Andrés Navarro, presidente da Sonda It: “O Brasil foi o maior alvo dos nossos investimentos” (Andres Perez/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 15 de junho de 2012 às 13h47.
São Paulo - Quem passou no fim de 2011 em frente à sede brasileira da chilena Sonda IT, em Alphaville, na Grande São Paulo, viu uma imagem incomum para a fachada de uma empresa: bandeiras do Corinthians, clube de futebol que havia acabado de conquistar o Brasileirão, estavam hasteadas em frente à recepção.
A ordem para colocá-las lá partiu de Luiz Carlos Felippe, membro do conselho de administração da Sonda — a empresa agregou o “IT” ao nome para evitar confusão com o grupo do setor de supermercados. Felippe estava seguindo seu coração, mas também o bolso.
A Sonda tinha acabado de ser escolhida pelo time paulista como a consultoria responsável pela infraestrutura de TI da Arena Corinthians, o popular “Itaquerão”, palco da abertura da Copa do Mundo de 2014.
Dos estádios que conhecemos hoje no Brasil, a nova geração de arenas esportivas manterá apenas o tamanho do campo. No caso da Arena Corinthians, a Sonda será responsável por transformar as exigências tecnológicas da Fifa em infraestrutura, da passagem do cabeamento de fibra óptica à escolha dos equipamentos de telecomunicações.
O estádio deverá ter wi-fi em todas as áreas. Pelo celular, o torcedor acessará uma página com uma série de dados, como as estatísticas da partida em tempo real, o histórico de confrontos e replay de gols. Cerca de 2 500 telas de LED farão a orientação do público dentro do estádio, com informações dos setores e cardápios das lanchonetes.
Uma equipe comandará os dados que serão exibidos em quatro telões. Um sistema fará o controle de acesso dos torcedores e irá monitorar centenas de câmeras equipadas com sensores de tumulto. Em caso de confusão, a câmera gera um alerta e foca na área da briga para identificar os envolvidos.
Por enquanto, a Sonda está ajudando o Corinthians a definir quais serão essas tecnologias. Algumas sugestões dadas ao time já estão sendo testadas no Centro de Treinamento Joaquim Grava. Os chilenos estão torcendo para o clube aprová-las e, depois, contratá-los também para a instalação.
O Itaquerão faz parte de um plano bem mais ambicioso da Sonda. Em 2011, o faturamento da empresa ultrapassou, pela primeira vez, a barreira do bilhão de dólares, consolidando a empresa como a maior companhia de TI de capital 100% latino-americano. A Sonda deixou para trás grandes empresas brasileiras, como Stefanini e Totvs, apoiando-se justamente no território de suas maiores rivais.
Diferentemente de outras companhias latino-americanas de TI, a empresa não se aventura em mercados além do continente, como os Estados Unidos e a Europa. A Sonda está em nove países além do Brasil, todos na América Latina. “O foco de nossa atenção é o mercado brasileiro, para onde direcionamos mais da metade dos 500 milhões de dólares que investimos nos últimos dois anos”, diz o chileno Andrés Navarro, presidente da Sonda.
Fundada por Navarro em 1974, em Santiago, a Sonda é a principal empresa de um grupo que possui diversos negócios no Chile. Navarro tem hotéis, hospitais, empreiteiras e até vinícolas.
Em alguns de seus negócios, ele teve como sócio um conhecido empresário chileno e amigo desde os tempos da faculdade: Sebastián Piñera, atual presidente do país. A dupla já teve parte do canal de TV Chilevisión e da empresa de aviação LAN Chile, que recentemente fundiu-se com a TAM.
No ano passado, os dois amigos se envolveram num caso curioso. Piñera e Navarro são pilotos e têm em sociedade um helicóptero Robinson 44. Durante um passeio ao lago Ranco, onde o presidente passaria suas férias, a aeronave fez um pouso de emergência no meio de uma estrada.
O motivo? A dupla havia calculado mal a quantidade de combustível necessária. Piñera pediu ajuda e uma aeronave da polícia foi enviada ao local para socorrê-los. O caso gerou críticas da oposição, que afirmou que um presidente não poderia se arriscar em aventuras, muito menos usando um veículo da polícia para ajudá-lo. “Lamentavelmente, automóveis e helicópteros precisam de combustível”, respondeu Piñera, em tom irônico.
No Brasil, a aterrissagem de Navarro foi mais prudente. A Sonda chegou no início dos anos 2000. Depois de patinar com uma estratégia de crescimento orgânico, ganhou escala com uma série de aquisições. Em dez anos, mais de 300 milhões de dólares foram investidos na compra de empresas brasileiras.
A principal foi a Procwork, adquirida em 2007 e que trouxe consigo clientes como Petrobras, Votorantim e Bradesco. O plano é continuar comprando concorrentes que atuem em novas áreas. No início de março, a Sonda adquiriu a Pars, especialista em software para engenharia e arquitetura.
Seu foco é o segmento de serviços de TI, que chama a atenção pelo alto ritmo de crescimento e por ser pulverizado para os padrões do mercado brasileiro. Segundo a consultoria IDC, especializada em TI, o setor de serviços de tecnologia movimentou 22 bilhões de reais no ano passado, com crescimento de 12% em relação a 2010.
O mercado brasileiro está dividido entre IBM e Accenture, as duas maiores, seguidas por HP, CPM Braxis, Stefanini, Tivit, Unisys, Sonda, Scopus e Itautec. Juntas, essas dez empresas detêm apenas 38% do mercado. Em outros segmentos de TI, como o de ERP (software de gestão empresarial), as três maiores têm mais de 80% do mercado.
Em parte, essa pulverização facilitou o avanço dos chilenos. Com seis aquisições no Brasil, a Sonda rapidamente entrou no pelotão de frente. No momento, a empresa está definindo seu plano de investimentos para os próximos cinco anos.
Além de expandir a operação no Brasil, os chilenos estudam entrar em novas regiões, como a Ásia. O primeiro passo será se capitalizar — e, nesse ponto, mais uma vez a presença no Brasil é um trunfo. Uma das possibilidades é abrir o capital na BM&F Bovespa.