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O efeito Ozempic: 2024 será o ano dos remédios para emagrecimento

O medicamento para perda de peso deve impactar a economia para além da indústria farmacêutica, inaugurando a era da magreza como serviço

 (Leonardo Yorka/Exame)

(Leonardo Yorka/Exame)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 21 de dezembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 22 de dezembro de 2023 às 17h15.

A obesidade pode deixar de existir em breve. A afirmação, que pode soar como um aforismo, deve avançar mais passos em direção à realidade com medicamentos da família da semaglutida, substância que ganhou fama com o nome comercial Ozempic. O remédio, fabricado pela dinamarquesa Novo Nordisk, é injetado com uma pequena agulha na barriga ou no braço do paciente, em um processo bastante simples. Sua atuação, no entanto, é complexa e localizada no sistema nervoso central, ativando os hormônios que geram saciedade; ao longo dos meses, o apetite reduzido resulta em um corpo mais magro sem que o paciente tenha de seguir uma dieta extenuante.

Apesar de seu uso ser off label — ele foi originalmente criado para o tratamento de diabetes tipo dois —, o Ozempic e a “nova era” dos remédios para emagrecimento têm o potencial de transformar a vida de mais de 700 milhões de pessoas obesas no mundo. A promessa é reduzir a gordura corporal de 5% a 15%, mas versões refinadas da substância, feitas por competidoras como a Eli Lilly, aumentaram o potencial para acima de 20% e escantearam a recomendação de cirurgias bariátricas para os casos mais graves de obesidade.

Para a fabricante Novo Nordisk, é hora de colher os frutos. A empresa, considerada a mais promissora para investimentos nos próximos anos, foi avaliada em cerca de 425 bilhões de dólares. Com essa marca, ultrapassou até mesmo o LVMH, grupo que controla a Louis Vuitton e outras grifes de luxo. Dada a dimensão, faz sentido as farmacêuticas correrem atrás de seu próprio remédio “tipo Ozempic”. Para a suíça Roche, o caminho mais rápido foi adquirir a -Carmot Therapeutics, por 3,1 bilhões de dólares, e aproveitar que a empresa já está avançada em uma pesquisa que pode fazer frente à Novo Nordisk.

Como “Gillette” ou “Band-Aid”, o termo “Ozempic” vai perdurar, e ao longo do ano as farmácias ganharão outra dezena de opções, de composições diferentes, mas que só devem ampliar o efeito. Um indicativo nessa direção pode ser percebido em estados americanos como o de Nova York, onde empresas de telemedicina oferecem a cura para o emagrecimento em anúncios pela cidade, graças a uma lei que permite propaganda se não houver sugestão direta na peça. Quem entrar em contato com a companhia por trás da publicidade logo será direcionado para um médico que oferecerá remédios “tipo Ozempic”. A própria Novo Nordisk já pagou a médicos americanos pelo menos 25 milhões de dólares para promover dois de seus medicamentos contra obesidade, Saxenda e Wegovy.

A promessa do “fim da gordura” será também um divisor de águas além do setor farmacêutico. Em 2023, uma pesquisa do Morgan Stanley mostrou que o consumo diário de calorias caiu de 20% a 30% entre cerca de 300 pacientes que faziam uso regular de Ozempic. Essa mudança no padrão de consumo terá um impacto direto nas varejistas de alimentos e no consumo de fast-food.

Coca-Cola, McDonald’s, Walmart e até o gigante do tabaco Philip Morris International já disseram que poderão sofrer as consequências do Ozempic, cujo efeito também ameniza qualquer outra compulsão que o usuário tenha. As companhias aéreas também estão atentas: uma análise do banco de investimento Jefferies Financial, que avaliou o consumo do medicamento nos Estados Unidos, sugeriu que a United Airlines, sozinha, poderia economizar 80 milhões de dólares por ano caso o peso médio dos passageiros diminuísse 4,5 quilogramas. Se o efeito não for de sanfona, 2024 será de leveza.


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