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Da Redação
Publicado em 29 de junho de 2011 às 19h38.
Você já ouviu falar de Bento Rodrigues? Provavelmente não. Trata-se de um arraial de 578 habitantes fundado durante o ciclo do ouro e mais antigo do que Mariana, da qual é subdistrito. Essa vila isolada nas montanhas de Minas Gerais era a terra do já teve: lá já teve banda, já teve congada, já teve isso, já teve aquilo...
Parada no tempo, Bento Rodrigues viu a higiene chegar a níveis críticos, a verminose entre a criançada só aumentar, a evasão escolar se elevar e os jovens com pouca ou nenhuma perspectiva de emprego. A cada dia a população perdia um pouco mais de sua dignidade e identidade cultural. Bento Rodrigues parecia condenada a desaparecer.
Essa história mudou de rumo no fim de 1996, quando técnicos e executivos da Samarco Mineração fizeram contato com o povoado. A empresa se preparava para construir uma barragem e se deu conta de que precisava dialogar com a comunidade, da qual é vizinha. "Nós nos aproximamos, conhecemos os valores e as necessidades da população e juntos elaboramos um programa de resgate da cidadania", diz Sérgio José Leite Dias, gerente de meio ambiente da Samarco.
Assim nasceu o Programa Popular de Educação Ambiental. Por meio dele, nos últimos cinco anos, entre outras ações, a Samarco construiu um sistema de tratamento de água para os moradores. As professoras da escola municipal receberam assessoria psicopedagógica. Resultado: a evasão escolar caiu de 30% para 9% e as doenças parasitárias diminuíram drasticamente.
"Quem não encontra trabalho na própria Samarco pode agora abandonar o garimpo e trabalhar com hortaliças", diz Antônio Alves, um dos líderes comunitários de Bento Rodrigues. O refeitório da mina da empresa garante a demanda.
Aos poucos, os moradores da localidade também estão se tornando mais conscientes da importância do meio ambiente. As queimadas foram reduzidas de oito para duas por ano e as nascentes estão sendo preservadas. Nisso eles seguem o exemplo da empresa. No passado, a Samarco dizimou a fauna e a flora que cercava uma mina já esgotada.
"Havia ali 350 espécies de pássaro", diz José Luciano Duarte Penido, presidente da empresa. "Vamos trazer todas de volta." Nos últimos quatro anos, a Samarco investiu 65 milhões de dólares num plano de reabilitação ambiental. Parte do plano é projeto de Burle Marx e restabelece a vegetação antiga. Cada espécie replantada contribui para atrair um pássaro diferente. "Temos um bom bioindicador: cerca de 250 espécies já reapareceram", diz Penido.
Penido é atualmente o presidente do Voluntários das Gerais, um programa da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Cerca de 30% do seu tempo é gasto nessa atividade. Em outubro ele fez, em Belo Horizonte e Montes Claros, duas de suas incontáveis palestras sobre responsabilidade social corporativa. As palestras são uma das armas de Penido para, até 2005, colocar 2,5 milhões de minei ros no Voluntários das Gerais.
"Todos nós somos cidadãos e temos de assumir a responsabilidade de transformar para melhor a sociedade em que vivemos. Basta colocar a competência de cada um a serviço dela", diz ele.
Criado em 1999, o Voluntários das Gerais foi inspirado pelo programa de voluntariado corporativo da Samarco. Dos pouco mais de 1 200 funcionários da empresa, cerca de 350 são voluntários. É gente como os mecânicos Benedito Alves Ferreira e Amauri Luciano Ferreira. Há cerca de dois anos, Amauri percebeu que o ribeirão do Carmo, em Mariana, havia se transformado num foco de problemas para a saúde da população ribeirinha e deu a idéia de criar o Programa Limpa Carmo.
Benedito topou, os dois reuniram os amigos e passaram a cuidar de cerca de 4 quilômetros do ribeirão do Carmo, de onde já retiraram, com ajuda da Samarco e da prefeitura de Mariana, 670 toneladas de lixo.
"Visitamos os ribeirinhos, damos palestras e distribuímos material nas escolas", diz Benedito. Em outra frente de atuação, funcionários da Samarco formam eletricistas e soldadores, dão aulas de balé e inglês e lecionam em cursinhos pré-vestibulares gratuitos. Outros administram asilos e escolas da comunidade.
Os programas sociais da Samarco, com verba anual de 1,5 milhão de reais, também incluem a saúde e a vida cultural da população dos locais onde a companhia atua. Ela é uma das patrocinadoras da Fundação Projeto Sorria, que desde 1991 dá assistência odontológica a 4 000 crianças carentes de Ouro Preto. "Nosso índice de cáries atual já é menor do que o preconizado pela ONU para 2010", diz o dentista Aluísio Drummond, presidente da Fundação Projeto Sorria.
Graças a parcerias como essa, Ouro Preto, patrimônio da humanidade, tem crianças mais saudáveis. E Mariana, mais artistas ou gente antenada em música, poesia, teatro, cinema, literatura e artes plásticas. O Programa de Integração Cultural (PIC), desenvolvido pela Samarco juntamente com o Sesi e a Vale do Rio Doce, cuida disso.
Sete anos atrás Mariana era quase um deserto cultural. Hoje, graças em parte ao PIC, a cidade é dona de uma das boas agendas culturais de Minas Gerais. Só no ano passado o programa levou cultura a 21 000 crianças e adultos de Minas Gerais.