Revista Exame

Falco está sob fogo cruzado na Oi

À frente da Oi, o quarto maior grupo privado brasileiro, o executivo Luiz Eduardo Falco enfrenta um dos grandes desafios de sua carreira: permanecer no cargo

Luiz Eduardo Falco, da OI: 2010 foi um ano difícil para ele e para a empresa (Andre Dusek/AE)

Luiz Eduardo Falco, da OI: 2010 foi um ano difícil para ele e para a empresa (Andre Dusek/AE)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de março de 2011 às 06h00.

Aos 50 anos de idade, Luiz Eduardo Falco pode se orgulhar de ter chegado ao topo de sua carreira. Engenheiro de formação, ele deixou a vice-presidência de marketing da TAM, em 2001, para assumir o que até então não passava de um projeto embrionário na Telemar pós-privatização. Foi Falco quem coordenou a entrada da operadora no disputado mercado de telefonia celular em 2003 e a levou à atual quarta posição do setor, com 39 milhões de clientes.

Sua estreia no mundo das telecomunicações foi considerada tão bem-sucedida que lhe rendeu a presidência da Telemar em 2006. Foi de Falco, também, a decisão de mudar o nome da companhia para Oi no ano seguinte, criando uma das marcas mais valiosas do país — 425 milhões de reais, segundo a consultoria Interbrands. Por fim, após a aquisição da Brasil Telecom, em abril de 2008, o executivo paulista passou a comandar o quarto maior grupo privado brasileiro, com um faturamento de 46 bilhões de reais e mais de 60 milhões de clientes. À frente desse colosso, Falco tornou-se um dos executivos mais bem pagos do Brasil, com salário anual estimado em 2,5 milhões de reais, o que não incluiria os bônus por desempenho.

Agora, passada a fase mais espinhosa de um longo e penoso processo de integração da Oi com a Brasil Telecom, Falco enfrenta um novo desafio: manter-se no cargo em meio ao fogo cruzado das especulações em torno de sua substituição iminente. Em janeiro, os controladores da Oi teriam contratado a empresa de headhunter Russell Reynolds para encontrar um substituto para Falco até o final de dezembro, quando termina seu contrato. (Oficialmente, a Oi não nega nem confirma a contratação da empresa e, procurada por EXAME, a Russell Reynolds não se manifestou.) “Falco é um executivo muito talentoso, mas não há mais espaço para ele na Oi. É hora de termos sangue novo no comando”, diz um dos conselheiros da companhia, que prefere não ter seu nome revelado. 

O descontentamento dos controladores da Oi (um bloco formado por AG Telecom, La Fonte Telecom, Fundação Atlântico, BNDES, Previ, Funcef e Petros) com o desempenho do executivo já estaria se arrastando há pelo menos um ano, quando a integração com a Brasil Telecom entrou em sua fase mais crítica. Para reduzir rapidamente o nível de endividamento da Oi, na casa dos 22 bilhões de reais, e acelerar o ganho com sinergias, estimado em 1 bilhão, Falco havia dado início, ainda em 2009, a uma cruzada para acelerar ao máximo o processo.

De acordo com seu plano original, tudo estaria concluído em apenas seis meses. A realidade, porém, atrasou um bocado seus planos. Sistemas complexos de cobrança, medição de serviço e gerenciamento de rede, além de discrepâncias entre pacotes e promoções das duas operadoras, fizeram com que a integração com a Brasil Telecom consumisse mais de um ano, paralisando o crescimento da Oi nesse período. Diante da necessidade de continuar gerando caixa — e remunerando os acionistas —, a operadora diminuiu em 30% os investimentos em infraestrutura, para 5 bilhões de reais, comprometendo sua expansão ao longo de 2010. Nesse período, a Oi perdeu participação em todos os mercados em que atua.


Em telefonia móvel, foi a operadora que menos cresceu entre as grandes, conquistando apenas 3,2 milhões de novos clientes — juntas, Vivo, Claro e TIM ganharam quase 26 milhões de usuários. Em telefonia fixa, foi a única companhia a registrar perda de clientes. Foram 1,3 milhão de linhas a menos em 2010, segundo dados da Anatel, enquanto o mercado de telefonia fixa como um todo crescia 1,2%. Por fim, a qualidade do serviço caiu. No ano passado, a Oi foi a campeã de reclamações dos consumidores, com 8,9% de todos os chamados feitos nos 24 Procons do país entre janeiro e agosto. O início de 2011 também foi turbulento. Segundo executivos próximos à operadora, as receitas no mês de janeiro ficaram 70 milhões de reais abaixo do previsto.

Sinais de desgaste

Internamente, os primeiros sinais de que Falco estaria perdendo força surgiram em setembro. Na época, ficou estabelecido que todas as decisões estratégicas da Oi teriam de passar pelo crivo de três comitês — finanças, remuneração e RH, e riscos — formados por representantes dos acionistas. “Ali já estava claro que o poder de Falco estava bastante esvaziado”, diz um executivo próximo à Oi. Em dezembro, o irlandês James Meaney, que durante dez anos presidiu a Contax, maior empresa de call center do país, foi escolhido para ocupar uma recém-criada diretoria de operações da Oi, abaixo de Falco. A partir do dia 1o de março, caberá a Meaney a responsabilidade de cuidar de oito diretorias, como vendas, tecnologia e redes. Sob o comando de Falco ficarão outras oito áreas, como finanças, relações institucionais e auditoria. A divisão das tarefas provocou rumores de que o próprio Meaney fosse candidato ao cargo de Falco.

Não é a primeira vez que a discussão em torno da permanência de Falco à frente da Oi se torna pública. Em setembro de 2009, ele chegou a posar para fotos ao lado de Otávio Azevedo, presidente da AG Telecom, e Pedro Jereissati, representante da La Fonte, para tentar diminuir a boataria sobre sua eventual saída. O que chama a atenção agora é que oficialmente a empresa — e seus controladores — não tem feito nenhum esforço para defendê-lo publicamente.

“O contrato de Falco vai até dezembro”, limitou-se a dizer um representante dos acionistas. “Esses rumores só prejudicam o trabalho que ele tem de fazer à frente da Oi.” Segundo EXAME apurou, tanto Otávio Azevedo quanto Pedro Jereissati já teriam confidenciado a pessoas próximas o desejo de substituir Falco no comando da Oi. A Portugal Telecom, que acertou sua entrada no bloco de controle da companhia no início de fevereiro, também estaria pressionando para a troca do executivo.

Para a PT, Falco teria a imagem desgastada demais para convencer os acionistas minoritários a seguir com a reestruturação societária da Oi, que tem como objetivo transformar as atuais seis classes de ações em apenas duas. Nos próximos meses, ficará claro se o legado que Falco construiu na Oi durante uma década será suficiente — ou não — para mantê-lo na presidência de uma das maiores empresas brasileiras.

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