Revista Exame

Apostar contra as ações pode ser boa estratégia

Com a queda da bolsa, há cada vez mais fundos que ganham dinheiro apostando na baixa das ações. Por que seus gestores estão vendendo papéis de empresas voltadas para o consumo interno agora

Kemmelmeier, da Opus (à esq.), e Araújo, da Brookfield: gestores de alguns dos fundos com as maiores posições vendidas do mercado (Marcelo Correa/EXAME.com)

Kemmelmeier, da Opus (à esq.), e Araújo, da Brookfield: gestores de alguns dos fundos com as maiores posições vendidas do mercado (Marcelo Correa/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2013 às 19h32.

São Paulo - Na eterna luta entre touros e ursos, não resta dúvida de que os mais populares são os primeiros. Para a maioria, tudo está bem quando ações, imóveis e outras aplicações valorizam.

É natural que seja assim, já que preços em alta, ao menos em tese, são a tradução financeira de um bom momento da economia como um todo. Mas algumas das histórias mais impressionantes do mercado ocorreram quando os investidores fizeram justamente o contrário, e apostaram na derrocada de ações, moe­das e títulos de renda fixa.

Foi por causa de uma aposta pesada contra a libra esterlina que o investidor George Soros passou a ser chamado de “o homem que quebrou o Banco da Inglaterra”, em 1992. As operações, estima-se, renderam um ganho de 1 bilhão de libras.

Em 2007, o americano John Paulson — então um desconhecido gestor de fundos de ­hedge — ganhou o maior bônus da história de Wall Street, de 3,5 bilhões de dólares. Seu fundo rendeu 590% naquele ano, ao apostar na desvalorização de títulos ligados a imóveis.

Quando esse mercado começou a ruir, o que precipitou a crise de 2008, Paulson fez fortuna (depois disso, perdeu dinheiro, mas sua fama de vidente continua).

Na Bovespa, era raro encontrar investidores “do contra” até poucos anos atrás. Com a bolsa em alta, a maioria dos gestores de fundos operava do jeito tradicional, comprando ações que, esperava-se, valorizariam. Mas, como se sabe, tem sido muito difícil ganhar dinheiro desse jeito por aqui — por quatro anos seguidos, a Bovespa andou de lado.

Por isso, muitos investidores estão mudando de estratégia. Os touros estão dando lugar aos ursos. Os gestores brasileiros nunca foram tão pessimistas. Um levantamento feito pela consultoria Economática mostra que as posições “vendidas” dos fundos somavam 23 bilhões de reais em junho, último dado disponível.

É quase o triplo do volume do início de 2010 — e, por enquanto, a estratégia tem compensado. Num ano em que o Ibovespa caiu 15% e o IBrX, 7%, 15 dos 20 maiores fundos vendidos do mercado estão no azul. Diz-se que uma posição é vendida quando os investidores apostam na desvalorização de uma ação.

Esses gestores ganham dinheiro alugando ações de outros investidores. Por meio das corretoras, encontram quem esteja disposto a emprestar seus papéis recebendo um valor fixo mensal. Os gestores, então, vendem esses papéis na bolsa e recebem o valor correspondente.


Quando o contrato de aluguel termina, recompram as ações e devolvem aos investidores. O objetivo é ganhar na diferença, vendendo na alta e re­comprando na baixa. Nos últimos meses, muitos gestores do contra montaram operações para vender papéis de empresas ligadas ao consumo interno.

“As companhias do varejo claramente sofreram com a deterioração da econo­mia, algo que ainda deve durar um tem­po”, diz Eduardo Kemmelmeier, chefe da área de renda variável da gestora Opus, que tem dois fundos na lista dos mais vendidos da Economática — um rendeu 5% e o outro 9% em 2013.

Hoje, ele também aposta na desvalorização das ações da Petrobras e da siderúrgica Gerdau, que subiram em agosto — na opinião dele, acima do razoável. 

Alto risco

Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos e na Europa, onde há dezenas de gestores cuja estratégia é operar sempre vendido, aqui, mesmo os gestores de fundos mais pessimistas costumam manter posições compradas na carteira. A gestora Brookfield é um exemplo.

“Algumas empresas do setor elétrico caíram demais nos últimos meses”, diz Paulo Bruno Araújo, da Brookfield, que tem Celesc e Light na carteira. Em compensação, ele aposta na queda de papéis como os da fabricante de cigarros Souza Cruz e os da companhia de bebidas Ambev

Apostar contra uma ação é uma estratégia de altíssimo risco. Todo gestor do contra tem medo de sofrer o chamado short squeeze: isso ocorre quando muitos investidores precisam comprar, ao mesmo tempo, ações de alguma empresa na bolsa para devolvê-las aos donos que as alugaram tempos atrás.

A corrida costuma fazer os papéis valorizar e, assim, os fundos vendidos perdem dinheiro. Foi o que ocorreu com as ações da companhia de comércio eletrônico B2W, que subiram 45% nos primeiros dez dias de julho.

Mas os especialistas concordam que, apesar dos riscos, apostar contra as ações ainda pode ser uma das melhores oportunidades para ganhar dinheiro na Bovespa hoje. Os touros podem ser populares — mas, no Brasil, estão perdendo a briga.

Acompanhe tudo sobre:AçõesAmbevaplicacoes-financeirasB3Bebidasbolsas-de-valoresEconomáticaEdição 1048EmpresáriosEmpresasEmpresas abertasEmpresas belgasEmpresas inglesasFundos de investimentoFundos hedgegeorge-sorosGestores de fundosgrandes-investidoresJohn PaulsonMercado financeirorenda-fixaSouza Cruz

Mais de Revista Exame

Aprenda a receber convidados com muito estilo

Direto do forno: as novidades na cena gastronômica

"Conseguimos equilibrar sustentabilidade e preço", diz CEO da Riachuelo

A festa antes da festa: escolha os looks certos para o Réveillon