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Terapias de choque

Receber descargas elétricas no corpo e no rosto para ficar em forma e mais jovem. Essa é a mais nova (e dolorida) promessa da indústria da beleza

No corpo: eletrodos acionam até 300 músculos em treinos curtos, ajudando na tonificação | Divulgação /  (Divulgação/Divulgação)

No corpo: eletrodos acionam até 300 músculos em treinos curtos, ajudando na tonificação | Divulgação / (Divulgação/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 26 de março de 2020 às 05h15.

Última atualização em 26 de março de 2020 às 05h15.

Você estaria disposto a treinar com um colete que libera correntes elétricas nos músculos para entrar em forma ou a receber descargas elétricas no rosto para ficar mais jovem?

Acredite, cada vez mais brasileiros estão dizendo sim a esses procedimentos. As primeiras marcas de EMS, ou eletroestimulação muscular, a desembarcar no Brasil foram as alemãs Miha e XBody, há cerca de quatro anos, com uma promessa atraente: 300 músculos acionados — tanto os mais superficiais quanto os mais profundos — em apenas 20 minutos de atividade física com os eletrodos, o que seria equivalente a 3 horas de malhação convencional.

Além de curtos, os treinos devem ser realizados apenas de uma a ­duas vezes por semana. A contrapartida? Embora nenhuma das marcas utilize essa palavra, é preciso treinar recebendo pequenos choques. Talvez esse detalhe tenha feito com que o negócio demorasse a engrenar. Em 2016, a Les Cinq Gym, academia-butique nos Jardins, bairro paulistano, era a única a operar o XBody­ no Brasil.

“Desde o início tive certeza que agradaria aos alunos por ser um tipo de treino versátil. É ótimo para potencializar os resultados, para trabalhar áreas específicas do corpo que a pessoa tem dificuldade em exercitar ou tem limitação de movimento, para mudar o estímulo em quem treina há muito tempo e até para aqueles alunos com pouco tempo disponível”, explica Rodrigo Sangion, personal trainer e sócio da Les Cinq.

Caso você esteja se perguntando quão dolorosos são esses 20 minutos, nós testamos e respondemos: nem tanto. Para começo de conversa, você é equipado com uma roupa especial bem justa ao corpo (que auxilia a condução de energia), colete e cintas com eletrodos, tudo umidificado. O profissional responsável por operar o aparelho faz, então, testes de potência e de limite da dor para adaptar a carga elétrica ao condicionamento de cada um.

O aluno começa a receber as descargas enquanto realiza a série de exercícios funcionais adaptados a seu objetivo — existem protocolos metabólicos para queima de gordura e tonificação muscular. O estímulo é diferente de tudo que você já experimentou. Você vai suar, ficar exausto, terá algum desconforto, mas as sensações (algo mais próximo de uma quase cãibra do que de dor) são suportáveis e, com o tempo, é possível até se acostumar com os choques.

No rosto: ponteira com dois polos elétricos promete o efeito estético de um lifting sem agulhas | Divulgação

Tantos se convenceram de que o benefício é maior do que o custo físico e financeiro — cada sessão custa cerca de 160 reais — que hoje a XBody e a Miha, juntas, já estão em mais de 300 estabelecimentos, entre estúdios de EMS, academias e clínicas médicas. Em 2020, as duas marcas alemãs vão disputar espaço com uma terceira concorrente, a espanhola Wiemspro, primeira a ter sistema wireless, ou seja, o aluno não precisará ficar conectado a cabos para receber os choques. ]

O CEO da Wiemspro, Xavier Iglesias, explica que, para se diferenciar, a marca apostará num formato de negócio voltado, além do fitness, para atletas amadores e de alto desempenho. “Queremos conquistar o mercado de esporte com treinos que misturem técnicas de funcional, luta, força e estímulo metabólico”, explica Iglesias.

No esporte profissional, nomes como o tenista espanhol Rafael Nadal, o atleta americano Usain Bolt e o jogador Gabriel Barbosa, o Gabigol, já se renderam ao método, uma vez que é possível reproduzir o gesto motor de cada esporte com a potência extra do aparelho para prevenir lesões.

No fim de 2019, outra academia paulistana apostou na eletroestimulação para atrair clientes, mas, dessa vez, os interessados em tonificar o rosto em vez do corpo.  A Academia da Face, que abriu as portas no Shopping Villa Lobos, em São Paulo, no fim de 2019, utiliza a EMS para promover a contração seriada dos mais de 40 músculos do rosto.

“Quase ninguém lembra que os músculos faciais também envelhecem e precisam ser exercitados”, diz Alberto Cordeiro, dermatologista e proprietário da Academia da Face. Ele garante que protocolos como o Electric Face, que associa eletroestimulação dos músculos, manobras de drenagem linfática e aparelhos para hidratação, podem proporcionar resultados parecidos com o de um lifting sem agulhas, realizados uma vez por semana. Por 279 reais, você se submete a uma sessão de limpeza de pele, massagens e outros preparos, além dos choques, é claro.

Aqui, o treino é mais passivo do que na EMS para o corpo: a terapeuta utiliza uma ponteira com dois polos elétricos para que a musculação da face aconteça. A sensação de formigamento generalizado, as contrações involuntárias de boca e olhos e as dores em pontos específicos do rosto podem desanimar os vaidosos de plantão. Mas o resultado de rosto menos inchado e pele mais firme, de até cinco dias, compensa. Clínicas e academias, como se sabe, estão fechadas devido ao surto de coronavírus. Aos interessados, os choques, por ora, são promessa de dor e recompensa para o futuro.

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