Revista Exame

Só falta achar um comprador para a Casa&Vídeo

Após uma reestruturação que levou um ano, a rede varejista Casa&Vídeo sai da maior crise de sua história — e começa a atrair o interesse de concorrentes

Carvalho, presidente da Casa&Video: "Decidi que era a minha vez de dar uma grande tacada" (Germando Lüders/EXAME.com)

Carvalho, presidente da Casa&Video: "Decidi que era a minha vez de dar uma grande tacada" (Germando Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h40.

Última atualização em 22 de dezembro de 2018 às 04h21.

O advogado carioca Fábio Carvalho dedicou os últimos seis anos a salvar empresas à beira da falência — ou buscar compradores para o que restou delas. Foi assim quando participou pelo escritório de advocacia paulista Castro, Barros do processo de recuperação judicial da Varig, em 2005, que resultou na venda das operações para a Varig Log um ano mais tarde. Ou quando coordenou, como diretor da consultoria Alvarez & Marsal, especializada na reestruturação de empresas, a venda dos ativos do banco americano Lehman Brothers no Brasil ao BTG, no fim de 2008.

Sua missão mais recente pela mesma consultoria, na varejista fluminense Casa&Vídeo, uma das maiores redes regionais do país, parecia seguir o mesmo roteiro. Em janeiro de 2009, Carvalho foi contratado para montar um plano de reestruturação na recuperação judicial da companhia, iniciada após a prisão de seus donos, Luigi e Attílio Milone, sob a acusação de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e sonegação de impostos. Como manda a cartilha desse tipo de processo, a saída era renegociar dívidas e vender ativos. Mas, nesse caso, o próprio Carvalho foi o comprador (os antigos controladores, que aguardam julgamento, ficaram com as oito lojas da rede fora do Rio de Janeiro, separadas em outra razão social). “Decidi que era a minha vez de dar uma grande tacada”, diz Carvalho, que, em novembro de 2009, se afastou da Alvarez & Marsal e se tornou presidente da Casa&Vídeo. Aos 33 anos, ele pretende seguir a lógica dos fundos de private equity: comprar a empresa na baixa, arrumar a casa e revender com um bom lucro. “Esse será meu IPO particular”, diz.

Ao se tornar controlador da Casa& Vídeo, Carvalho acelerou o início da reestruturação da rede. Pelo plano de recuperação, aprovado pelos 700 credores em setembro de 2009, as 61 lojas localizadas no Rio de Janeiro passariam para o controle de um fundo de 30 milhões de reais. Para bancar o fundo sozinho, Carvalho tomou um empréstimo de 20 milhões de reais negociado diretamente com o BTG Pactual. “Ele ganhou a confiança entre executivos do BTG na transação do Lehman Brothers e com o plano que traçou para a Casa&Vídeo”, diz um executivo próximo, que preferiu não se identificar.


Boa parte desse dinheiro serviu para ajudar a cobrir o endividamento acumulado no período de crise — um total de 374 milhões de reais em dívidas trabalhistas e pagamentos atrasados com fornecedores e bancos. Cerca de 30 milhões em pendências com funcionários foram quitados a vista logo nos primeiros meses. Outros 130 milhões de reais foram perdoados pelos credores. O pagamento dos restantes 220 milhões de reais foi renegociado e será realizado ao longo de dez anos a partir de 2012 (ainda assim, a empresa tem uma dívida de quatro vezes sua geração de caixa — o dobro da proporção da Lojas Americanas, por exemplo). “O assunto deixou de ser uma preocupação no curto prazo e nos permitiu concentrar os esforços na operação”, diz Carvalho.

Em setembro de 2009, novos executivos começaram a ser contratados — dos 20 diretores atuais, 13 são recém-chegados. Todos os 3 100 funcionários da rede, de diretores a vendedores de lojas, passaram a receber bônus atrelados a metas. Um amplo plano de corte de custos também entrou em execução. Além de congelar novas contratações, todas as áreas passaram por um pente-fino, o que resultou na redução de 40% nas despesas mensais da empresa. Com os resultados, a Casa&Vídeo voltou a ter crédito no mercado. Em julho, captou 40 milhões de reais com uma emissão de debêntures. “Sabíamos que bastava um choque de gestão para ver os resultados”, diz Eduardo Athayde, diretor de distribuição do Banco Prosper, um dos novos credores da Casa&Vídeo.


Expansão

Com a retomada do crédito e o ganho de eficiência, a empresa voltou a investir em crescimento. Seis novas lojas foram inauguradas pela nova administração — todas no Rio de Janeiro. A expansão ajudou a recuperar as vendas, que deverão chegar a 1,3 bilhão de reais em 2010 — 45% mais em relação a 2009. No que depender dos planos de Carvalho, a abertura de novas unidades deve se intensificar. Em julho, ele acertou a compra por 110 milhões de reais dos direitos de uso da marca Casa&Vídeo, que ainda pertenciam à família Milone, fato que restringia seu crescimento em outras regiões do país. “Agora posso levar a Casa&Vídeo para qualquer estado”, diz ele.

Em agosto, a Lojas Americanas apresentou uma proposta formal de compra da Casa&Vídeo. “É uma operação muito similar à nossa e que ampliaria nossa liderança no Rio de Janeiro”, diz Timotheo Barros, diretor financeiro da Lojas Americanas, com vendas de 4,2 bilhões de reais em suas 526 lojas físicas, até setembro de 2010. Segundo EXAME apurou, a oferta feita pela Lojas Americanas foi de cerca de 900 milhões de reais (oficialmente nenhuma das empresas confirma a cifra). Até o fechamento desta edição, porém, o acordo não havia sido fechado. Carvalho, dono de 100% das ações da empresa, como é de praxe nessas situações, afirma não ter pressa de vender a Casa &Vídeo. “Tenho muitas opções, inclusive a de abrir o capital”, diz ele.

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