setembro por 7,2 bilhões de dólares.

“Emocionalmente, foi a decisão mais difícil da minha vida”, disse o finlandês Risto Siilasmaa, presidente do conselho de administração da Nokia, durante uma coletiva de imprensa. “É preciso fazer um grande investimento para convencer as pessoas a mudar de celular. É evidente que a Nokia, sozinha, não tinha os recursos necessários para isso.” 

O americano Stephen Elop, que presidia a Nokia, foi para a Microsoft. Elop é apontado como um dos fortes candidatos a substituir Steve Ballmer, atual presidente da Microsoft, que anunciou em agosto que deixará a companhia. Para os analistas, se o favoritismo de Elop se confirmar, será uma boa mensagem ao mercado.

De certa forma, a Microsoft reforçará seu novo foco em smartphones, mercado em que a empresa tem participação de míseros 3%. A tarefa mais difícil do novo presidente — seja ele quem for — será justamente entrar na briga hoje restrita à Apple e ao Google. “A Microsoft pode, se tudo der certo para ela, chegar a uma fatia de 10% das vendas mundiais até 2017”, diz Carolina Milanesi, vice-presidente da consultoria de tecnologia Gartner.

Como mostram os exemplos das últimas três décadas, o volátil setor de tecnologia não permite bancar nenhuma previsão de longo prazo. Mas hoje é inegável que a Microsoft ainda está bem longe de reencontrar seu caminho para o topo.

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