Mitt Romney à caça de votos: quem será o “anti-Obama” na mais quente das eleições? (Win Mcnamee/Getty Images/AFP)
Da Redação
Publicado em 6 de fevereiro de 2012 às 09h45.
Nova York - Se o ano que está terminando servir de termômetro, 2012 promete ser quente, muito quente, nos Estados Unidos. Poucas vezes na história se viu uma divisão tão profunda entre republicanos e democratas — e, no ano em que a reeleição de Barack Obama estará em jogo, a polarização só deve aumentar.
Desde que assumiu, em janeiro de 2009, Obama não teve uma só boa notícia no campo econômico. A recessão causada pela crise imobiliária já terminou no papel, mas na vida real os americanos continuam amargando uma taxa de desemprego de 8,6%, altíssima para a economia mais sofisticada do planeta.
No início de dezembro, Obama fez um discurso em que procurou deixar claro, de seu ponto de vista, onde estão os problemas que afligem os Estados Unidos. “Para a maioria dos americanos, a barganha básica que fez deste um grande país se erodiu. Muito antes da recessão, o trabalho duro parou de render frutos”, disse Obama.
“Cada vez menos aqueles que contribuíram para o sucesso da nossa economia se beneficiaram desse sucesso. Aqueles no topo ficaram mais ricos do que nunca com sua renda e seus investimentos.” Eis, nas palavras do presidente, uma constatação grave: o capitalismo americano já não funciona tão bem.
“Esta é a questão mais importante de nossos tempos.” O próprio Obama continuou o discurso dizendo que o problema não é de luta de classes, mas é cada vez mais difícil enxergar de outro ângulo a crescente divisão entre os ricos — ou muito ricos — e o restante da população do país.
A oposição republicana não costuma usar esse tipo de linguajar, obviamente, mas está claro que o tema principal da campanha será a economia: como fazer o país voltar a crescer e criar empregos. O problema é que as receitas dos dois partidos são opostas, e não há sinais de uma aproximação possível, muito pelo contrário.
Uma paralisação do governo em meados de 2011 foi evitada apenas aos 45 minutos do segundo tempo, com o compromisso de que um supercomitê de deputados e senadores dos dois partidos se entendesse sobre o equilíbrio das contas do governo. O dinheiro que falta, 1,2 trilhão de dólares, deveria vir de corte de gastos e aumento de impostos.
O prazo para o entendimento se esgotou em 23 de novembro, sem que democratas e republicanos pudessem chegar a um acordo. Obama e seus aliados defendem que os mais ricos paguem mais impostos; para a oposição, qualquer conversa sobre aumento nas taxas está fora de questão.
Apesar de as pesquisas mostrarem que os americanos apoiam, em tese, a extensão dos cortes de impostos sobre as folhas de pagamentos (para estimular a criação de empregos) e também uma taxação mais agressiva sobre os mais ricos, os políticos em Washington não parecem estar dando ouvidos.
O processo de escolha do adversário de Obama está em andamento (as primárias começam em janeiro), mas os sinais todos indicam que o candidato da oposição vai basear sua campanha no mote “Quanto menos governo, melhor”. A candidata mais radicalmente à direita, a deputada Michele Bachmann, ligada ao movimento libertário Tea Party, já é considerada carta fora do baralho.
Herman Cain, um executivo que se apresentava como uma “cara nova” em meio à política de Washington, abandonou a disputa em meio a um escândalo de assédio sexual. Ou seja, os dois nomes considerados favoritos para disputar a eleição pela oposição, o ex-governador Mitt Romney e o deputado Newt Gingrich, vão brigar pelos votos de uma parcela importante do eleitorado republicano religiosamente contrária à intervenção governamental na economia.
Nas pesquisas mais recentes, é o deputado Gingrich, defensor de uma simplificação tributária (mas não de uma redistribuição do ônus), que parece ter a vantagem. Considerado uma curiosidade até poucos meses atrás, Gingrich, líder da oposição no governo Clinton, vem agregando as intenções de voto dos republicanos mais conservadores.
Mitt Romney, durante muito tempo tido como o favorito para levar a nomeação, está sofrendo nas pesquisas justamente por ser o mais moderado dos republicanos.
Ainda falta muito tempo até a votação de novembro. No incansável espetáculo de mídia que são as eleições americanas, há tempo de sobra para novos escândalos e reviravoltas. Seja qual for o duelo, os eleitores terão de escolher entre um modelo mais “justo”, nas palavras de Obama, e manter a crença na sabedoria do mercado.
A edição anual da revista Time, que elege a personalidade do ano, escolheu um manifestante para ilustrar sua capa. Ele é o egípcio que ocupou a praça Tahrir até a queda do ditador Hosni Mubarak, o tunisiano que derrubou o presidente Zine el Abidine Ben Ali — e também o americano que ocupou uma praça no centro financeiro de Nova York exigindo mais igualdade entre o 1% mais rico e os restantes 99% da população. São estes os eleitores — divididos, em pé de guerra — que vão escolher o presidente da maior economia do mundo.