Fabiano Rios: ”As empresas estão bem e a inflação caindo é o melhor cenário para os preços dos ativos“ (Leandro Fonseca/Exame)
Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 06h00.
Há dois anos a indústria de fundos do país vem enfrentando um cenário desafiador, com saldo de resgates líquidos elevado. Foram dois anos seguidos de saques, com 109 bilhões de reais em resgates no ano passado. Ainda é cedo para dizer que 2024 não deve seguir o mesmo caminho, mas a perspectiva é, em geral, positiva. Em janeiro, os fundos já apresentaram captação líquida de 49,8 bilhões de reais, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O otimismo está ancorado na continuidade do ciclo de corte de juro do Brasil e no fim do aperto monetário nos Estados Unidos.
Neste cenário de mudança, é preciso um olhar clínico para encontrar as boas oportunidades. De olho nisso, a edição especial Onde Investir 2024 tem como destaque o Prêmio Melhores do Mercado, o mais tradicional ranking de fundos de investimento do país. O ranking foi elaborado pelo BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), partindo de uma metodologia definida pela EXAME com a ajuda de especialistas em investimentos. Premiamos os fundos que tiveram a melhor performance dos últimos dois anos, combinando consistência com gestão de risco (a metodologia completa está no site da EXAME). Nas páginas a seguir, os gestores compartilham sua estratégia e sua visão. Confira, ainda, uma entrevista especial com a Absolute, a Asset do Ano do Prêmio Melhores do Mercado.
ASSET DO ANO | Absolute Investimentos
Absolute Investimentos ganhaPrêmio Melhores do Mercado. Com olhar oposto ao do mercado, a gestora acreditou na bolsa americana
A Absolute Investimentos completou dez anos em 2023. O período, embora pequeno quando se trata de investimento de longo prazo, foi suficiente para a gestora se consolidar entre as principais do país. Desde 2013, quando formada por um grupo de sócios com extensos currículos no mercado, a gestora viu seus números multiplicarem. O primeiro bilhão de reais sob gestão veio em 2017. De lá para cá, o volume em investimentos multiplicou para 34 bilhões de reais. Cresceu também o número de pessoas e áreas de atuação. A equipe, que era de dez pessoas em 2015, hoje é de 59 — 13 na gestão, 22 na análise e 24 no suporte. A última cartada foi no mercado de crédito, com a compra da Dhama e a entrada de Fabiana Moraes no corpo de sócios. Tiago Sant’anna, CEO da Absolute, conta em entrevista à EXAME que ter tamanho e diferentes estratégias se tornou fundamental para sobreviver no longo prazo. “Gestoras monoprodutos, mesmo tendo qualidade, ficam muito expostas aos ciclos econômicos e há sinergias importantes em atuar em uma variedade de categorias.” Foi o alinhamento que contribuiu para que a Absolute estivesse entre os melhores fundos multimercado macro e ações long biased. A ideia central, contou Fabiano Rios, CIO da Absolute, foi a perspectiva de que o Federal Reserve tentaria evitar uma recessão nos Estados Unidos. “O mercado achava que estávamos loucos, mas esse foi o nosso grande acerto de 2023. O fato de termos um nível de acerto muito alto no macro nos ajuda a ter uma performance acima da média em outros produtos”, diz Rios.
Rios recorda que a visão era totalmente oposta à dominante no mercado. “Acreditávamos que havia uma chance muito maior do que a precificada de o Federal Reserve controlar a inflação sem que os Estados Unidos entrassem em uma grande recessão.” Nesse cenário, disse o CIO, o melhor ativo para ter seria a bolsa americana. Essa perspectiva teve efeito significativo sobre os fundos da casa, como os multimercados premiados e o de ações long biased. “O Rios estava bastante construtivo para a bolsa americana. Então, não ficamos vendidos, como boa parte do mercado. Pelo contrário, compramos muito, o que contribuiu para a performance do fundo”, conta Christian Faricelli, sócio e gestor de ações da Absolute.
Pela perspectiva da Absolute, as empresas deveriam apresentar crescimento de lucros e múltiplos. Os principais índices de Nova York, de fato, tiveram ótimas performances. O S&P e o Nasdaq saltaram 24% e 43%, respectivamente. A maior parte da alta, no entanto, ficou restrita aos aumentos de lucros. “Acreditamos que a expansão de múltiplos ainda vai acontecer.” Segundo ele, podemos estar no início de um ciclo de apetite ao risco, com crescimento forte e inflação baixa, motivado pelo ganho de eficiência com a inteligência artificial. “Não consigo ver um cenário melhor para ações, especialmente para as americanas.”