Revista Exame

O Mario entrou pelo cano

Depois de 27 anos de sucesso, o personagem Mario não conseguiu evitar que a Nintendo tivesse o primeiro prejuízo em quase três décadas. Game over?

O personagem Mario, da Nintendo (Reprodução)

O personagem Mario, da Nintendo (Reprodução)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de março de 2012 às 08h00.

São Paulo - A série de games mario está para a japonesa Nintendo assim como o Mickey Mouse está para a americana Disney. Com o lançamento, na década de 80, do videogame Nintendo Entertainment Network (NES) e seu grande protagonista, o simpático encanador Mario, a companhia japonesa tornou-se uma das maiores fabricantes de videogames do mundo.

A partir daí, a cada novo lançamento lá estavam o encanador e sua turma: em três dimensões, em corridas de kart, em jogos de golfe, na faxina. Foi assim que o Mario se firmou como um dos maiores ícones da empresa — e da indústria como um todo.

Mas, em 2012, pela primeira vez desde o surgimento do Super MarioBros, em 1985, a Nintendo deve fechar o ano fiscal com prejuízo, algo em torno de 830 milhões de dólares.

E o ineditismo da situação deu início a um debate divertido: será que Mario é a próxima vítima da maldição dos 27 anos, idade de morte de figuras emblemáticas do mundo pop, como os cantores Amy Winehouse, Kurt Cobain e Jim Morrison? 

Não é para tanto, pelo menos por enquanto. A situação da Nintendo — e de Mario — está longe de um game over. Em 2009, a empresa atingiu seu recorde de participação em receita no segmento de aparelhos de games, com cerca de metade do mercado. No ano passado, a fatia caiu para aproximadamente 30%.

Foi uma queda e tanto — mas não deixa de ser um patamar ainda respeitável. O mercado, porém, pergunta-se se esse processo vai se cristalizar como uma tendência. Para analistas como o japonês Satoru Kikuchi, do Deutsche Bank, o importante é que a direção da Nintendo consiga fazer uma leitura correta das razões que a levaram tanto ao ápice em 2009 quanto à queda desde então. 

O diagnóstico

Entre as grandes empresas do setor, a Nintendo é a única dedicada exclusivamente aos games, com destaque para os infantis. O console Wii, lançado em meados da década passada, é uma exceção à regra. Quase que por acaso foi acolhido com entusiasmo por jogadores dos mais variados perfis.


Para os analistas, o inesperado fenômeno Wii é a principal razão da arrancada da Nintendo no período entre 2006 e 2009. Foi bom enquanto durou — e durou bastante para os padrões de obsolescência da indústria da tecnologia. A partir daí, os japoneses pararam de avançar. Nos últimos dois anos, a demanda dos jogadores não tradicionais caiu, derrubando consigo parte do mercado da empresa.

Os lançamentos seguintes decepcionaram. A terceira geração do aparelho portátil da Nintendo, o 3DS, chegou ao mercado em fevereiro do ano passado por um valor considerado alto, e as vendas ficaram abaixo do esperado. Os novos jogos do Mario, em terceira dimensão, não provocaram o frisson imaginado.

E os executivos da Nintendo, aparentemente, ficaram agarrados demais a uma tecnologia ultrapassada. Enquanto a indústria de games apostou em imagens de definição de 1 080 pixels, a empresa insistiu no padrão standard, de 480 pixels.

As inovações apresentadas no portátil 3DS e na nova versão do Wii, prevista para chegar às lojas no final deste ano, poderiam ter garantido a liderança da empresa, afirmam os especialistas em tecnologia, mas demoraram a chegar. “A Nintendo deveria ter apresentado essas novidades em 2009 e 2010”, diz Michael Patcher, diretor da empresa americana de análises Wed­bush Securities.

Como é comum em situações como essa, a Nintendo não faz uma avaliação tão dura de si mesma. Os vilões desse jogo, dizem seus executivos, são os tablets e os celulares com funções de computador.

O presidente da companhia, Satoru Iwata, afirmou recentemente durante um evento em Osaka, no Japão, que a concorrência dos jogos disponíveis nesses aparelhos — somada ao fortalecimento da moeda japonesa, o iene — é a principal causa do prejuízo histórico. 

Luz no fim do cano?

As esperanças de reverter os maus resultados são depositadas em um novo console ainda inédito, batizado provisoriamente de Wii U. O videogame deverá ter controles semelhantes aos de um tablet, o que permitirá ao usuá­rio jogar sem precisar de um aparelho de TV. Por algum tempo, o Wii U não terá novos concorrentes.


Sony e Microsoft, os principais rivais da Nintendo, não farão lançamentos nos próximos meses. “Se a Nintendo souber aproveitar bem este momento, terá um caminho livre pela frente”, diz Pelham Smithers, sócio da empresa inglesa de análises de mercado Pelham Smithers Associates.

Aproveitar, segundo ele, significa mergulhar na criação de jogos que motivem os consumidores a comprar o console (a Nintendo não oferece nenhum de seus games em plataformas de outros fabricantes).

Criado  pelo designer de jogos japonês Shigeru Miyamoto, no começo Mario não era Mario. Batizado de Jumpman, era integrante de um jogo de fliperama. A transformação aconteceu quando funcionários da filial da Nintendo nos Estados Unidos passaram a comparar o personagem com o italiano Mario Segali, dono do imóvel que abrigava o escritório americano.

Logo Jumpman se transformou no encanador Mario. Na época, o mercado de videogames ainda era considerado de nicho. Hoje é a forma de mídia que mais cresce no mundo — a previsão é que as vendas globais cresçam 46% entre 2010 e 2015, chegando a 82 bilhões de dólares.

A receita gerada pelos games já equivale a três quintos do mercado de cinema. Com tal perspectiva, os fãs de Mario preocupados com a maldição dos 27 anos podem relaxar um pouco. Mas só um pouco.

Acompanhe tudo sobre:Crises em empresasEdição 1011EmpresasGamesNintendo

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025