Revista Exame

O custo da ideologia na infraestrutura do país

Quase 500 bilhões de dólares. Esse é o valor que o Brasil deixará de investir em infraestrutura entre 2001 e 2015 devido às barreiras impostas ao capital privado

Sinais de esgotamento: nos aeroportos lotados, nas estradas esburacadas, nos portos ineficientes e na falta de saneamento ficam claras as deficiências da infraestrutura brasileira (Germano Lüders/EXAME.com)

Sinais de esgotamento: nos aeroportos lotados, nas estradas esburacadas, nos portos ineficientes e na falta de saneamento ficam claras as deficiências da infraestrutura brasileira (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 19 de maio de 2011 às 09h50.

Em países com boa infraestrutura, ninguém dá muita importância aos canos com água enterrados no solo, à rede elétrica, às estradas asfaltadas e aos viadutos. Tudo parece fazer parte da paisagem.

Como bem sabem os brasileiros, a infraestrutura só chama a atenção quando é deficitária — ou inexistente. É nas estradas esburacadas, nas casas sem rede de esgoto, nos aeroportos lotados que ela se torna gritante.

Por que vamos tão mal numa área- chave para o crescimento? Parte do  problema é o baixo investimento do governo, de cerca de 1% do PIB, ante uma necessidade de pelo menos 6%. Mas ainda mais importantes são as barreiras — em larga medida puramente ideológicas — contra o capital privado.

Pouco mais de 8% da malha rodoviária pavimentada, a elite em termos de qualidade, está nas mãos de empresas. Nos últimos dez anos, foram concedidos  5 500 quilômetros, enquanto o governo administra quase 200 000. No saneamento, os dados mostram um quadro de puro subdesenvolvimento.

Só 32% dos brasileiros têm esgoto tratado. Mais de 30 milhões não têm sequer abastecimento de água. Não é coincidência que seja uma área de atuação quase exclusiva do governo. Menos de 9% da rede tem participação da iniciativa privada.

O recente anúncio de que a expansão em aeroportos de três cidades — Guarulhos, Campinas e Brasília — será feita pelo capital privado lançou no ar uma questão: será que o governo finalmente vai oxigenar o setor de infraestrutura? Ao que tudo indica, o anúncio deveu-se menos ao fim dos preconceitos e mais a uma questão bem pragmática.

Pesquisadores do próprio governo já alertaram para um potencial apagão aéreo em plena Copa do Mundo de 2014, e o estado atual da maioria dos aeroportos do país é um sinal eloquente de que o problema já está aí. Dado o ranço estatizante da esquerda, é cedo para dizer se outras medidas do gênero estão a caminho.

O que, sim, está claro é quanto a ideologia antiempresa custa ao país. Pelos cálculos da consultoria CG/LA, o Brasil perderá quase 500 bilhões de dólares entre 2001 e 2015 devido às barreiras à entrada do capital privado. A consultoria LCA estima que o PIB per capita quase dobraria se a infraestrutura do país atingisse o padrão dos países ricos.

Cada bilhão de dólares investido em infraestrutura gera até 60 000 empregos. Passar a administração e a expansão da infraestrutura para as empresas não é panaceia. O aeroporto de Heathrow, na Inglaterra, é privado e famoso pela baixa qualidade dos serviços.

Um setor público atuante, especialmente na fiscalização, é um componente central numa estratégia moderna de desenvolvimento. Mas isso não tem a ver com o modelo atual brasileiro, em que o governo não faz — e não deixa fazer.

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