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André Jankavski
Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 05h42.
Última atualização em 31 de janeiro de 2019 às 05h42.
Primeira mulher eleita governadora da região metropolitana de Tóquio, há dois anos, a ex-apresentadora de TV Yuriko Koike vem encarando um desafio que poucos políticos no mundo têm a oportunidade de enfrentar: administrar a sede de uma edição dos Jogos Olímpicos. Em 2020, os olhos do mundo estarão voltados para a capital japonesa, e Yuriko está ciente disso. Entre seus principais desafios está o controle dos custos, que já estouraram em duas vezes a expectativa inicial de 7 bilhões de dólares (alguma semelhança com o Brasil?).
Além disso, há a preocupação de criar uma estrutura que comporte os 4,5 milhões de turistas esperados para o evento sem atrapalhar a vida dos 30 milhões de pessoas que vivem na região da Grande Tóquio. Dessa maneira, a governadora pretende que, após os Jogos, Tóquio seja reconhecida como um modelo a ser copiado. E o sucesso da Olimpíada pode significar o sucesso de Yuriko: rival do primeiro-ministro Shinzo Abe, ela é vista no Japão como uma potencial substituta do atual premiê no futuro.
Como está a preparação para os Jogos Olímpicos? O que Tóquio pretende mostrar ao resto do mundo em 2020?
Os preparativos para Tóquio 2020 estão indo bem. Nas recentes revisões do projeto feitas pelo Comite Olímpico Internacional, a velocidade das obras foi avaliada positivamente. Para nós, a Olimpíada é uma chance inigualável de ter o mundo focado em Tóquio. Queremos aproveitar o apelo para mostrar Tóquio ao mundo. Também é uma vitrine para apresentar um modelo de cidade sustentável. Outro foco são os Jogos Paralímpicos. Para nós, estes serão os “Jogos da Recuperação e da Construção”, pois 2020 marcará dez anos do grande terremoto que atingiu o leste do Japão. Tivemos um grande apoio de vários países na época. Agora, eu gostaria de mostrar ao mundo toda a nossa gratidão.
O custo associado aos Jogos Olímpicos mais do que dobrou em relação à estimativa inicial. O que aconteceu?
Um de nossos maiores esforços é reduzir essa conta. Quando assumi o governo [em 2016], os Jogos estavam orçados entre 18 bilhões e 27 bilhões de dólares [a promessa inicial, em 2013, havia sido de 7 bilhões de dólares de gastos]. Porém, após várias reuniões com o governo nacional e o comitê organizador, chegamos a um acordo para um teto de 14 bilhões. Depois, conseguimos economizar mais 1,3 bilhão de dólares. Nossa meta é continuar de olho no orçamento até o início dos Jogos. Claro que estamos observando também o sucesso do evento e o desenvolvimento de legados. Portanto, estamos nos esforçando para verificar o que é necessário para cumprir com as responsabilidades.
Algumas obras estão enfrentando atrasos, de acordo com o planejamento inicial. Quais são os motivos?
Tivemos problemas como a identificação de solo poluído em algumas obras. Por isso, alguns dos planos de construção foram adiados. Mesmo assim, garanto que tudo estará pronto até a abertura dos eventos-teste. Colaborarei pessoalmente para ter certeza de que os preparativos estarão completos até lá.
Um dos problemas enfrentados pelas cidades-sede das Olimpíadas é a falta de legado pós-evento. O que Tóquio fará para evitar isso?
Não queremos que os Jogos sejam um evento temporário, mas que deixem um legado duradouro para a população de Tóquio. A realização da Olimpíada precisa desenvolver a cidade em todos os campos, melhorando a qualidade de vida dos cidadãos e auxiliando o crescimento sustentável dos municípios do entorno. Os legados dos últimos Jogos Olímpicos em Tóquio, realizados em 1964, concentraram-se na infraestrutura urbana, como as rodovias e a primeira linha de trem-bala. Para 2020, acredito que nosso legado será o que poderíamos chamar de uma busca por “uma sociedade madura”.
Poderia dar um exemplo?
Vamos usar os Jogos Paralímpicos para tornar Tóquio uma cidade mais livre de barreiras. A intenção é promover a participação social de pessoas com deficiências e idosos, de modo a impulsionar a criação de uma sociedade inclusiva. Também estamos procurando ser mais eficientes. Queremos fazer reformas no estilo de trabalho, como estímulos ao trabalho em casa e aos horários alternativos. Junto com as empresas ferroviárias estamos criando horários alternativos de viagem e encorajando a população a fazer deslocamentos mais confortáveis, evitando horários de pico.
Que tipo de investimentos Tóquio pode atrair com a realização dos Jogos?
Tóquio é cheia de recursos humanos e com diversos potenciais. Então, somos uma cidade verdadeiramente atraente para investimentos. Mas temos um plano de atrair mais empresas financeiras estrangeiras e também companhias com tecnologia avançada, relacionadas à Quarta Revolução Industrial. Queremos tornar Tóquio o centro financeiro e econômico número 1 do mundo.
Como fazer isso?
Anunciamos, no ano passado, o plano Global Financial City Tokyo [“Tóquio, Cidade Financeira Global”, em tradução livre]. Estamos nos engajando em melhorias para o desenvolvimento de um ambiente de negócios global. Isso inclui o desenvolvimento de procedimentos administrativos, como o fornecimento de serviços em inglês — uma grande necessidade das empresas estrangeiras.
A senhora foi a primeira mulher eleita para o cargo de governadora de Tóquio. Qual é o significado dessa vitória?
Tenho repetido que a capacidade das mulheres ainda não foi completamente aproveitada e valorizada. Ainda há poucas mulheres em cargos-chave. Acredito que a estratégia de colocar as mulheres em posições de tomada de decisão, tanto no setor público quanto no privado, tornará empresas e sociedades mais fortes.
E como as mulheres podem ser mais bem aproveitadas no Japão?
Por aqui, as mulheres japonesas atingem o ensino superior cedo e demonstram muita competência, mas não são absorvidas pela sociedade. Isso traria mudanças necessárias à economia e ao próprio desenvolvimento social. Tento fazer minha parte como governadora. Aumentei o número de mulheres gerentes e também me esforço para criar ambientes de trabalho mais amigáveis.
Qual é a importância dessas medidas?
À medida que a sociedade envelhece e a população trabalhadora diminui, a participação das mulheres se torna mais do que importante: é uma necessidade, especialmente na economia. Elas são necessárias para um crescimento sustentável, por isso continuarei apoiando as mulheres.
Nas últimas décadas, houve a ascensão de diversos países e cidades na Ásia. O que Tóquio pode fazer para manter um papel de liderança na região?
No início do século passado, Tóquio era uma cidade modelo para todos os povos asiáticos que esperavam modernização e prosperidade. Agora, minha missão é estabelecer Tóquio como um modelo dinâmico que vale a pena copiar. Não apenas na Ásia, mas globalmente. Para isso, devemos evoluir como uma cidade madura e continuar a gerar crescimento mesmo com o declínio da população.
Qual seria o melhor caminho para isso?
A chave é criar um ambiente em que diversos estilos de vida sejam respeitados e as pessoas possam viver em harmonia. A construção desse caminho para ser uma competidora mais forte globalmente é uma ferramenta para um maior crescimento do país e da cidade. Queremos continuar sendo um bastião para o mundo. Vamos aproveitar a Olimpíada para isso.