Revista Exame

Emergentes 2.0

O futuro da web sempre pertenceu ao Vale do Silício. Países como China, Brasil e Rússia podem mudar essa realidade

Lan House na China: há mais chineses conectados na rede do que habitantes nos Estados Unidos (Latinstock)

Lan House na China: há mais chineses conectados na rede do que habitantes nos Estados Unidos (Latinstock)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2012 às 10h19.

São Paulo - Para o mercado americano de internet, o mais importante do mundo, o ano de 2011 deve terminar com inquietude e expectativa: o Yahoo!, um dos símbolos da primeira fase da web, está à venda. Não é a primeira vez que isso acontece. Mas há peculiaridades no novo cenário — em especial no que diz respeito aos postulantes à compra da empresa.

Entre eles estão candidatos óbvios, como a Microsoft, que teve uma oferta recusada em 2008 (ah, se os acionistas pudessem prever o futuro!). Mas há outro que vem causando especial furor nos mercados. Trata-se do grupo chinês Alibaba, gigante do comércio eletrônico asiático e uma das empresas de internet que mais crescem em todo o mundo.

Em 2005, o Yahoo! comprou 40% do Alibaba por 1 bilhão de dólares. Agora, o Alibaba quer comprar essa participação de volta — e, de quebra, levar o Yahoo! Com a transação, estimada em 25 bilhões de dólares, os chineses poderão colocar as mãos sobre o portal mais popular dos Estados Unidos e sobre 300 milhões de contas de e-mail.

A eventual compra do Yahoo! pelos chineses é um daqueles eventos capazes de separar duas eras. Mesmo que não venha a se concretizar, o episódio já vem sendo interpretado como símbolo de uma nova fase para a web: a vez dos emergentes. 

Até pouco tempo atrás, os Estados Unidos eram o país com o maior número de cidadãos conectados. Nas últimas décadas, não por acaso, foram empresas do Vale do Silício, como Google e Facebook, as responsáveis por fundar as bases da nova economia digital.

Como em outros setores, porém, a vez dos emergentes parece ter chegado também à internet. Não faltam indícios desse fenômeno. Existem hoje mais chineses conectados na rede que pessoas morando nos Estados Unidos. Nos últimos anos, o comércio eletrônico no Brasil cresceu duas vezes mais rápido do que a média americana.

Por fim, vem da Rússia, e não dos Estados Unidos, o fundo Digital Sky Technologies, aquele que mais lucrou com redes sociais, que representam o último grande fenômeno da internet. 

Com óbvia inspiração em ideias de negócios do Vale do Silício, países como China, Índia, Brasil e Argentina produziram nos últimos anos um punhado de êxitos locais. Um desses casos é o Baidu, serviço chinês de buscas online que em 2011 foi apontado pela revista americana Fortune como a empresa de tecnologia que mais cresce no mundo.


Há outros exemplos. No mesmo ranking, o Mercado Livre, plataforma de comércio eletrônico com sede na Argentina, mas que tem no Brasil seu principal mercado, ficou em quarto lugar. Porém, a grande novidade, nesses novos tempos de web, é que os emergentes têm se mostrado capazes de criar não apenas cópias de sites exitosos, mas também novas ideias e modelos de negócios.

O Badoo, rede de relacionamentos lançada em 2006 pelo russo Andrey Andreev, é prova disso. Ao misturar recursos de redes sociais, como o Facebook e antigos sites de relacionamentos, o Badoo criou um gênero inédito na web: uma rede que propõe encontros casuais entre pessoas que não se conhecem.

Com presença em mais de 180 países, o site tem hoje 130 milhões de usuá­rios, tornando-se uma das maiores e mais lucrativas redes sociais da internet.

Com exemplos como esse, é natural que, daqui para a frente, investidores busquem encontrar não apenas o próximo Facebook, mas também o próximo Baidu ou Badoo. Na prática, isso já vem ocorrendo. Pela primeira vez, há dinheiro em abundância a escorrer para empresas de internet de fora do Vale do Silício.

Desde 2005, estima-se que mais de 6 000 startups na Ásia tenham recebido investimento. Apenas em 2010, cerca de 38 bilhões de dólares foram investidos em jovens empresas de tecnologia da China e da Índia, que ficam atrás apenas dos Estados Unidos no ranking de países que mais receberam investimentos de capital de risco na categoria.

Efeitos desse fenômeno começam a ser sentidos também no Brasil. Nos dois últimos anos, empresas de internet brasileiras receberam investimentos de alguns dos maiores fundos de capital de risco do mundo, como Accel Partners e Benchmark. Sinal dos novos tempos. 

Acompanhe tudo sobre:Edição 1007Internet

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda