Revista Exame

Inclusão e diversidade para produzir moda sustentável

A Renner capacita e contrata mulheres refugiadas de vários países e investe na venda de produtos com matérias-primas ou processos de menor impacto ambiental

Fabio Faccio, presidente da Lojas Renner: 25 milhões de peças vendidas com o selo de moda responsável (Germano Lüders/Exame)

Fabio Faccio, presidente da Lojas Renner: 25 milhões de peças vendidas com o selo de moda responsável (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 7 de novembro de 2019 às 04h56.

Última atualização em 7 de novembro de 2019 às 10h23.

Até o fim deste ano, a varejista de moda Lojas Renner deverá inaugurar mais uma unidade em solo gaúcho, no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre. Entre os funcionários contratados para a nova loja está uma refugiada, que passou por uma capacitação de 175 horas em atendimento e vendas para o varejo, dentro do projeto batizado de Empoderando Refugiadas.

Desde que iniciou o programa, em 2016, o Instituto Lojas Renner, braço social da rede varejista, ofereceu formação para mais de 300 mulheres refugiadas, vindas de países como Venezuela, Bolívia, Colômbia, Haiti e Nigéria. Mais de 50 delas já foram contratadas pela Renner, que opera 582 lojas no país, incluindo as bandeiras Camicado, Youcom e Ashua.

Os cursos de qualificação profissional, nas modalidades de atendimento e vendas ou modelagem e costura, já foram realizados em seis capitais brasileiras. A escolha das cidades segue a lógica de abertura de novas lojas da rede para que o maior número de formandas seja aproveitado. “Além da inclusão social, o programa traz mais diversidade para a empresa”, diz Fabio Faccio, presidente da Lojas Renner. “As diferenças de opiniões e de vivência das refugiadas ajudam a tornar a empresa mais rica, oferecendo melhores soluções para os clientes.”

A capacitação para refugiadas, assim como todas as ações do Instituto Renner, integra o selo Re — Moda Responsável, um guarda-chuva para as iniciativas de sustentabilidade da varejista.

Desde o ano passado, a Renner vende coleções com esse selo, que indica produtos fabricados com matérias-primas ou em processos de menor impacto ao meio ambiente. São peças como um jeans feito de fio reciclado, camisetas de algodão e viscose certificados, roupas de poliamida biodegradável ou de outros tecidos que agridem menos o ambiente. “O selo Re envolve toda a nossa estratégia de sustentabilidade, desde a inclusão social e a gestão de fornecedores até a economia de recursos naturais”, afirma Faccio.

Como toda a produção é terceirizada, um dos desafios da Renner é a capilaridade da cadeia de fornecedores — só os produtos diretos para revenda envolvem cerca de 300 fornecedores no país, número que passa de 2.000 se incluídos os prestadores de serviços. “É uma cadeia robusta, e o maior desafio é conseguir o engajamento de todos para que tudo ocorra da forma mais sustentável possível”, diz Faccio. Neste ano, até setembro, 25 milhões de peças vendidas pela Renner, ou 30% do total, foram confeccionadas dentro do conceito de moda sustentável. A meta até 2021 é elevar o índice para 80%.


ENTREGAS MAIS RÁPIDAS — E COM MENOS IMPACTO

A empresa de comércio eletrônico B2W Digital tem o desafio de fazer entregas com mais eficiência sem deixar de lado a preocupação com o meio ambiente | Gabriella Sandoval

Com o avanço, no Brasil, de gigantes do setor (leia-se Amazon.com), a varejista B2W Digital tem metas ousadas. Até o fim deste ano, pretende conectar 40.000 vendedores à sua plataforma de comércio eletrônico (ante 22.000 em 2018) e aumentar o sortimento de produtos para 20 milhões de itens (eram 8 milhões no ano passado).

Para que os produtos cheguem aos consumidores com mais rapidez e eficiência, a companhia criou a Let’s, uma plataforma de gestão compartilhada dos ativos de logística de suas operações online e da Lojas Americanas. O objetivo é otimizar os processos por meio de um modelo flexível de estoque, armazenagem e entrega. A Let’s é responsável pela operação da B2W Entrega (tipo de entrega padrão disponível aos lojistas parceiros) e pelo programa Fast Delivery, que reduziu à metade os prazos de entrega do comércio eletrônico.

“Atualmente, 50% das entregas da plataforma já são feitas em até dois dias”, diz Fábio Abrate, diretor financeiro e de relações com investidores da B2W Digital, empresa que detém as marcas Americanas.com, Submarino, Shoptime e Sou Barato. Abrate refere-se a um programa lançado em junho do ano passado que estabelece um novo formato para o menu de fretes oferecidos. Entre eles há opções como Click & Collect Now (o produto fica disponível na loja em 1 hora), entregas em 2 horas (opção disponível para as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro) e Same Day (entrega em até 8 horas).

Uma das iniciativas de destaque é o projeto Last Mile, uma parceria com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, dos Estados Unidos, para automatizar o processo de planejamento da distribuição e reduzir o tempo no trânsito. Foi desenvolvida uma plataforma que permite simular, analisar e otimizar a configuração dos recursos de transporte (unidades, bases, tipo de veículo, capacidades físicas) em função dos volumes de entrega. “Toda a frota da B2W é submetida a rigorosas vistorias, mitigando a ocorrência de motores desregulados e reduzindo os impactos negativos no meio ambiente”, afirma Abrate. Em agosto de 2018, foi a vez de os centros de distribuição localizados em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro iniciarem a entrega de mercadorias pequenas, como celulares, eletroportáteis, livros e jogos, por meio de bicicletas — já foram realizadas mais de 53.000 entregas ao todo. “Além dos benefícios ambientais, que incluem a emissão zero de gases nocivos e a diminuição da poluição sonora, o crescimento da entrega por bike tem se mostrado um fomentador de renda”, diz Abrate. Em nove meses, o projeto evitou a emissão de 8 toneladas de CO2.


TODO O PODER (OU PELO MENOS A METADE) ÀS MULHERES

Na francesa Leroy Merlin, as mulheres representam metade dos clientes. a busca agora é promover a equidade também no ambiente de trabalho | Humberto Maia Junior

Em tempos de revisão dos papéis atribuídos a cada gênero, foi-se a época em que reforma de casa era “assunto de homem”. Nos home centers, varejistas que vendem material de construção e peças de acabamento, o número de mulheres clientes é cada vez maior. Na Leroy Merlin, metade das vendas é para clientes do sexo feminino. O desafio agora é aumentar a participação delas entre os funcionários de todos os níveis. Os resultados começam a aparecer e, se ainda não espelham um cenário de equidade, mostram um avanço. Há dois grandes desafios: aumentar o número de mulheres nos quadros de liderança e melhorar o ambiente para as funcionárias nas lojas, que ainda está longe do ideal.

Os esforços da empresa francesa, presente no Brasil desde 1997, começaram no final de 2016, quando se tornou signatária do movimento HeForShe, da Organização das Nações Unidas, que promove a igualdade de gênero nas empresas. Hoje, 35% dos cargos de gestão na Leroy Merlin são ocupados por mulheres, ante 27% em 2017. A meta é chegar a 50% em três anos. Uma das ações para isso é oferecer cursos de mentoria para mulheres que desejem progredir na carreira.

Estudos mostram que elas têm menos confiança para se candidatar em processos seletivos. Um deles, da Universidade Harvard, dos Estados Unidos, revelou que as mulheres só se candidatam a vagas quando preenchem 100% dos requisitos — entre os homens o índice é de 60%. “As mulheres têm, na média, melhor qualificação do que os homens, mas impõem a si próprias uma barreira muito grande”, diz Weber Niva, líder de transformação humana, organizacional e desenvolvimento responsável da Leroy Merlin no Brasil. “Nosso trabalho de coaching ajuda a mostrar que elas estão prontas para ser promovidas.”

Outro desafio é melhorar a qualidade de vida das funcionárias. Desde 2010, a Leroy Merlin dá 180 dias de licença-maternidade e busca criar um ambiente favorável ao retorno das mulheres à empresa. Mas falta flexibilizar o trabalho para elas. “Somos uma empresa de varejo, na qual há trabalho no sábado e no domingo”, diz Niva. A diferença salarial entre homens e mulheres que ocupam as mesmas funções na Leroy Merlin é de 3,5%, bem menor do que a média nacional de 20%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. As ações pela inclusão feminina tornaram a operação brasileira um modelo a ser seguido por unidades de outros países. Mas isso não significa que a situação seja considerada satisfatória. “Há avanços interessante e paulatinos, mas, numa escala de 0 a 10, estamos com a nota 6”, afirma Niva.


UMA AJUDA PARA A CONQUISTA DO PRIMEIRO EMPREGO

A Lojas Americanas investe em programas sociais para capacitar jovens dispostos a trabalhar no setor e fomenta o empreendedorismo entre indígenas | Gabriella Sandoval

A inserção de jovens no mercado de trabalho tornou-se um dos grandes desafios da Lojas Americanas, uma das maiores redes de varejo do Brasil. A preocupação faz sentido. Representante de um dos setores que mais empregam no país, a companhia vem investindo em projetos sociais com o intuito de ajudar a reduzir a desocupação entre pessoas com idade de 18 a 24 anos — nessa faixa etária, uma em quatro pessoas no Brasil estava sem trabalho no primeiro trimestre deste ano. “Com mais de 1.500 lojas e presença em mais de 600 cidades, temos ciência de nosso impacto e, principalmente, de nosso papel social”, afirma Carlos Padilha, diretor financeiro e de sustentabilidade da Lojas Americanas.

Desde 2016, a empresa é uma das patrocinadoras do Instituto Rumo Náutico, associação sem fins lucrativos do Rio de Janeiro que integra o Projeto Grael, criado pelos medalhistas olímpicos Lars, Axel e Torben Grael e Marcelo Ferreira. O programa tem o objetivo de democratizar o acesso de jovens à prática do esporte e prepará-los para o mercado de trabalho. A rede varejista fechou uma parceria também com o Senac para oferecer um curso técnico de varejo. A meta é qualificar 90 jovens para o mercado de trabalho até o fim deste ano. Outro projeto, o Galpão Aplauso, é patrocinado desde 2015 com o objetivo de preparar jovens moradores da Baixada Fluminense e da zona oeste do Rio para que se tornem operadores de logística. Desde o início do projeto, foram capacitados 303 jovens.

Além da preocupação de inserir o jovem no ambiente de trabalho, a Lojas Americanas firmou uma parceria com a Fundação Amazonas Sustentável, ONG que defende o desenvolvimento sustentável das comunidades ribeirinhas do Amazonas, para promover o artesanato local. Os produtos confeccionados pelas comunidades indígenas são oferecidos no site da empresa e o valor das vendas é repassado integralmente aos produtores.

Ao mesmo tempo que desenvolve projetos que beneficiam toda a comunidade, a Lojas Americanas está revendo as práticas internas. No ano passado, a companhia foi processada em 11 milhões de reais por assédio moral contra funcionários com deficiência. Embora não comente processos em curso, Padilha afirma que a empresa “repudia e pune com rigor qualquer prática de assédio”. “Como medida preventiva, seguimos estimulando o acionamento do Disk Alerta, canal sigiloso para o atendimento especializado de denúncias referentes a práticas não aceitas pela companhia, e disseminando os princípios do código de ética e conduta para coibir tais ações”, diz Padilha.

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