Joelma Guimarães: sua missão é ajudar estudantes a construírem projetos de vida (Mariely Souza/Divulgação)
EXAME Solutions
Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 10h00.
Sem nunca ter deixado os bancos escolares, desde os tempos de menina na rede pública, Joelma Guimarães aprendeu toda a teoria sobre os princípios da gestão democrática que hoje aplica à frente da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Santíssima Trindade, no município de Iúna, Espírito Santo. Jovem, sorridente e cheia de energia, ela fala mais de progressos do que de desafios e contagia professores, estudantes e famílias. “A boa liderança começa pela motivação”, resume.
Natural de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e formada pela Universidade Federal do Espírito Santo, iniciou a carreira como professora de artes, interessada em despertar nas turmas habilidades que iam além do conteúdo formal: criatividade, tolerância à frustração, persistência e colaboração. Em 2013, foi convidada para assumir a disciplina de Projeto de Vida na Escola Henrique Coutinho, uma das primeiras do estado a adotar o modelo de ensino médio integral — e nunca mais saiu desse caminho.
Após quase uma década, Guimarães se tornou diretora da Escola Bráulio Franco, em Muniz Freire, e desde 2023 lidera a Santíssima Trindade, escola com mais de 800 estudantes em diferentes modalidades: ensino médio integral, Educação de Jovens e Adultos (EJA), curso técnico e Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Das 7 às 22 horas, os corredores permanecem cheios, num ritmo intenso que exige da equipe não apenas organização mas visão empreendedora. “É muito satisfatório fazer parte dessa expansão; é um orgulho ver quanto já superamos”, diz.
Hoje, o Espírito Santo conta com 155 escolas de ensino médio integral, com base nos dados do último Censo Escolar*. Isso significa mais da metade das es[1]colas e um terço das matrículas, um avanço que representa uma mudança de paradigma.
“Esse modelo amplia a jornada escolar, com foco no fortalecimento da aprendizagem e no acompanhamento individualizado, apoiando a construção do projeto de vida. Assim, asseguramos que os estudantes capixabas desenvolvam suas trajetórias educacionais com mais protagonismo, auto[1]nomia e oportunidades para o futuro”, diz Vitor de Angelo, secretário de Educação do estado do Espírito Santo.
A gestão de Guimarães traduz os pilares do ensino médio integral em ações concretas. O protagonismo juvenil, por exemplo, aparece tanto na formação de líderes estudantis quanto no projeto Geração Protagonista, que conecta jovens de várias escolas em torno de ideias coletivas. Também se expressa na Feira Anual dos Cursos Técnicos, evento que movimenta a cidade de Iúna, levando suas invenções ao público.
Outro eixo, o Projeto de Vida, conduz reflexões sobre escolhas acadêmicas e profissionais. Nesse ponto, a diretora se orgulha ao falar dos egressos: “Eles costumam vir à escola para nos contar que ingressaram na universidade. Não é sobre a aprovação em si, é sobre saber que eles podem construir seu projeto de vida”.
O perfil de gestor escolar no ensino médio integral valoriza tanto a liderança pedagógica quanto a capacidade de articular redes de colaboração — com foco em desenvolvimento integral, aprendizagem significativa e gestão pautada na escuta e no fortalecimento de vínculos. E é isso o que Guimarães faz.
Sua liderança é marcada por rituais simbólicos, fruto do modelo de educação integral: reuniões semanais com professores e estudantes para definir prioridades, plantões de escuta com as famílias e até cafés com bolo para celebrar conquistas. Pequenos gestos que reforçam pertencimento e confiança.
A postura colaborativa vem com uma visão estratégica: acompanhar indicadores internos, metas de aprendizagem e resultados de avaliações nacionais. Em 2023, o Espírito Santo foi destaque no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pela qualidade das redações, segundo dados do Ministério da Educação. Guimarães não hesita em atribuir o desempenho à ênfase no pensamento crítico e na escrita. “Saber escrever bem significa saber pensar bem”, sintetiza.
À frente da Santíssima Trindade, ela projeta uma escola que olha para os estudantes em sua integralidade — “mais do que tempo integral, visamos a educação integral”, afirma. Uma gestão de resultados, mas também de afeto e escuta, que a coloca no papel de uma verdadeira CEO da educação pública, capaz de motivar, delegar, inovar e inspirar.
