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Após 55 anos no setor, dono da Cyrela vai partir para outra

Depois de dedicar mais de meio século ao setor de construção, Elie Horn quer partir para novos negócios — e vai começar pelo segmento de saúde

Rogério Melzi (à esq.) 
e Elie Horn: gestão 
e capital para investir 
fora da construção (Germano Lüders/Exame)

Rogério Melzi (à esq.) e Elie Horn: gestão e capital para investir fora da construção (Germano Lüders/Exame)

AP

Ana Paula Ragazzi

Publicado em 6 de fevereiro de 2017 às 05h55.

Última atualização em 6 de fevereiro de 2017 às 05h55.

São Paulo – Há três anos, Elie Horn, um dos maiores empresários do país, passou o comando da incorporadora Cyrela para os filhos e decidiu se dedicar mais a outras coisas que não a empresa que fundou há 55 anos. De lá para cá, apareceu no noticiário mais por seu lado filantrópico do que pelo empresarial. Em 2015, Horn foi o primeiro brasileiro a aderir ao The Giving Pledge, programa criado em 2010 por Bill Gates e Warren Buffett para reunir bilionários dispostos a doar metade da fortuna acumulada ao longo da vida para investir em causas sociais.

Horn comprometeu 60% da sua, estimada em 1,3 bilhão de dólares. Também tem estudado mais filosofia e lidera um projeto para combater o abuso e a prostituição de meninas menores de idade no Brasil. Tudo muito bom, tudo muito bem — mas, depois desses três anos pensando em outras coisas, o empresário decidiu voltar a investir.

Horn reuniu recursos da família em um fundo que busca negócios em diversos setores — exceto o imobiliário. A primeira aquisição, já se sabe, será uma empresa do segmento de saúde. “O Brasil é um país grande e, à medida que ficar mais rico, o negócio de saúde vai crescer muito”, disse Horn a EXAME. O empresário também vê sinergias entre a área de saúde e a de construção. “Vários negócios em saúde precisam de imóveis. Poderemos aproveitar essa coligação dos dois lados, só por isso já vale.”

O projeto lembra, embora em escala ainda embrionária, a Península, fundo criado pelo empresário Abilio Diniz para administrar sua fortuna e investir em empresas influenciando na gestão delas. Hoje, Diniz é sócio da varejista Carrefour, da gigante de alimentos BRF e da rede de ensino Anima.

Para ficar à frente do fundo (que ainda não tem nome), Horn convidou Rogério Melzi, que deixou o comando da empresa de educação Estácio há sete meses, depois de ter sido adquirida pela concorrente Kroton. Os dois ficaram próximos dois anos atrás, quando Melzi passou a ocupar uma cadeira no conselho da Cyrela. Horn escolheu Melzi depois de acompanhar suas intervenções “bem pensadas” nas reuniões de conselho da Cyrela. “Como somos transparentes, quanto mais cutucar, melhor. Não decidi de um dia para o outro. Até porque, na minha idade, ter paixonites é perigoso”, afirma Horn.

O convite já havia sido feito enquanto Melzi estava na Estácio. E Horn disse que poderia esperar pela vinda de Melzi no momento mais adequado. O executivo deixou a Estácio durante a batalha pelo controle da empresa. Melzi se diz agora satisfeito porque nesse projeto está alinhado ao controlador.

O primeiro investimento do novo fundo está prestes a ser fechado e, segundo EXAME apurou, deverá ser na área hospitalar. Mas os dois já estão de olho em outras possibilidades, como clínicas populares. Além de escolher os alvos de aquisição, Melzi vai tocar as empresas compradas. “Nessa primeira aquisição, devo ocupar a presidência da empresa. E, a partir do momento que vierem outras, estarei no conselho ou indicarei a gestão”, afirma Melzi.

O tamanho do fundo não é revelado, mas já larga com centenas de milhões de reais e pode receber mais recursos à medida que novas oportunidades apareçam. Os investimentos poderão ser fechados em conjunto com outros fundos de private equity ou com dinheiro de outras famílias. Segundo EXAME apurou, já na primeira aquisição Horn deverá ter um sócio financeiro. “Gosto de ter sócios. Sem preconceitos”, diz Horn. Apesar das parcerias, a intenção deles é sempre manter a gestão das empresas investidas. Conservando o chapéu de filantropo, 60% dos ganhos que Horn obtiver também com esses negócios serão destinados à caridade — ou “justiça”, como ele gosta de dizer.

O empresário voltou a investir porque vê o país entrar numa nova fase. “Eu nasci otimista. Não sei se é defeito ou qualidade, só sei que não posso ficar parado”, diz. O sonho de repetir o sucesso que teve na construção em outros setores é antigo, mas esbarrava na falta de capacidade de gestão. Investimentos em outros ramos, como frutas, couro e ouro, não deram certo. “Agora tem de dar certo. Decidi que só faria esse fundo quando tivesse um bom gestor”, afirma.

A gestão da Cyrela continuará a cargo de seus filhos, Efraim e Raphael. Horn é presidente do conselho de administração. “Vivemos um período muito negativo em todos os ramos da construção”, diz. A Cyrela vale, hoje, 5 bilhões de reais, metade do que valia em seu auge, há seis anos. A empresa e o setor sofrem com a retração econômica e com o elevado número de clientes que não conseguiram pagar pelos imóveis que adquiriram. No ano passado, a queda nas vendas da Cyrela foi de 18%. Mas o ciclo de queda dos juros iniciado pelo Banco Central anima Elie Horn. “Acho que estamos na hora da virada.”

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