Revista Exame

Carta de EXAME | Temas suaves, temas duros

Num momento em que o Brasil precisa promover reformas difíceis as pessoas e as empresas devem fortalecer o debate sobre os valores a construir

 (Germano Lüders/Exame)

(Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 25 de abril de 2019 às 05h14.

Última atualização em 24 de julho de 2019 às 17h23.

Nos últimos meses, a atenção dos brasileiros tem sido ocupada em sua maior parte pelos temas “duros”. Faz todo o sentido. Vivemos um momento de passar o país a limpo, de implementar reformas que permitam tirar a economia do atoleiro. Sem isso, não há muito o que construir. Mas é preciso ter sempre em mente que essa agenda é apenas parte do caminho para o crescimento. A outra parte vem dos temas “suaves” — a programação que faz a máquina rodar e que cria habilidades até para formar pessoas capazes de lidar com os temas “duros”.

Por isso, é imperioso que, ao lado das discussões sobre como voltar ao caminho da construção de valor, as pessoas e as empresas fortaleçam o debate sobre os valores a construir. Isso passa, é claro, pela educação. De preferência, a partir da mais tenra idade possível. É animador que alguns grupos educacionais estejam se voltando agora para a oferta de ensino fundamental e médio com preços atraentes para a classe C, conforme mostra a reportagem Quero o lugar do Estado.

As mensalidades, de 500 a 700 reais, dão uma alternativa aos pais que procuram para seus filhos um ambiente de mais segurança e melhor aprendizado, pelo menos enquanto o ensino público e gratuito não atingir o nível de que o país precisa. É um negócio com viés social forte, e é um negócio promissor: de acordo com a consultoria EY, cerca de 1 milhão de crianças deverão migrar para escolas privadas nos próximos cinco anos.

A ênfase nos temas “suaves” também inclui o treinamento da força de trabalho para um tempo em que a tecnologia substitui cada vez mais ocupações humanas. Bem realizado, esse treinamento poderia acrescentar 1 ponto à taxa de crescimento do PIB do Brasil por ano, segundo a consultoria Accenture, conforme mostramos na reportagem Onde as máquinas (ainda) não tem vez. Trata-se de programas de aprimoramento de habilidades como raciocínio complexo, criatividade e inteligência socioemocional.

Várias empresas já perceberam que esse investimento promove resultados melhores em vendas, gestão e produtividade. Elas estão de acordo com uma recomendação do Fórum Econômico Mundial, que prega investimentos em gestão de pessoas, negociação e resolução de problemas complexos. Melhor: essas habilidades têm uma enorme propensão a contaminar positivamente outros aspectos da vida pessoal, da cidadania às relações conjugais.

Por último, o tema “suave” por excelência, aquele que de certa forma embasa todos os demais, é o assunto da reportagem de capa desta edição. Propósito não é apenas um objetivo de vida, é uma fonte de ânimo. Como dizia o psiquiatra austríaco Viktor Frankl, um sobrevivente de campos de concentração nazistas, mesmo nas piores crises as pessoas sempre têm a liberdade de escolher como reagir às circunstâncias. Está aí uma lição essencial para lidar com os temas “duros” nestes tempos ainda duros.

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