Revista Exame

O nosso consolo

O melhor que o poder público teve a apresentar em 2011 é o que não fez: não fez pacotes, não inventou, não mexeu nos fundamentos da economia. É pouco, claro — mas é o que podemos almejar no momento

Dilma Rousseff: 2011 termina com índices recordes de popularidade para ela — e pouco mais para o restante do país (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)

Dilma Rousseff: 2011 termina com índices recordes de popularidade para ela — e pouco mais para o restante do país (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)

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Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2012 às 08h42.

São Paulo - Oprimeiro ano do mandato da presidente dilma rousseff, prestes a terminar, foi bom ou ruim? É verdade que não adianta muito ficar fazendo contas a esta altura, pois o que vai interessar, mesmo, é o balanço final dos quatro anos; falar disso agora é mais ou menos como avaliar um jogo de futebol aos 25 minutos do primeiro tempo.

Mas sempre vale a pena olhar para o caminho já percorrido. Embora não sirva para fazer um mapa do futuro, ajuda a entender o que está acontecendo agora.

O que se pode dizer, aí, é que a presidente tem conseguido um razoável sucesso na tarefa de percorrer uma estrada ruim sem ficar atolada — ao contrário, acaba o seu primeiro ano de governo muito bem avaliada, no Brasil e no exterior, mantém excelentes índices de popularidade entre o eleitorado e mostrou que não está disposta a sair do trilho central no qual a economia brasileira vem andando nos últimos 15 anos, ou algo assim.

Em resumo, é pouco provável que venham mudanças notáveis nos próximos anos, para o bem ou para o mal; o que tem andado direito, de um modo geral, deve continuar assim, e o que precisa ser consertado deve continuar sem conserto. Não é uma situação ideal. Mas tem a vantagem de ser mais ou menos previsível.

O trajeto percorrido no primeiro ano do governo de Dilma Rousseff não deixará ninguém com saudade; foi, com certeza, uma viagem ruim. A economia mundial, para todos os efeitos, ofereceu em 2011 uma salada de sustos, crises, frustrações, escassez e maus resultados.

A Europa encerra o ano numa luta pouco edificante para salvar o euro — que era visto, não muito tempo atrás, como o farol que iria iluminar o futuro econômico do mundo. Não há crescimento expressivo, nem alívio no desemprego, nem perspectivas de melhora verdadeira a curto prazo.

A maior parte dos países gastou montanhas de dinheiro que não tinha, e as finanças públicas da comunidade, em geral, estão quebradas; sua capacidade de pagar o que devem, pelo menos no julgamento das agências internacionais de rating, já não é mais o que era.


Os Estados Unidos demoram a dar sinais convincentes de recuperação, e o resto do mundo não teve muito a festejar no ano que termina. Na frente externa, portanto, o Brasil ficou sem a alavanca que tanto o ajudou em anos recentes.

Aqui dentro, ao mesmo tempo, 2011 ficará como o ano dos seis ministros demitidos, um depois do outro, por suspeitas de corrupção e má conduta — um ambiente de desordem em que metade do tempo, no governo, foi desperdiçada em administrar problemas criados por gente do próprio governo.

Na verdade, houve muito pouco trabalho; é possível, considerando-se a qualidade geral do ministério, que, quanto menos essa gente trabalhar, menos prejuízo o país acaba tendo, mas permanece o fato de que o primeiro ano da presidente foi em boa parte perdido. Na economia, tomada em conjunto, foi um ano magro — crescimento talvez inferior a 3%, o que não é nenhum desastre, mas está longe de ser o que o Brasil precisa.

Há sinais de problemas inquietantes na indústria, com dificuldades claras em diversos setores e queixas repetidas de “desindustrialização”. O dinamismo da economia brasileira continua muito ligado à venda de matéria-prima e, sobretudo, ao apetite de compras da China.

Nas mudanças vitais que a máquina pública precisa, com urgência desesperadora, para que o país funcione com mais eficácia, não se conseguiu nada. Continua claro que estamos desperdiçando tempo e oportunidades para crescer e distribuir prosperidade — e o que se perde agora, infelizmente, não volta mais.

Mais uma vez, como tem sido o caso ao longo dos últimos anos, o melhor que o poder público teve a apresentar em 2011 foi aquilo que não fez — não fez pacotes econômicos, não inventou, não mexeu nos fundamentos básicos da economia. É essa estabilidade que tem dado espaço para que o Brasil da produção e do trabalho continue caminhando para diante. No momento, é o que se tem como consolo.

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