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"Falar de Marx e de religião é a mesma coisa"

Para o historiador e escritor britânico David Price-Jones, a teoria marxista foi um “modismo do passado” e não tem mais o que acrescentar às novas gerações


	David Pryce-Jones sobre Eric Hobsbawm (foto): "No futuro, Hobsbawm será uma nota de rodapé na história do século 20"
 (Wesley/Keystone/Getty Images)

David Pryce-Jones sobre Eric Hobsbawm (foto): "No futuro, Hobsbawm será uma nota de rodapé na história do século 20" (Wesley/Keystone/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 24 de outubro de 2012 às 05h00.

São Paulo - Morto no último dia 1º, o historiador marxista Eric Hobsbawm ganhou obituários elogiosos mundo afora. Mas nem todos os críticos fizeram concessões. “Marxismo e religião são iguais: não podem ser comprovados ou contestados”, diz o historiador David Pryce-Jones, autor de The War that Never Was, livro sobre a queda do império soviético. De Londres, ele falou a EXAME.

1) EXAME - O que ainda resta da teoria marxista?

David Pryce-Jones - Muito pouco. Está cada vez mais claro que as ideias de Karl Marx não se mantiveram em forma para que pudessem perdurar. Marx não tem um papel que se sustente na história. 

2) EXAME - Há algo nas teorias de Marx que mereça ser assimilado pelas novas gerações? 

David Pryce-Jones - Nada que seja interessante. Um dos pilares de sua teoria é a luta de classes, que afirma haver uma disputa entre as classes econômicas. Isso não faz sentido. As pessoas mudam de classe econômica o tempo todo. Não há uma regra que diga que você vai pertencer a uma ou outra classe. Você pode ser o que quiser na vida.

3) EXAME - Mas não há mesmo algo na teoria de Marx que tenha correspondência na vida cotidiana?

David Pryce-Jones - Não. Marx inventou esses preceitos. A ideia de uma vida determinada pela luta de classes e que acabará levando à ditadura do proletariado é uma peça de ficção. Não faz sentido para o mundo. 

4) EXAME - Não é estranho que uma teoria que o senhor chama de ficção possa ter influenciado — e ainda influencie — tanta gente respeitada?

David Pryce-Jones - É tão estranho quanto o fato de que, no passado, para se dizer um cavalheiro, você precisava carregar uma espada. Em ambos os casos, foi só um modismo. O fato de muitas pessoas acreditarem em uma teoria não faz dela uma verdade. Também é tão estranho quanto a ideia católica de vida após a morte, sobre a qual nos ensinam a vida toda.

5) EXAME - Então falar de Marx é como falar de religião? 

David Pryce-Jones - Acredito que sim. As duas coisas são muito semelhantes: você não pode provar, mas também não pode contestar. Isso é uma característica comum aos dois casos. 

6) EXAME - Como intelectuais respeitados puderam basear seus estudos em algo que o senhor chama de ficção? 

David Pryce-Jones - Há muitos comunistas no mundo, e vários deles já entenderam seu engano intelectual e moral. Veja o polonês Leszek Kolakowski (autor da obra crítica As Principais Correntes do Marxismo, vencedor em 2003 do Prêmio Kluge, espécie de Nobel de Ciências Sociais, e morto em 2009) e outros, que foram comunistas em sua juventude. Eles compreenderam seu erro — e mudaram de ideia.

7) EXAME - O historiador Eric Hobsbawm, morto no início do mês, era considerado um grande intelectual de orientação marxista. Qual sua opinião sobre ele? 

David Pryce-Jones - Hobsbawm nunca entendeu seu erro. Primeiro, ele pouco pesquisava arquivos, documentos, para produzir algo original. Só repetia o que outros diziam. Ele defendeu a União Soviética em toda a sua carreira, mesmo quando os assassinatos ordenados por Josef Stalin ficaram conhecidos.

Isso não é ser historiador, mas propagandista. É intrigante como um homem tão inteligente pudesse ter estado tão errado. Daqui a 200 anos, talvez alguém escreva um livro sobre o século 20 — e Hobsbawm será uma nota de rodapé.

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