Jorge Viana, presidente da ApexBrasil: entidade apoiou mais de 18.000 empresas neste ano (Eduardo Frazão/Exame)
Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 06h00.
Em 20 anos, o Brasil mais que triplicou o valor de suas exportações. Em 2004, enviamos para o mundo produtos que totalizaram 96 bilhões de dólares. E quando houve a marca de 100 bilhões de dólares um contêiner foi pendurado na frente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) para comemorar. Neste ano, caminhamos para exportar mais de 340 bilhões de dólares. É uma trajetória significativa, mas ainda há muito a fazer: somos atualmente o 25o país que mais exporta no mundo, com pouco mais de 1% da participação global das exportações, segundo dados do Observatório de Complexidade Econômica, uma plataforma que compila dados de comércio global. “Há 20 anos, falávamos sobre poucos bilhões em exportação. Hoje, graças ao trabalho de empresários, empresárias e da ousadia dos negócios brasileiros, temos milhares de empresas. Neste ano batemos um recorde: mais de 18.000 empresas apoiadas”, disse Jorge Viana, presidente da -ApexBrasil, durante a abertura do Prêmio ApexBrasil Melhores dos Negócios Internacionais 2024, feito em parceria com a EXAME, para celebrar as empresas que exportam no país, independentemente de seu tamanho.
O dado citado por Viana é alvissareiro, uma vez que o cenário mapeado pelo MDIC em 2023 mostra que apenas 0,88% das companhias nacionais exportavam. Os dados também revelaram que houve pouco avanço desde 2010, quando essa proporção era de 0,8%. Na Alemanha, esse dado é de 10%, e na Holanda, de 8,4%. “Competir no exterior é muito mais difícil do que vender para o mercado doméstico, e superar os obstáculos para exportar leva tempo”, destacou o estudo do MDIC. Aumentar essa participação no mercado externo é essencial para ampliar a renda e a produtividade das empresas, como apurou outro estudo do MDIC, divulgado em primeira mão pela EXAME em outubro. A pesquisa revelou que o total de empresas do Brasil que exportam para os Estados Unidos bateu um recorde histórico em 2023. Foram 9.533 companhias, que pagam melhores salários aos funcionários e empregam mais mulheres, na comparação com companhias que vendem para outros países.
Vencer as barreiras para exportar é problema das empresas, e também do governo. No copo meio cheio da equação, o Brasil reduziu o tempo médio gasto com os trâmites de suas exportações entre 2015 e 2020, segundo o MDIC. Mas os custos associados a esses processos ainda são elevados na comparação com outros países — dados do Banco Mundial mostram que as empresas precisam desembolsar 862 dólares para cumprir as burocracias aduaneiras, enquanto nos Estados Unidos esse valor é de 175 dólares.
Em entrevista à EXAME (leia abaixo), o vice-presidente e titular do MDIC, Geraldo -Alckmin, falou sobre os planos do governo para diminuir esses custos. “Estamos fazendo um Portal Único de Exportação e Importação. Isso pode reduzir o custo do Brasil em 24 bilhões de reais por ano. Com o Portal Único, você desburocratiza, reduz em quatro dias o desembaraço das cargas”, afirmou. Além disso, ele aposta nos efeitos benéficos de longo prazo da reforma tributária, que acaba com a cumulatividade de crédito. “Ela desonera totalmente o investimento e desonera totalmente a exportação”, disse Alckmin.
Em um plano mais amplo, o país tem avançado em acordos com blocos comerciais e entendimentos bilaterais. O exemplo inescapável é a assinatura, em dezembro, do acordo do Mercosul com a União Europeia, além do estreitamento de laços com a China, o maior parceiro comercial brasileiro. Segundo Alckmin, com o novo acordo com os europeus, será possível aumentar de 14% para 30% o número de empresas brasileiras com acordo preferencial com o bloco. “E vamos aproveitar essa energia para fazer acordo com a EFTA [Associação Europeia de Livre Comércio], com os Emirados Árabes, para avançar ainda mais na integração da economia mundial, gerando emprego, renda e oportunidade”, disse.
No prêmio, 16 empresas, personalidades e associações, de pequenas, como as produtoras Carmen Lydia Junqueira -Meirelles e Raquel Meirelles, cujo café se destacou na Cup of Excellence, a Copa do Mundo do café deste ano, a gigantes como a JBS, a maior processadora de alimentos do mundo, foram contempladas em sete categorias. O presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, foi eleito personalidade exportadora do ano (confira os vencedores na tabela abaixo).
O Brasil tem hoje uma corrente de comércio — a soma entre exportações e importações — próxima de 600 bilhões de dólares. Mas tem uma meta mais arrojada feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): chegar a 1 trilhão de dólares. Com uma missão ambiciosa, nada mais importante do que todas as empresas brasileiras estarem no jogo global, desbravando novos mercados e desmistificando crenças de que não podem competir com o mundo. Das gigantes às pequenas.
Vice-presidente e ministro, Geraldo Alckmin destrincha a estratégia para impulsionar a exportação de pequenas empresas | Antonio Temóteo e Luciano Pádua
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou, em entrevista exclusiva à EXAME, que a cultura exportadora precisa ser fortalecida no Brasil. Segundo ele, empresas que vendem para outros países faturam mais, pagam melhores salários e mudam de patamar. Para ajudar nesse processo, ele afirma que o governo precisa desburocratizar processos e fazer acordos comerciais, como o que deve ser assinado entre Mercosul e União Europeia.
A economia pode crescer até 3,5%, gerar empregos, mas o mercado segue pessimista com as contas públicas. Há exagero?
Primeiro, [é importante] destacar o crescimento da economia, a queda do desemprego, que é importante, e o aumento da massa salarial. Aliás, o melhor exemplo disso é o crescimento da indústria e dos bens de consumo duráveis. As vendas de geladeira, fogão, máquina de lavar roupa, linha branca, linha marrom e televisão aumentaram 25% neste ano. Então, aumentou o crescimento da economia neste ano. No ano passado, [o crescimento foi de] 3,2%. E, neste ano, [o crescimento] pode chegar a 3,5%. Sobre a questão fiscal, o governo aprovou o arcabouço fiscal. Ou seja, a meta é zerar o déficit primário e, para atingi-lo, encaminhou ao Congresso um conjunto de medidas pelo lado da despesa, para reduzi-la. São medidas imediatas, de curto prazo, e também de médio prazo. Então, aprovado esse conjunto de projetos ainda neste ano, isso deve trazer mais segurança para a área econômica.
O mercado já trabalha com juros em 15% em 2025. Como o senhor recebe essas estimativas?
Gosto muito do modelo dos Estados Unidos, no qual o Banco Central americano tem duas missões. Uma é emprego. A outra missão é controlar a inflação. Mas não considera nesse controle da inflação alimento e energia. Por quê? Porque alimento é clima. Se tenho uma seca muito grande, a safra cai e o preço sobe. Não adianta aumentar juros, que não vai chover por causa disso ou parar de chover. A outra: energia, como petróleo. Isso é geopolítica, guerra. Não adianta aumentar juros, só vou atrapalhar a economia e não vai reduzir o preço do barril de petróleo por causa disso. É preciso aprimorar um pouco essa questão do controle inflacionário.
Depois de 25 anos, o acordo do Mercosul com a União Europeia está saindo do papel. Qual é a expectativa do senhor para a finalização do processo?
É um acordo histórico. Faz um quarto de século. É estratégico. Vai ter um acordo de parceria, de complementaridade econômica, exportação, importação, com 27 dos países mais ricos do mundo. O Mercosul abriu mais: no começo do ano, foi com Singapura. Agora, União Europeia. Está com energia para a gente caminhar para o EFTA [Associação Europeia de Livre Comércio, que reúne Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça], Emirados Árabes. Isso é um ganha-ganha. Aumenta o PIB, aumenta emprego. À medida que você tem mais competitividade, reduz a inflação. E é um bom exemplo para o mundo. Num mundo tenso e fragmentado, mostra que o diálogo tem caminho para abrir mercado, fazer parceria. E estamos falando de um bloco que tem mais de 718 milhões de pessoas e 22 trilhões de dólares. É o maior acordo entre blocos econômicos.
O que a nossa indústria pode ganhar com o acordo?
Todos os setores, uns mais, outros menos, podem se beneficiar. O receio da França é exagerado porque, no caso da agricultura, não é uma abertura de 100%. Você tem cotas, você tem limites, você tem regras. Isso é gradual. O Brasil tem, em números redondos, 2% do PIB do mundo [no comércio exterior]; 98% do comércio está fora do país. Então, o comércio exterior hoje é fundamental. E queria destacar aqui o trabalho da Secex [Secretaria de Comércio Exterior], da Tatiana Prazeres. Estamos fazendo um Portal Único de Exportação e Importação. Isso pode reduzir o custo do Brasil em 24 bilhões de reais por ano. Porque com o Portal Único você desburocratiza, reduz em quatro dias o desembaraço das cargas. E destacar também a reforma tributária, que acaba com a cumulatividade de crédito. Ela desonera totalmente investimento e desonera totalmente exportação.
Hoje, 1% das empresas brasileiras exportam. Como aumentar o número de brasileiras exportadoras?
Precisamos fortalecer a cultura exportadora. E esse evento de parceria entre ApexBrasil e a revista EXAME é um bom exemplo. A empresa que exporta tem upgrade, paga melhor, tem contrato a mais, salários mais altos. Muda de patamar. São mais empresas exportando. [Então, precisamos] desburocratizar, reduzir custo, fazer acordos comerciais, [aumentar a] competitividade. O presidente Lula mandou ao Congresso um projeto de lei para fazer o Acelera Exportação. Quando chegar a 2032, não tem mais cumulatividade de crédito [porque] vai estar totalmente implantada a reforma tributária. Só que até lá tem um caminho. Então, o que estamos fazendo? Um Reintegra de Transição para as pequenas empresas. Vou devolver 3% do valor da sua exportação imediatamente. Isso está no Congresso. Vamos dar um impulso para a pequena empresa exportar. Um bom exemplo é a Itália, onde muitas pequenas empresas exportam.