Revista Exame

O palco é deles: conheça seis robôs com "jeitinho" de humano

Um dos frutos mais impressionantes da engenhosidade humana, robôs movidos a IA com aparência e habilidades semelhantes às nossas já ocupam postos de trabalho

Jensen Huang, CEO da Nvidia, em conferência de IA: apresentação de alguns dos robôs humanoides mais aprimorados do mundo encantou o público  (David Paul Morris/Bloomberg/Getty Images)

Jensen Huang, CEO da Nvidia, em conferência de IA: apresentação de alguns dos robôs humanoides mais aprimorados do mundo encantou o público (David Paul Morris/Bloomberg/Getty Images)

Publicado em 29 de abril de 2024 às 06h00.

Última atualização em 2 de maio de 2024 às 16h54.

Recentemente, durante sua palestra em uma conferência global de inteligência artificial, o CEO da Nvidia, Jensen Huang, reuniu no palco alguns dos robôs humanoides mais avançados do mundo. A reação do público no final foi unânime: tirar o celular do bolso e fotografar aquelas criações altamente sofisticadas que sempre estiveram no imaginário coletivo. Nos próximos anos, entretanto, tudo leva a crer que cruzar com robôs como esses não será mais algo tão sur­real. Pelo contrário, será cotidiano.

Com o monumental salto da IA dos últimos tempos, a corrida para aprimorar esses androides de múltiplas habilidades e torná-los mais viáveis comercialmente está intensa. Empresas e investidores estão colocando todos os esforços nessa missão, com progressos extraordinários.

A Tesla, por exemplo, compartilhou vídeos em que seu robô, o Optimus, aparece dançando, segurando ovos e dobrando camisetas como uma pessoa. O CEO, Elon Musk, já disse que hoje é mais importante desenvolver o robô humanoide do que carros novos, e previu que, em 2040, teremos mais de 1 bilhão de robôs desse tipo na Terra.

Exagero ou não, a verdade é que um movimento acelerado nessa direção já começou. Um relatório recente da Goldman Sachs Research prevê que o mercado global de humanoides atingirá 38 bilhões de dólares até 2035, um aumento de mais de seis vezes em relação à projeção anterior, de 6 bilhões de dólares. “O avanço da IA foi o que mais surpreendeu”, disseram os autores do documento, referindo-se especialmente aos modelos de linguagem (LLM, na sigla em inglês), um dos principais motivos para a alteração das projeções, ao lado da redução do custo de muitos componentes das máquinas.

O ano de 2024 é um marco nessa trajetória, com humanoides alimentados por IA já sendo usados como parte da força de trabalho em diversas áreas, especialmente em atividades que colocam o ser humano em risco e onde há escassez de mão de obra. Conheça alguns deles.

Digit

Nos depósitos da Amazon, um robô bípede do mesmo tamanho de uma pessoa transita pelo setor de reciclagem de sacolas. ­Digit, o humanoide desenvolvido pela ­Agility ­Robotics, substitui os colegas em um processo bastante repetitivo: coletar e movimentar caixas vazias. Ele é um robô multifuncional criado para o trabalho logístico. Consegue mover, segurar e manusear itens de forma inovadora dentro de um armazém, sendo útil em diversas tarefas monótonas, difíceis e, às vezes, perigosas em operações de fabricação e logística.

A Agility Robotics aposta tanto no potencial comercial do Digit que vai começar a produzi-lo em grande escala. A empresa inaugurou, no estado americano do Oregon, a Robofab, a primeira fábrica de robôs humanoides do mundo, com capacidade para produzir mais de 10.000 robôs anualmente. Os primeiros serão entregues aos clientes já neste ano, com disponibilidade geral no mercado em 2025.

Figure 01

Em janeiro, a startup californiana Figure assinou seu primeiro acordo comercial: o robô humanoide desenvolvido por ela, o Figure 01, é o novo “funcionário” de uma fábrica da BMW nos Estados Unidos. Não foi divulgado quantos robôs a montadora usará, mas sabe-se que alguns estão em treinamento em tarefas específicas na linha de produção e que a quantidade expandirá gradualmente, à medida que metas de desempenho nessas atividades forem atingidas.

O Figure 01 é um robô de uso geral, apto para diferentes tarefas, dependendo de como sua IA é treinada. Ele foi criado inicialmente para atividades estruturadas e repetitivas, em trabalhos indesejados. Porém, o objetivo é que, com o tempo, o humanoide lide com afazeres mais complexos. “A robótica de uso único satura o mercado comercial há décadas, mas o potencial da robótica de uso geral está completamente inexplorado”, diz Brett ­Adcock, CEO da Figure. Por isso, a empresa está focada em dar saltos substanciais nos próximos anos para que o Figure 01 possa ser, inclusive, um assistente doméstico.

Digit, o funcionário da logística: o robô, que já trabalha em galpões da Amazon, será produzido em breve em grande escala (Agility/Divulgação)

Apollo

Quem também acaba de ser contratado para trabalhar na produção automotiva é o Apollo. Em março, sua criadora, a texana Apptronik (um spin-out do laboratório de robótica da Universidade do Texas), firmou um acordo comercial com a Mercedes-Benz. A ideia é que os humanoides comecem nas tarefas de entregar kits de montagem aos colegas e inspecionar os componentes, e depois assumam outras funções.

Construído para operar em ambientes industriais ao lado de pessoas, o bípede tem o tamanho de um trabalhador humano — e é capaz de levantar até 55 quilos. Seu uso visa automatizar tarefas fisicamente exigentes ou monótonas, liberando os profissionais para se concentrar em atividades mais complexas.

“Os avanços na robótica e da IA abrem novas oportunidades para nós. Estamos explorando as possibilidades com o uso da robótica para apoiar nossa força de trabalho qualificada na fabricação”, comenta Jörg Burzer, do conselho da Mercedes-Benz.

EVE

Embora seja um robô versátil, o EVE começou a carreira na área de segurança, e está indo muito bem. Um dos usuários do humanoide de exterior macio criado pela norueguesa 1X é a Everon, empresa de soluções de segurança. Por lá, frotas de EVEs trabalham ao lado de vigilantes humanos patrulhando prédios e verificando crachás dos funcionários, por exemplo. A destreza impressiona: autônomo por padrão, o androide abre portas com maçanetas diferentes, pega elevadores, mexe em teclados e se move como as pessoas por espaços não estruturados.

E, se ele identifica um problema, imediatamente informa um operador humano, que “entra” no corpo do robô através realidade virtual, visualizando o local com suas câmeras e sensores e controlando seus movimentos, tudo remotamente. “Ao contrário de suas contrapartes humanas, os robôs não exigem uma noite inteira de descanso para funcionar de maneira ideal e manter o estado de alerta”, destaca a Everon. “Além disso, proporcionam mobilidade na vigilância.”

Primeiro emprego: o Figure 01 é a novidade na força de trabalho de uma das fábricas da BMW (Figure/Divulgação)

Yellow

Além dos humanoides, robôs com formato inspirado em animais também estão sendo utilizados com sucesso. Um dos que mais acumulam experiências no currículo é o Spot, da Boston Dynamics. Ágil e dotado com a chamada “inteligência atlética”, o cão-robô caminha, sobe escadas, atravessa terrenos difíceis, evita obstáculos e segue rotas predefinidas de maneira autônoma.

Hoje, mais de 1.000 unidades do quadrúpede estão ativas em ramos diversos, personalizadas conforme sua missão. Nos EUA, monitora situações potencialmente perigosas antes de a polícia e os bombeiros agirem; no Japão, está ajudando a coletar dados e amostras dentro da usina de Fukushima, onde aconteceu o desastre nuclear em 2011; na Áustria, trabalha em uma central elétrica, detectando e reportando falhas, função semelhante à que exerce em uma mina no Canadá, numa cervejaria na Bélgica ou num porto na Alemanha.

No Brasil, a SegurPro, empresa de segurança patrimonial do Grupo Prosegur, já usa o Spot há dois anos. Batizado de Yellow depois de ter sido customizado com uma série de tecnologias, o cão-robô atuou pela primeira vez no Rock in Rio de 2022, auxiliando na segurança do evento, com reporte em tempo real ao Centro de Controle instalado na Cidade do Rock. Em 2023, integrou também o esquema de vigilância do festival The Town e do Grande Prêmio de Fórmula 1, em São Paulo.

RoBird

Imitando a forma e os movimentos de um falcão peregrino, um temido predador, a missão principal do RoBird é proteger a vida selvagem em locais de risco. O pássaro-robô da canadense Aerium Analytics tem ajudado a detectar e afastar populações de aves próximas a pistas de aeroportos, ambientes industriais, lagoas de rejeito em mineradoras e torres de alta tensão, além de minimizar danos a culturas frutíferas de alto rendimento.

O RoBird também substitui a participação humana em atividades arriscadas — inspeções que envolvem perigos como queda, vazamento de gás etc. —, alcança áreas remotas e otimiza processos que seriam demorados e custosos. Com o pássaro-robô, a inspeção de uma chaminé de flare na petrolífera canadense Imperial Oil, por exemplo, que levava nove dias para ser concluída, agora é feita em 1 hora, de acordo com a fabricante.

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