Reciclagem de lixo em Santana de Parnaíba (SP), parte de projetoda Unilever e do Pão de Açúcar: as empresas devem protagonizar<br />o combate ao desperdício | Fabiano Accorsi /
Da Redação
Publicado em 17 de janeiro de 2019 às 05h06.
Última atualização em 17 de janeiro de 2019 às 05h06.
Não, o mundo do trabalho não caminha para uma rotina mais prazerosa. Em vez disso, o que está no horizonte são “pílulas de lazer”, o aproveitamento de pequenas pausas no dia a dia para criar momentos de felicidade. Também não vamos passear mais; ao contrário, o hábito de pedir comida em domicílio deverá extrapolar para aulas de ginástica e reuniões de trabalho, além, é claro, de jogos e namoros online, que já fazem a geração mais jovem nos Estados Unidos ficar em casa 70% mais tempo do que a média da população.
Esses são dois dos movimentos que devem transformar os negócios e a cultura nos próximos três anos, de acordo com a companhia inglesa de previsão de tendências WGSN. Outros movimentos incluem o esforço para ganhar controle sobre nossos dados pessoais; a bioengenharia; o aumento da importância das tradições locais; a substituição de estruturas verticais por redes de colaboração horizontais; e uma busca mais enfática pela expressão pessoal.
Identificar esse tipo de tendência ajuda a definir investimentos de médio prazo, especialmente num mundo em que as transformações têm se dado em ritmo frenético. A própria busca de tendências mudou. “Até pouco tempo atrás, nosso trabalho era mapear algumas pessoas-chave, identificadas como inovadoras ou influenciadoras”, diz Daniela Dantas, diretora regional da WGSN na América Latina. Hoje, a empresa mapeia comunidades e tribos diretamente. “Não dá para os pesquisadores do Brasil não acompanharem o que está acontecendo nas favelas, por exemplo.” Esse trabalho acontece em 87 países, feito por equipes multidisciplinares. Começa com a captura de expressões na internet e evolui para entrevistas em profundidade. “Há seis anos, a gente identificou o crescimento do feminismo em bolsões de jovens e artistas”, diz Daniela. Partindo dos grandes movimentos, a consultoria estabeleceu sete vetores de transformação para o futuro próximo.
1. A grande cisão econômica
Não chega a ser uma novidade o aumento da desigualdade, mas ela virá acompanhada de um freio no crescimento global. Isso favorece a automação, como forma de cortar custos e baratear os produtos.
2. A polarização demográfica
Também não é segredo que a população mundial está envelhecendo. Mas são idosos diferentes. O termo “gerontolescência” vem ganhando força porque os sessentões e setentões se mantêm ativos e cheios de projetos pessoais.
3. Adaptação às mudanças climáticas
Em tese, a tendência é que haja maior pressão de investidores e consumidores pela responsabilidade ambiental. No Brasil, com uma ampla fatia da população ainda à margem do mercado de consumo, é pouco provável que isso ocorra. De qualquer modo, as empresas precisam ficar de olho nas consequências das mudanças climáticas. A cadeia de café Starbucks, por exemplo, deve investir meio bilhão de dólares em dez anos para pesquisar grãos resistentes à mudança de clima.
4. O combate ao excesso
Se o ritmo de aproveitamento dos recursos naturais do planeta continuar o mesmo, em 2050 precisaremos de 70% mais matéria-prima do que existe na Terra. De um jeito ou de outro, portanto, a contenção do consumo terá de ocorrer. As ações contra o desperdício ainda parecem ser muito incipientes. Mas a consultoria prevê que elas ganharão força. “Talvez não aconteça no próximo ano, como a gente precisa, mas nos próximos cinco, sim”, diz Daniela. O movimento será mais das empresas do que dos consumidores, com ações como a formação de cadeias de parceiros para aproveitar as sobras de produção e a conversão para energias reaproveitáveis.
5. O avanço do “datanomics”
Nos últimos meses tivemos o susto, com a divulgação de diversos casos de mau uso dos dados de usuários de serviços. Segundo a consultoria, “a crescente percepção de que os dados digitais que criamos são uma commodity a ser comprada e vendida vai levar à formação de um mercado de dados”. Um exemplo é a empresa americana Datawallet, uma plataforma em que consumidores vendem suas informações às empresas.
6. A Splinternet
A explosão de microcomunidades e as regulações e restrições de autoridades em vários países estão minando a noção de uma internet global e unificada. Num ambiente de várias redes, a oportunidade é de construção de comunidades, até mesmo ecossistemas próprios de comércio.
7. O novo poder da China
Quem pensa na China como a indústria do mundo está defasado. Em inúmeros campos, o país se colocou à frente no jogo da inovação. Por isso, quem quiser entender para onde o mundo caminha precisa ter um olhar especial para a China.