Revista Exame

É preciso pensar como designer, diz maior profissional do Japão

Para Shunji Yamanaka, as empresas mais inovadoras são aquelas cujos líderes colocam a experiência do consumidor no centro da operação

Shunji Yamanaka: "O Japão entrou na fase de produzir qualidade" (Germano Lüders/Exame)

Shunji Yamanaka: "O Japão entrou na fase de produzir qualidade" (Germano Lüders/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de março de 2018 às 10h24.

Última atualização em 2 de agosto de 2018 às 15h48.

O engenheiro e designer japonês Shunji Yamanaka é reconhecido por seu trabalho em grandes multinacionais do Japão, como a montadora Nissan e a grife Issey Miyake. Um dos mais premiados designers do país, é professor na Universidade de Tóquio. Para ele, o design vem ganhando cada vez mais importância no Japão, uma vez que as companhias do país estão investindo mais em produtos de alta qualidade. “As empresas mais inovadoras têm líderes que também pensam como designers e colocam a experiência do consumidor no centro da operação”, diz. Entre 27 de março e 13 de maio, será possível ver suas criações na Japan House, centro de exposições na capital paulista.

Em sua carreira, o senhor viveu diferentes fases econômicas no Japão — do auge nos anos 80 à estagnação. Como as mudanças na economia influenciaram sua profissão?

No passado, o Japão era um país focado na indústria, na produção de máquinas de precisão. O país ainda está entre os melhores nesse campo, mas, como todos sabem, passa por um longo período de estagnação. Isso está relacionado à estagnação populacional do Japão e, portanto, não é fácil sair dessa situação. Por outro lado, nesses 30 anos, a qualidade de vida e a oferta de serviços melhoraram radicalmente. Podemos perceber isso, por exemplo, no fato de Tóquio ser a cidade com o maior número de restaurantes no Guia Michelin. Os países da Europa que foram potências hoje continuam a oferecer ao mundo o que há de melhor em cultura e em produtos de alta qualidade. Acredito que o Japão também tenha entrado nessa fase de produzir qualidade.

O que o senhor quer dizer com produzir qualidade?

É reproduzir no design aquilo que é difícil de traduzir em números, como os sentimentos e a sensação de aconchego. Precisa ser uma forma que una beleza e usabilidade, que utilize a matéria-prima de maneira refinada. E não basta que o produto seja algo que as pessoas já desejam, mas também algo que as faça perceber um desejo que não tinham.

Por que esses elementos são importantes?

Porque o design não é uma ideia aleatória. É preciso combinar uma criação nova com os recursos que já existem.

Quais são os maiores desafios enfrentados pelos profissionais de design japoneses?

Um problema sério é que, hoje em dia, alguns presidentes de empresas têm uma postura de não assumir nenhum risco. Por isso, não conseguem usufruir o potencial dos jovens. Para criar um produto singular é necessário um grande investimento.

Quais são as consequências dessa postura?

Quando uma empresa investe pensando apenas no lucro no curto prazo, no final das contas ela não conseguirá criar algo novo e será deixada para trás.

Em sua opinião, o que as empresas mais inovadoras em termos de design têm em comum?

Elas têm líderes que também pensam como designers e colocam a experiência do consumidor no centro da operação, criando valor. Ao mesmo tempo, é preciso coragem para encarar o desafio de usar a tecnologia moderna em novos produtos.

Em seu trabalho, o senhor cria muitos protótipos com formas inspiradas em animais e na natureza. Por quê?

Porque as pessoas são mais sensíveis a coisas que estão na natureza. Então, se dermos a devida atenção a elas, poderemos criar um novo valor para essas formas que já existem. 

Acompanhe tudo sobre:DesignDesignersInovaçãoJapão

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda