Harry Schmelzer Jr., presidente da fabricante de motores elétricos WEG: expansão na área de energia renovável / Raphael Günther (Raphael Günther/Exame)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2017 às 05h09.
Última atualização em 16 de novembro de 2017 às 05h09.
O telhado da sede do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, acaba de ganhar um sistema de produção de energia solar. Obra semelhante está em andamento na matriz da Embraer, em São José dos Campos, no interior de São Paulo. O mesmo está sendo feito em 84 agências da Caixa Econômica Federal, metade delas no estado de São Paulo. Na ilha de Fernando de Noronha, 10% da energia consumida vem de duas plantas solares. Na Paraíba, uma associação entre um grupo brasileiro e um dinamarquês resultará numa das maiores estruturas do gênero no país, com capacidade para geração de 93 MW, com início de operação previsto para o primeiro semestre do ano que vem.
Todas essas obras têm em comum a presença da catarinense WEG, desde o projeto e a produção do material até a execução das obras e a gestão dos primeiros tempos de operação. “Como energia solar é uma área ainda muito nova no Brasil, costumamos trabalhar no sistema ‘chave na mão’. O cliente nos contrata e entregamos a solução completa, cuidando de tudo do começo ao fim”, explica o diretor de novas energias da WEG, João Paulo Gualberto da Silva.
Fundada há 56 anos em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, como fabricante de motores elétricos, a empresa tem dado atenção especial às novas modalidades de geração de energia. Passou a trabalhar com a solar há cinco anos e, desde então, viu o interesse do mercado crescer rapidamente. A receita da empresa com os produtos e os projetos ligados à área subiu 70% no ano passado, e a projeção é continuar nesse ritmo pelos próximos anos. A maior procura tem um motivo concreto: a viabilidade financeira do investimento. “Quando começamos, eram necessários oito anos para recuperar o investimento num sistema de energia solar. Hoje, o prazo já caiu para seis anos e vai continuar caindo”, diz Harry Schmelzer Jr., o presidente da WEG, que registrou 144 patentes de novas tecnologias e produtos apenas em 2016.
As obras já realizadas pela empresa em energia solar somam 155 MW de potência instalada, volume suficiente para abastecer 150 000 casas. Para disseminar o uso dessa modalidade entre os consumidores comuns, a WEG criou um kit residencial e treinou mais de 300 parceiros em todo o país — em geral, representantes de pequenas prestadoras de serviços criadas exclusivamente para explorar o potencial da energia solar. A unidade de aerogeradores também cresce. Em 2014, a empresa fez sua primeira entrega na área. Hoje existem 90 aerogeradores da WEG instalados no país.
A fabricante de pás para a geração de energia eólica Aeris se esforça para estruturar processos sustentáveis, desde o apoio aos estudos dos funcionários no interior do Ceará até a revisão da operação dos fornecedores | Maurício Oliveira
Criada em 2010, a fabricante de pás para geradores de energia eólica Aeris mantém uma relação orgânica com a sustentabilidade. Para ratificar a importância do tema também internamente, a empresa criou há dois anos um comitê de sustentabilidade, formado por 20 integrantes, entre executivos, funcionários de diversas áreas e consultores externos. À frente do comitê está a líder da equipe de gestão de qualidade, Sônia Aguiar, responsável por uma série de processos de certificação pelos quais a empresa vem passando desde a fundação em 2010. “A escolha da responsável pela gestão de qualidade para comandar o comitê reforça o conceito de que a preocupação com a sustentabilidade precisa estar diluída em todos os nossos processos”, afirma Bruno Vilela, presidente da Aeris.
Vilela foi escolhido para liderar o negócio como homem de confiança do principal investidor, Alexandre Negrão, que buscava novas oportunidades depois de vender o laboratório farmacêutico Me-dley e se encantou com o projeto da Aeris, planejada por quatro ex-funcionários da Embraer. A empresa se instalou em Caucaia, no Ceará, a menos de 20 quilômetros de um dos principais portos do país, o de Pecém, e tendo 70% do potencial eólico do país num raio de 500 quilômetros — fatores que facilitam a logística de entrega das pás, que chegam a 70 metros de comprimento, tanto para clientes nacionais quanto no exterior.
Ao produzir 900 pás no ano passado, a empresa dobrou de tamanho e alcançou 465 milhões de reais de receita. Com mais de 2 200 funcionários, a Aeris colabora para o aumento do nível de escolaridade da região, já que boa parte dos contratados não tem o ensino médio, e a empresa possibilita a continuidade dos estudos por meio de uma parceria com o Senai. O próximo salto de crescimento deverá vir com a prestação de serviços de manutenção das pás, tanto as próprias quanto as de outros fabricantes. Trata-se de um trabalho complexo, que envolve câmeras infravermelho, drones e técnicas de rapel. A expectativa é obter mais 50% de crescimento no faturamento em 2017, a caminho do objetivo de fechar 2018 na lista das 1 000 maiores empresas do Brasil. “Ao mesmo tempo, queremos ser uma das 100 mais sustentáveis do país e uma das dez melhores para trabalhar no Ceará, pois nossa visão é que todos esses aspectos têm de estar integrados”, afirma Vilela. Em 2017, a companhia reforçou a avaliação de fornecedores em relação a impactos negativos reais e potenciais na segurança, no meio ambiente e na qualidade do produto.
A Tetra Pak produz paletes do reaproveitamento de suas próprias embalagens e investe na capacitação de catadores de material reciclável para fortalecer as cooperativas da área | Vinicius Tamamoto
Em 2016, a sueca Tetra Pak vendeu 188 bilhões de embalagens no mundo todo. No Brasil, a multinacional estima que seus produtos estejam dentro de 95% dos lares. Com um volume tão alto de produção, cresce também a preocupação com o destino dado aos objetos após o uso. Uma das formas que a empresa encontrou para minimizar o impacto ambiental e se beneficiar disso foi investir em paletes feitos com o plástico e o alumínio das embalagens longa-vida que produz. A ideia surgiu em 2014, como um projeto piloto da subsidiária brasileira da companhia. O desafio era transformar em matéria-prima os produtos que seriam descartados, para iniciar um novo ciclo produtivo. “Queríamos dar maior valor ao objeto reciclado”, afirma Valéria Michel, diretora de meio ambiente da Tetra Pak no Brasil. Hoje, a invenção é usada na movimentação interna de materiais dentro das próprias fábricas e para o transporte de produtos até os clientes. Eles substituem os tradicionais, feitos com madeira, que, por serem mais difíceis de higienizar, têm vida útil menor.
Para a fabricação de cada estrado, a Tetra Pak atua em parceria com a empresa Green Pallet, que mescla 27 quilos de resíduos plásticos provenientes de cerca de 2 000 embalagens longa-vida a outros tipos de material plástico. Em dois anos foram produzidos 1 000 paletes, o que significa quase 2 milhões de embalagens recicladas. O objetivo agora é alcançar a mesma quantidade em apenas um ano.
A iniciativa faz parte da estratégia global da empresa, que, desde 2010, incluiu formalmente a sustentabilidade como um de seus pilares estratégicos, ao lado de inovação, performance e crescimento. Em países desenvolvidos, a companhia já tem embalagens totalmente renováveis, lançadas pela matriz sueca em 2015. No Brasil, por causa dos custos envolvidos na produção, o conteúdo renovável cai para 82%, uma batalha que ainda precisa ser vencida.
A Tetra Pak percebeu que, por aqui, não basta investir em infraestrutura. É preciso também capacitar empreendedores para conduzir negócios rentáveis a fim de fomentar o ciclo da reciclagem. Por isso, passou a investir na capacitação de catadores de material reciclável, fortalecendo as cooperativas da área. Por meio de palestras, os participantes aprendem desde princípios para a gestão de fluxo de caixa até maneiras de identificar e preparar sucessores. Criado em 2014, o projeto já formou 105 líderes de 24 cooperativas em 13 cidades do estado de São Paulo. “A ideia é reforçar essa atua-ção”, afirma Valéria, da Tetra Pak.