Revista Exame

É preciso ter paciência com o Brasil, diz chefe da Kiko Milano

A empresa italiana de cosméticos Kiko Milano levou 20 anos para decidir abrir lojas no Brasil — e achou a hora certa em plena crise econômica

Stefano Percassi, presidente da Kiko Milano: “Vínhamos privilegiando países com regras claras” (Germano Lüders/Exame)

Stefano Percassi, presidente da Kiko Milano: “Vínhamos privilegiando países com regras claras” (Germano Lüders/Exame)

ML

Maria Luíza Filgueiras

Publicado em 12 de julho de 2017 às 18h00.

Última atualização em 12 de julho de 2017 às 18h01.

São Paulo – Fundada em 1997, a rede italiana de cosméticos Kiko Milano ficou conhecida por vender maquiagens a preços competitivos e voltadas para o público mais jovem. Hoje, a marca tem mais de 1 000 lojas em 20 países e um faturamento anual de 800 milhões de euros (aproximadamente 3 bilhões de reais). Seu presidente, Stefano Percassi, levou duas décadas entre idas e vindas ao Brasil até definir um plano de investimento para o país. Acabou fazendo isso quando as vendas no varejo minguaram. Desde a estreia em fevereiro, a Kiko Milano abriu quatro lojas. Percassi não está nem um pouco arrependido.

EXAME – 1) Quando o senhor decidiu investir no Brasil, primeiro mercado da empresa na América Latina? 

Stefano Percassi – A ideia surgiu há 19 anos. Tinha arrumado uma namorada de Uberlândia, no interior de Minas Gerais, e fiz minha primeira viagem ao Brasil em 1998. A Kiko Milano tinha sido fundada no ano anterior, e eu trouxe alguns produtos na mala. Eles fizeram sucesso. Soube na hora que um dia traria a marca para o Brasil. Levou tempo, mas aconteceu.

EXAME – 2) Por que tanto tempo?

Stefano Percassi – É preciso ter paciência para investir no Brasil. Não é um país fácil. Leva mais tempo do que a média de outros mercados para abrir uma empresa, entender as regras e as tarifas de importação e viabilizá-las. Por isso, vínhamos privilegiando os países com normas mais claras e custos menores.

EXAME – 3) E escolheu justamente quando a economia brasileira está em recessão?

Stefano Percassi – Nosso investimento é de longo prazo. Demoramos para chegar porque não queremos sair. Durante as duas décadas que acompanho o Brasil, já vi vários ciclos econômicos e tinha certeza de que a euforia não duraria. A crise atual também não vai. Nosso atrativo é justamente oferecer qualidade acessível. Em momentos de crise, o preço é um fator ainda mais importante para as consumidoras brasileiras.

EXAME – 4) Em quanto tempo espera ter retorno sobre o investimento? Será mais lento que em outros países?

Stefano Percassi – Não esperamos ter lucro no primeiro ano, mas um equilíbrio entre receita e investimento, o que já seria bom. Ao contrário do que fizemos na Ásia e no Oriente Médio, preferimos não ter um sócio local, o que aumenta o custo inicial. Abrimos quatro lojas neste ano e vamos inaugurar duas ou três até o fim de 2017. As vendas têm nos surpreendido.

EXAME – 5) Por quê?

Stefano Percassi – Alguns produtos se esgotaram em 24 horas na abertura das lojas. Outros itens acabaram em dias. A maior parte das vendas não tem sido para quem já conhecia a marca, mas para os clientes que nunca tinham ouvido falar dela.

EXAME – 6) O que as brasileiras preferem comprar? São produtos diferentes de outros países?

Stefano Percassi – A diferença é basicamente a preferência de cor. As brasileiras não gostam de um blush tão rosado quanto as americanas. Mas é impressionante como tudo que tem brilho vende aqui, o que não se repete em nenhum outro mercado. Rímel, batom e lápis com brilho sumiram do estoque.

EXAME – 7) Qual é a meta para a operação brasileira?

Stefano Percassi – Quero ter 60 lojas no Brasil daqui a cinco anos. Mas temos acertos a fazer. Estudamos até mudar parte da logística de abastecimento, que hoje é feita por navio e leva dois meses.  Não dá para crescer sem produto na loja.

Acompanhe tudo sobre:Investimentos de empresasMaquiagemMercado financeiro

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025