Revista Exame

O bilionário Enrique Bañuelos perdeu a briga

Enrique Bañuelos tentou criar um colosso do agronegócio, mas, após perder uma batalha com os sócios, decidiu reduzir seus negócios no Brasil — será o fim de sua aventura?

Enrique Bañuelos, investidor espanhol: seus ambiciosos planos iniciais não saíram do papel (Germano Lüders/EXAME.com)

Enrique Bañuelos, investidor espanhol: seus ambiciosos planos iniciais não saíram do papel (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de fevereiro de 2012 às 05h00.

São Paulo - Quando chegou ao brasil, no fim de 2008, o investidor espanhol Enrique Bañuelos fazia questão de deixar claro que sua ambição era se tornar um dos maiores empresários do país.

Polêmico e ousado, visto com certo pé atrás em razão de suas desventuras no mercado imobiliário espanhol, Bañuelos declarava com uma naturalidade pouco comum para um iniciante em terras novas que pretendia assumir a liderança do competitivo mercado brasileiro de incorporação imobiliária — para depois partir para a conquista de outros setores.

Em seus planos estavam a construção de mais de 5 000 quartos de hotéis, a criação de uma empresa para dominar o setor de agronegócio e diversos outros empreendimentos em áreas como alimentação, energia, turismo, saúde, beleza, moda e, ufa!, lazer.

Com uma fortuna de 2 bilhões de dólares na época e bom de lábia, Bañuelos parecia realmente convencido­ de que estava destinado a brilhar no Brasil. Desde sua chegada, no entanto, pouca coisa correu como o planejado.

O espanhol comprou, criou e vendeu empresas, ganhou e perdeu dinheiro, fez amigos (poucos) e desafetos (muitos). Mas não conseguiu montar o império que pretendia. Agora, depois de um sério revés, sua aventura brasileira pode estar perto do fim.

Segundo EXAME apurou, em janeiro Bañuelos reduziu dramaticamente as operações da Veremonte, a holding que cuida de seus negócios no país. A empresa não terá mais um presidente, cargo até então ocupado pelo executivo Marcelo Paracchini, nem uma equipe para buscar novos negócios.

O suntuoso escritório que ocupava um andar no edifício Plaza Iguatemi, na avenida Faria Lima, um dos mais caros da capital paulista, foi trocado por um prédio bem mais simples a alguns quilômetros dali. Apenas um time para administrar os negócios que Bañuelos ainda tem no país foi mantido.

A diminuição da Veremonte fez surgir comentários de que o espanhol estaria prestes a deixar o Brasil. Apesar disso, Bañuelos nega que tenha jogado a toa­lha. Afirma que Paracchini continuará buscando novas oportunidades para ele, mas agora com uma empresa própria, a Plata Capital. Ainda segundo Bañuelos, seu grupo anunciará no primeiro semestre deste ano um novo negócio bilionário — mais calejado e mostrando seu lado prudente, desta vez ele não diz em que setor.  

A decisão de reduzir o tamanho da Veremonte foi tomada depois que Bañuelos perdeu uma queda de braço na Vanguarda Agro, maior produtora brasileira de grãos dentre as companhias do setor listadas na Bovespa. Bañuelos dizia que pretendia transformar a Vanguarda, resultado da fusão entre a Maeda, a Brasil Ecodiesel e a antiga Vanguarda Brasil, em uma líder mundial do setor.


Seus sócios na empreitada eram o investidor Helio Seibel, o empresário Otaviano Pivetta (controlador da antiga Vanguarda) e Silvio Tini (ex-controlador da Brasil Ecodiesel). A empresa foi criada entre maio e outubro do ano passado. Mas, já no fim de 2011, a coisa começou a desandar.

No centro da discórdia estava uma proposta de Bañuelos: a criação de um fundo de terras montado com as fazendas da Vanguarda — fundo que garantiria um rendimento mínimo de 20 milhões de reais por ano para sua Veremonte e ajudaria a reduzir as dívidas de 570 milhões de reais da Vanguarda, que enfrentava problemas de caixa.

Mas faltou combinar com os sócios, que detestaram a ideia. Para eles, as taxas eram muito altas (2% de administração e 20% de performance), e o desenho do fundo era feito pensando mais na Veremonte do que na saúde financeira da Vanguarda, que cederia metade de suas terras avaliadas em 1 bilhão de reais. Em novembro, no auge do impasse, os representantes de Bañuelos na Vanguarda renunciaram a seu cargo na empresa. 

Briga na justiça

A partir daí, a briga entre o espanhol e seus sócios foi subindo de tom. Bañuelos se sentiu traído por Pivetta, então, maior acionista da Vanguarda Agro, com 27% das ações. Ele afirma que Pivetta não teria cumprido um acordo que o obrigava a apoiar a criação do fundo de terras, além de votar com a Veremonte no conselho de administração da Vanguarda.

O troco de Bañuelos veio pouco mais tarde. Quando vendeu 40% de suas ações na Vanguarda para o espanhol, Pivetta contraiu uma dívida de 90 milhões de reais com o banco BTG Pactual, que deveria ser paga em 23 de dezembro passado. Na mesma data, Pivetta deveria receber uma parcela de 106 milhões de reais de Bañuelos.

O espanhol não pagou a dívida e deixou Pivetta com o pires na mão. Sem dinheiro, Pivetta, que também foi prefeito da cidade mato-grossense de Lucas do Rio Verde, foi obrigado a entregar 10% das ações da Vanguarda que havia dado em garantia ao BTG Pactual.

A partir daí, as versões dos dois lados ficam ainda mais divergentes. Marcelo Paracchini diz que Pivetta foi avisado do não pagamento da parcela devida por Bañuelos e que o valor devido foi depositado em juízo. O advogado de Pivetta, Francisco Pinheiro Guimarães, nega. O fato é que a questão foi parar na Justiça — e cada um dos lados diz que foi responsável por levar a briga aos tribunais. 

Não bastasse o quiproquó com Pivetta­, Bañuelos também brigou com outro sócio, o investidor Helio Seibel, que fez fortuna no setor madeireiro. A pessoas próximas, Bañuelos atribui a mudança de atitude de Pivetta à influên­cia de Seibel, que estaria insatisfeito com o poder do espanhol no controle da Vanguarda.


Além disso, a Veremonte acusa Seibel de ter manipulado o preço de suas ações no fim do ano. No nascimento da Vanguarda Agro, Bañuelos vendeu o equivalente a 8% da empresa para Seibel ao preço de 70 centavos a ação.

Para compensar o risco, comprometeu-se a compensar Seibel financeiramente caso as ações caíssem abaixo desse patamar — em troca, garantiu o direito de preferência, a ser exercido se Seibel decidisse vender suas­ ações. Deu tudo errado. A equipe de Bañuelos acusa Seibel de ter vendido quatro lotes de ações sem garantir o direito de preferência.

Além disso, alega que uma dessas movimentações aconteceu às vésperas de um anúncio de péssimos resultados da Vanguarda, em 14 de novembro. Como se sabe, acionistas controladores são proibidos de movimentar suas ações até 15 dias antes da divulgação de resultados. Como as ações da empresa caíram abaixo dos 70 centavos, Bañuelos diz que a dívida com Seibel soma 300 000 reais. O outro lado cobra 11 milhões de reais do espanhol. 

Sem ter como impor a criação do fundo de terras a seus sócios e afirmando não acreditar no modelo de gestão da Vanguarda, Bañuelos alega que não deve permanecer como sócio da companhia por muito tempo. Em meados de dezembro, ele fez uma grande venda de ações e reduziu sua participação a, aproximadamente, 12%.

“Se em um ano não houver uma mudança na gestão da companhia, vendo tudo”, diz. Caso não consiga uma reviravolta na Vanguarda, algo que hoje parece pouco provável, o espanhol colecionará mais uma frustração em seus planos para o Brasil. Mesmo sua tacada mais acertada não se transformou no sucesso retumbante planejado por ele: a Agre, incorporadora criada por Bañuelos após a compra das empresas Abyara, Agra e Klabin Segall, nunca chegou perto da liderança de mercado.

Meses depois de sua formação, Bañuelos se desentendeu com Luiz Roberto Silveira Pinto, o sócio que administrava a companhia, e fez um acordo com a PDG Realty. A Agre foi incorporada em troca de ações da PDG, que se transformou na maior empresa do setor. Com o negócio, Bañuelos ganhou uma participação de aproximadamente 5% no capital da incorporadora — hoje, depois de vender boa parte das ações, detém cerca de 200 milhões de reais em papéis da PDG.

Os hotéis não saíram do papel, segundo ele, porque o preço dos terrenos disparou e tornou o negócio inviável. O lançamento de uma empresa de balas e bebidas que prometiam melhorar a pele e ajudar a emagrecer foi abortado dois meses depois de ser anunciado.

Investimentos em companhias de turismo, saúde e até na recuperação do Jockey Club de São Paulo também foram colocados de lado. Bañuelos pode até não deixar o Brasil, onde mantém uma bela cobertura em frente ao parque do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo.

“Em 2009 eu disse que vim para ficar pelo menos 40 anos”, diz ele. “Então tenho mais 37 pela frente.” É esperar para ver se essa promessa ele vai cumprir.

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