O repórter em ação (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 18 de julho de 2019 às 05h15.
Última atualização em 18 de julho de 2019 às 15h20.
Só não cai quem não anda. De todas as máximas sobre o mundo das motocicletas, nenhuma é mais verdadeira do que essa. Lembrei disso quando a moto saiu de traseira e apontou para uma ribanceira. Meu coração disparou, consegui corrigir, mas agora estava de cara para um barranco. Entre um e outro, caí no chão na estrada. Foi como se o tempo parasse. A moto ficou e eu fui por cima dela. De braço esticado, bati no chão primeiro com a mão esquerda, girei e logo me estatelei de costas.
Não sei quem chegou antes, se foi a dor ou a vergonha. Não demorou e logo os outros pilotos vieram me socorrer. Tomar aquele capote espetacular com uma moto de teste é o tipo de coisa que você não quer que aconteça nunca, mas sabe que o risco é grande.
O tombo aconteceu no lançamento mundial da nova Scrambler 1.200 da Triumph, nas estreitas estradas perto da cidade de Faro, na região do Algarve, em Portugal.
Scrambler é um nome genérico para um tipo bem específico de moto, um modelo street, urbano, adaptado para uso offroad. Para isso, originalmente, adaptava-se a suspensão, colocava-se o escapamento em uma posição mais distante do solo, diminuía-se a extensão do assento, retirava-se o excesso de carenagem.
Dessa forma, estava pronta para chafurdar na lama, como sua famosa ancestral, a TR6C Trophy, também da Triumph. Isso mesmo, aquela que Steve McQueen usou para pular o arame farpado e fugir dos nazistas no filme Fugindo do Inferno, de 1963.
Nas novas versões, o visual retrô foi mantido. Quando a Triumph me convidou para testar a nova Scrambler 1.200 no sul de Portugal, tive de responder à pergunta de praxe: você tem experiência na terra?
A verdade é “não, não manjo nada de lama”, mas, com receio de ser vetado no lançamento, respondi que sim. Já estive em dezenas de outros testes em que me perguntaram a mesma coisa e, no fim, o trecho de terra tinha 5 quilômetros de chão batido e nada mais. Desta vez foi bem diferente.
Para mostrar todo o potencial da Scrambler, a Triumph programou um dia inteiro só na terra, começando nas pistas de uma escola local de pilotagem offroad e depois passando por pequenas estradas que cortam a provinciana paisagem.
A escolha da cidade não foi por acaso. Além de suas belas praias e da pitoresca paisagem rural montanha acima, Faro é reconhecida como a capital europeia dos motociclistas. Todo mês de julho, milhares de entusiastas se concentram em seus arredores para participar da Concentração Internacional de Motos, tradicional evento promovido pelo moto clube local.
No dia do teste, confesso que estava um pouco apreensivo com tanta lama. Comecei devagar, ficando por último no grupo. Fui sentindo a moto e me adaptando. Logo os quilômetros de terra foram passando e minha confiança cresceu. Acelerei e saí da retaguarda. Em dado momento, já andava próximo a nosso guia. Entra em poça e sai de poça, a paisagem passa e o receio também. Relaxei, me deixei levar pela emoção e me empolguei mais do que deveria.
Entre mortos e feridos, saí com o corpo dolorido, o ego destroçado e o coração apaixonado. Como jornalista especializado, tenho o privilégio de pilotar um sem-número de motocicletas. De algumas eu gosto muito, de outras nem tanto, e de vez em quando acontece de alguma virar paixão. Desta vez foi assim.
Com essa moto, a Triumph se superou. Elevou sua Scrambler a outro nível. Entregou um modelo com visual clássico e desempenho de big trail, tipo de moto com suspensão mais alta e pneus próprios para a terra. O resultado: um conjunto enxuto e bem-acabado, equilibrado e sem excessos.
Para chegar a essa mistura, o segredo passa pela suspensão. Para isso, a marca chamou a Öhlins, reconhecidamente uma das melhores fabricantes de amortecedores do mundo, e encomendou o desenvolvimento de um produto exclusivo, de largo curso, totalmente ajustável e que pudesse entregar alto desempenho na configuração tradicional de dois amortecedores traseiros.
E funciona? Sim, muito. Tenho certeza de que um piloto menos atrapalhado do que eu poderia levar essa moto a qualquer lugar que uma big trail vai. E o melhor: vestindo calça jeans e jaqueta de couro. Explico: nunca fui muito fã das big trails. Acho pavoroso o bico de pato, aquela proteção que fica sobre o paralama, e jamais vestiria uma parca impermeável. Mas sempre morri de inveja de tudo o que essas motos podem fazer.
Na hora de devolver a moto, eu já estava certo que meu sentimento por ela era verdadeiro. Meu peito ficou apertado.
A Scrambler vem em duas versões: a 1.200 XC, com entre-eixos mais curto, muito boa de curvas e ligeiramente mais vocacionada para o asfalto, e a topo de linha 1.200 XE, com incríveis 250 mm de curso nas suspensões traseira e dianteira, imbatível no fora de estrada. Ambas vêm com motor refrigerado a líquido com 8 válvulas e tanque com capacidade para 16 litros de gasolina.
A eletrônica embarcada é de ponta: plataforma inercial, um exclusivo sistema de navegação desenvolvido em parceria com o Google, conectividade TFT de segunda geração, piloto automático descomplicado, ride by wire, computador de bordo com seis diferentes modos de pilotagem e ajuste individual de ABS e controle de tração. Toda a informação fica acessível num painel digital de fácil leitura, que respeita as linhas arredondadas dessa clássica moto.
O controle é feito pelos manetes (aquecidos, detalhe), que, numa parceria com a GoPro, podem, inclusive, controlar a Hero 7. Há também uma necessária porta USB. A Scrambler é, por essência, uma moto que não tem medo do chão. Mas nem por isso é menos sofisticada.