Revista Exame

Efeito caipirinha melhora humor em relação ao Brasil

Com a melhora das perspectivas da economia brasileira, o humor dos economistas e dos analistas americanos em relação ao Brasil mudou e pode influenciar o ânimo dos investidores


	Nova York: cartaz da economia brasileira em alta na cidade e entusiasmo pelo país
 (REUTERS/Brendan McDermid/Reuters)

Nova York: cartaz da economia brasileira em alta na cidade e entusiasmo pelo país (REUTERS/Brendan McDermid/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 29 de abril de 2013 às 06h34.

São Paulo - Tivesse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esticado até Nova York sua visita ao presidente George W. Bush no final de junho e teria visto uma cidade bem impressionada com o Brasil. Não é ano de Copa do Mundo -- aliás, os americanos nem sabem mesmo em que ano será a próxima copa -- e ainda assim Manhattan está repleta de referências verde-amarelas. Confira:

Salta aos olhos o estilo nos pés dos nova-iorquinos neste verão. Lá estão as sandálias havaianas (ou similares -- são dezenas de modelos inspirados nas tiras que não desprendem, made in Brazil).

No metrô, no Central Park ou na Quinta Avenida, as havaianas combinam com calças jeans, bermudas e saias. Faça sol ou faça chuva. Molhar os pés na poça dágua não é problema.

Nos bares e clubes, a caipirinha é a bebida da hora. Não é de hoje, mas continua em alta, como avisam cartazes e placas: Caipirinha inside. Um dado: em 2002, as exportações de cachaça para os Estados Unidos cresceram 47%.

Em plena Quinta Avenida, numa das mais tradicionais tabacarias da cidade, a J&R Cigars, o sucesso do momento são os charutos Brazilia, com selos em cores verde, amarelo e azul. Os nomes eram: Amazon, Gol, Piranha e Samba. O mais incrível é que os charutos nem são brasileiros, são fabricados na Nicarágua. Ou seja, já tem gente se aproveitando da marca Brasil nas barbas dos brasileiros.

Antes era Gisele Bündchen, agora é Alessandra Ambrosio o novo rosto da marca de lingerie mais famosa do mundo, a Victoria Secrets. Pelo menos metade das fotos da grife é de brasileiras. E não são poucas. Além das duas citadas, há fotos e mais fotos de Adriana Lima, Ana Beatriz Barros, Ana Hickman e Isabeli Fontana.

Ok, mas qual é a relevância de tudo isso -- havaianas, caipirinha, charutos, modelos? Isoladamente, pode parecer pouco. Tudo somado, indica que o Brasil é o país do momento nos corações nova-iorquinos. É hora, portanto, de catalisar oportunidades. E quem sabe de atrair novos investimentos, que sofreram um forte tombo desde os ataques às torres gêmeas em Nova York.


É a impressão que se tem depois de ouvir profissionais da mídia, economistas e empresários americanos. O presidente Lula é visto como uma importante liderança. O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, continuam a passar a credibilidade necessária para recuperar a economia depois do pânico que precedeu as eleições.

Com eles, o mercado parece se sentir seguro -- apesar do passado radical do PT. O economista John Williamson, criador do termo Consenso de Washington, resumiu bem a mudança de estratégia do PT: "Lula é importante porque não está fazendo democracia social apoiado em Karl Marx. Ao contrário, está fazendo o mercado trabalhar em prol desses benefícios", diz Williamson. "Se for bem-sucedido, será um modelo de sucesso para os países em desenvolvimento."

A aposta de economistas como Williamson é que o comércio regional -- leia-se Alca -- vai alavancar o crescimento, como fez com o México, depois do Nafta e de vários outros tratados. (Já são mais de 30 países com os quais o México mantém acordos comerciais atualmente. 

De 1994 a 2001, as exportações mexicanas quase triplicaram, de 60 bilhões para 160 bilhões de dólares.) Jeffrey Sachs, professor de economia da Universidade Colúmbia, é um dos que apostam nessa direção. Para ele, Brasil e México, que representam, somados, um mercado de 280 milhões de pessoas, serão as locomotivas do crescimento da América Latina.

"O Brasil tem uma economia altamente diversificada, embora tenha ficado 25 anos no buraco sem encontrar uma alternativa", diz Sachs. "Mas o país melhorou muito depois do Plano Real e acredito que Lula é a pessoa certa para ajudá-lo a reencontrar o rumo."

Stanley Fischer, ex-homem forte do FMI e hoje na presidência do Citigroup International, também está esperançoso sobre os caminhos da economia brasileira. "A política econômica do novo governo tem tudo para combinar estabilidade com crescimento", diz Fischer.

A posição de Fischer não deixa de ser interessante, por contrastar com o comportamento do próprio Citigroup, que, escaldado pela perda de 700 milhões com a crise argentina, desistiu de uma série de investimentos no país meses atrás.

Apesar do otimismo, especialistas como Williamson e Sachs estão atentos para eventuais obstáculos no percurso de Lula. "Os políticos do próprio PT vão deixá-lo governar?", questiona Williamson.  


Sachs chama a atenção para o que talvez seja o maior entrave ao crescimento sustentado no longo prazo no Brasil: a disparidade de renda. "Isso vai mudar quando os ricos entenderem que esse abismo entre os mais pobres e os mais ricos é um atraso para o país", diz Sachs. 

O Brasil virou assunto também no luxuoso prédio da Standard & Poors, uma das principais avaliadoras de risco do mundo, localizado no sul de Manhattan, com visual para a baía do rio Hudson. Ao explicar como a agência fazia a avaliação de risco de um país, a diretora para serviços de crédito para o mercado, Laura Katz, citou várias vezes o Brasil como exemplo.

"O Brasil está avaliado com um B+, pois ainda tem uma série de dívidas a cumprir em dólar", diz Laura. "Está se recuperando, mas leva um bom tempo ainda. Na nossa visão, o país está dizendo e fazendo as coisas certas." Segundo ela, a visão dos economistas das agências de ratings é composta de uma série de avaliações in loco, feitas no mínimo duas vezes por ano.

Os funcionários são despachados para o país e conversam com formadores de opinião sobre risco político, estrutura econômica, projeções de crescimento econômico e mais aspectos antes de manter ou mudar a avaliação que guia os investidores profissionais. "O Brasil está sendo constantemente vigiado por causa das mudanças", diz Katz.

É hora, portanto, de aproveitar o bom momento da imagem brasileira. A receptividade do governo americano ao encontro dos presidentes é um bom indicador: o Brasil foi o primeiro país que não apoiou a guerra do Iraque a visitar os americanos.

Não se trata de comemorar de forma provinciana esse surto de entusiasmo pelo Brasil. Merece atenção, sim, o fato de que os entusiastas de hoje são formadores de opinião, ouvidos pelos donos do dinheiro.

Além de tentar captar investimentos, é hora de as empresas brasileiras aumentarem as vendas lá fora. É o que estão mostrando, por exemplo, os fabricantes do setor calçadista. No início de junho, eles provocaram uma pequena confusão no aeroporto John F. Kennedy, atrapalhando o desembarque dos passageiros que vinham no vôo São PauloNova York pela Varig.

Antes das malas, as esteiras foram tomadas por caixas e mais caixas de sapatos que seriam expostas numa feira de calçados em Nova York. A intenção deles é clara: inundar os Estados Unidos com produtos brasileiros. E depois, quem sabe, brindar com caipirinha.

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