Revista Exame

O fim dos expatriados brasileiros

Os salários em alta e a valorização do real estão transformando os expatriados brasileiros numa espécie em extinção. A regra agora é reduzir

Antônio Cláudio Tarre, da Souza Cruz, em Londres: no jargão da expatriação de executivos, ele foi “localizado” com uma remuneração 15% menor (Emiliano Copozoli/EXAME.com)

Antônio Cláudio Tarre, da Souza Cruz, em Londres: no jargão da expatriação de executivos, ele foi “localizado” com uma remuneração 15% menor (Emiliano Copozoli/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2011 às 13h52.

Enviar executivos brasileiros para o exterior se tornou uma prática comum na fabricante gaúcha de ônibus Marcopolo ao longo da última década. Em 2007, em meio a um intenso processo de internacionalização, a empresa mantinha 103 profissionais brasileiros na China, na Índia, no México e em suas outras quatro subsidiárias estrangeiras.

Além do privilégio de ser escolhidos para trabalhar no exterior — e do prestígio que essas indicações rendiam —, esses expatriados embarcavam rumo à carreira internacional com direito a bônus e benefícios que chegavam a 80% do salário que recebiam no Brasil. Nos últimos tempos, porém, os expatriados passaram a ser exceção no movimento de expansão global da Marcopolo. Hoje, eles são 53. “Nos últimos anos, as despesas com expatriados se tornaram insustentáveis”, diz Ruben Bisi, diretor de estratégia da Marcopolo. “Nas atuais circunstâncias, é mais barato trazer estrangeiros para ser treinados no Brasil do que mandar brasileiros para o exterior.”

As “atuais circunstâncias”, mencionadas por Bisi, atingem todas as empresas com estratégias globais. Em dezembro, a Souza Cruz, controlada pela British American Tobacco, definiu que o número de expatriados brasileiros (na época, 48), espalhados por 18 países, deve diminuir em 20% nos próximos três anos. A valorização do real (que eleva os salários dos executivos no ato da conversão para outras moedas) e o aumento da remuneração acima da inflação nos últimos anos tornaram o expatriado brasileiro mais caro que muitos de seus pares no exterior.

Essa nova situação já gerou aberrações corporativas, fazendo com que expatriados brasileiros chegassem ao exterior ganhando mais que seus chefes estrangeiros. “No ano passado, enviamos um brasileiro à Ásia com a missão de assumir uma operação local”, diz um executivo de uma grande companhia nacional que prefere se manter no anonimato. “Só quando ele chegou lá nos demos conta de que seu salário seria maior que o do presidente a quem ele se reportaria.” Por causa disso, a tendência é não apenas diminuir o número de expatriados como também reduzir os antigos pacotes de benefícios, que incluíam custeio de moradia e escola para os filhos. Segundo o Hay Group, há dez anos, 90% dos expatriados saíam do Brasil com esse tipo de pacote. Hoje, são apenas 10%.


Na Souza Cruz, a saída foi tirar da folha de pagamentos expatriados antigos que não tinham intenção de voltar para o Brasil — atualmente, muitos brasileiros já ganham 30% mais que colegas da BAT, mesmo sem os benefícios do antigo pacote de expatriados. Dos 48 brasileiros presentes nas subsidiárias do grupo, três acabam de ser demitidos no Brasil e contratados diretamente nos países em que já trabalhavam como expatriados. (No jargão criado para batizar esse processo, esses profissionais foram “localizados”.)

O advogado carioca Antônio Cláudio Tarre, de 39 anos, é um deles. Em 2007, Tarre foi enviado a Roma. Há um mês, trocou a capital italiana por Londres, sede da BAT. Na mudança, foi “localizado” — perdeu o bônus de moradia, o que representou uma perda de 15% do salário atual. “Claro que faz diferença, mas o importante é estar na sede mundial do grupo”, diz ele.

A ambição profissional dos jovens nascidos na década de 80, que buscam assumir altos cargos em pouco tempo — a geração Y —, tem sido uma aliada das empresas no barateamento das transferências. Ávidos por uma experiência internacional, esses jovens costumam aceitar desafios no exterior sem exigir pacotes de benefícios ou grandes aumentos salariais. Desde os tempos em que cursava engenharia eletrônica no Mackenzie, o paulista Everton Caliman, de 31 anos, sonhava com a chance de trabalhar em outro país.

A oportunidade apareceu em julho do ano passado, quando a Sony Ericsson, empresa onde trabalha desde 2006, abriu uma vaga em Atlanta, nos Estados Unidos. Caliman se mudou sem nenhum aumento salarial. “Na faculdade, todo mundo sonhava em trabalhar fora, com casa e carro pagos”, afirma ele. “Hoje, o que importa é ter uma experiência que possa levar à ascensão futura.”

Embora esteja particularmente em alta no Brasil, o corte de custos com expatriação é uma tendência global. Uma pesquisa recém-divulgada pela Ernst&Young, feita com 250 multinacionais, mostra que 77% delas pretendem gastar menos com esse processo. A boa notícia é que alguns executivos brasileiros estão aproveitando a oportunidade para fazer o caminho de volta.

Em abril do ano passado, o psicólogo Francisco Piccolo, de 49 anos, foi convidado a presidir o escritório da empresa suíça de biotecnologia Biogen Idec, em São Paulo, depois de passar quatro anos trabalhando na Venezuela e nos Estados Unidos. “Atualmente, os salários aqui são compatíveis com os pagos no exterior”, diz ele. “Mas o potencial de crescimento no Brasil de hoje faz toda a diferença.”

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