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O novo “vale do lítio” pode ser a chave para o futuro dos carros elétricos

A região no sul da Califórnia quer se tornar o novo centro de produção de baterias para carros elétricos

Mar de Salton: a produção de lítio no local pode chegar a 600.000 toneladas por ano (David McNew/AFP)

Mar de Salton: a produção de lítio no local pode chegar a 600.000 toneladas por ano (David McNew/AFP)

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Bloomberg

Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 05h36.

Última atualização em 29 de dezembro de 2020 às 07h16.

Tempestades de areia misturadas com toxinas varrem a região do condado Imperial, no sul da Califórnia, onde vulcões de lama cospem e assobiam perto das margens do lago conhecido como Mar de Salton. O condado é um dos mais pobres da Califórnia, e a maioria dos empregos está ligada a uma estreita faixa de terra irrigada cercada por deserto. A cidade de San Diego e o próspero litoral ficam a só 160 quilômetros, mas poderiam muito bem estar em outro planeta.

No entanto, essa negligenciada paisagem lunar pode ser a chave para o futuro do automóvel sustentável dos Estados Unidos. A salmoura quente presa sob o solo do deserto contém potencialmente um dos maiores depósitos de lítio do mundo.

A demanda pelo metal está aumentando conforme as montadoras migram para os carros elétricos movidos a baterias de íon de lítio. A maior parte desse lítio hoje vem da Austrália, da China e da América do Sul. Os Estados Unidos estão desesperados para ter sua própria produção.

Mar de Salton: a produção de lítio no local pode chegar a 600.000 toneladas por ano (David McNew/AFP)

Não há dúvida de que existe lítio ali. A salmoura onde ele está contido já flui para a superfície dia e noite por meio de 11 usinas geotérmicas. As usinas convertem a água em vapor para gerar eletricidade. Tudo o que se necessita é uma maneira de retirar o lítio antes de bombear o resto da salmoura de volta para o subsolo. Um relatório de março de 2020 da empresa de pesquisas SRI International estimou que a área poderia produzir 600.000 toneladas de lítio por ano, quase oito vezes a produção global de 2019.

Mas uma coisa é extrair lítio para testes e outra é fazer isso em grandes quantidades, a um custo razoá­vel. “Não é alquimia”, diz Jonathan Weisgall, vice-presidente de relações governamentais da Berkshire Hathaway Energy (do mesmo grupo do megainvestidor Warren Buffett), que tem dez usinas geotérmicas na região. “O lítio está lá, e nós o recuperamos em laboratório. A questão é: isso pode ser feito de forma comercial?” A Berkshire­ é uma das três empresas que desenvolvem instalações para extrair lítio da salmoura.

As autoridades da Califórnia, que passaram anos estudando o assunto, não veem apenas o Vale Imperial como uma exaltada mina. O lítio, dizem eles, pode se tornar a base de um mercado que pode transformar os Estados Unidos em uma potência na indústria de baterias, hoje dominada pela China. Eles querem que o máximo de empregos futuros sejam criados na Califórnia. E até começaram a usar o nome “Vale do Lítio” para divulgar a ideia.

Se o lítio está lá, eles raciocinam, por que não fazer as baterias também, em fábricas movidas a energia geotérmica limpa? E se as baterias são feitas lá, por que não fazer o carro elétrico inteiro? “A infraestrutura está lá, a força de trabalho está lá”, diz Rod Colwell, presidente executivo da Controlled Thermal Resources, empresa que planeja construir uma nova usina geotérmica, com extração de lítio, no lago. “Se conseguirmos construir uma fábrica de baterias, estamos falando de 3.000 empregos.” Seria um grande negócio para o condado Imperial, onde mesmo antes da pandemia do coronavírus, a taxa de desemprego costumava atingir 15% ou 20%.

Não é fácil extrair quantidades comerciais de lítio da salmoura, que vem junto com potássio, ferro, manganês e sódio. Em parte, isso ocorre porque os átomos de lítio e sódio se comportam de maneira semelhante, segundo David Snydacker, fundador e presidente da Lilac Solutions. Sua startup desenvolveu a própria tecnologia que usa grânulos de cerâmica para coletar o lítio, sem as impurezas. Em fevereiro, a Lilac recebeu 20 milhões de dólares em financiamento de investidores, incluindo da empresa de energia renovável Breakthrough Energy, de Bill Gates.

Se as usinas forem inauguradas conforme o planejado e funcionarem como o anunciado, as autoridades da Califórnia preveem transformá-las em algo muito maior. Com uma população ecologicamente correta e agressivas políticas de mudança climática, a Califórnia é o lar de metade dos veículos elétricos vendidos no país. Apesar da reputação de lugar caro, o estado tem um crescente número de fabricantes de veículos elétricos, incluindo a Tesla. A criação de um aglomerado de fábricas de baterias ajudaria os fabricantes prosperar e a atrair investimentos de Detroit, além de trazer bons empregos para um canto do estado que precisa deles desesperadamente.

Tradução de Anna Maria Della Luche
Leia a reportagem na íntegra em EXAME.com


(Publicidade/Exame)

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