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"Dilma deveria ser solidária com as venezuelanas", diz Naím

Para um dos principais pensadores da América Latina, o Brasil tem uma enorme influência regional e deveria apoiar aqueles que lutam pela democracia na Venezuela


	"Uma boa nitícia seria a Venezuela se livrar da influência política de Cuba", afirma Naím
 (REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)

"Uma boa nitícia seria a Venezuela se livrar da influência política de Cuba", afirma Naím (REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)

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Da Redação

Publicado em 27 de março de 2014 às 20h02.

São Paulo - A Venezuela passa por uma onda de protestos de estudantes e opositores ao governo desde o início de fevereiro, que já resultou na morte de pelo menos 15 pessoas e na prisão de outras 48.

Para o venezuelano Moisés Naím, ex-ministro de Comércio e Indústria no país nos anos 90 e hoje pesquisador do instituto Carnegie Endowment for International Peace, em Washington, o presidente Nicolás Maduro poderia diminuir as tensões ao abrir o diálogo com os opositores, mas isso não deve acontecer.

“A Venezuela vive hoje uma autocracia e uma tirania violenta.” E, de acordo com ele, a postura do Brasil diante do que ocorre é tímida: “A presidente Dilma Rousseff­ foi no passado uma militante como as mulheres que estão hoje nas ruas de Caracas, mas não tem feito nada para se solidarizar com elas”. 

1) EXAME - Por que a Venezuela vive uma onda de protestos? 

Moisés Naím - A Venezuela tem a inflação mais alta da América Latina e sofre com o desabastecimento — desde o leite para as crianças até os remédios para os doentes. Isso ocorre em um país rico, que tem a maior reserva de petróleo do mundo. Os protestos das últimas semanas são consequência da situação econômica, da falta de diálogo e da violência do governo.

2) EXAME - Essa violência pode gerar uma guerra civil? 

Moisés Naím - A probabilidade é muito baixa, porque para ter uma guerra civil é preciso que haja dois lados armados. E não existe isso. As evidências são de que quem está usando a violência é o corpo paramilitar organizado e a guarda nacional do governo.

3) EXAME - O presidente Nicolás Maduro pode reduzir a polarização do país?

Moisés Naím - Se quiser, ele pode dar mais participação a uma parcela da população que está contra a atual política do governo. Mas não há sinal de que ele estaria disposto a mudar o rumo catastrófico que o país tomou. Maduro tem de entender que seus críticos não são inimigos mortais. São apenas pessoas que pensam de forma diferente. 

4) EXAME - Quais são as bases para o comportamento do presidente? 

Moisés Naím - A Venezuela, inspirada em Cuba, vive hoje uma autocracia e uma tirania violenta. Se o país conseguir enfrentar com êxito essa influência política, será uma boa notícia para toda a região da América Latina.

5) EXAME - Que papel o Brasil deveria ter nessa situação?  

Moisés Naím - Um papel de solidariedade com aqueles que estão querendo a democracia. As ruas da Venezuela têm hoje milhares de mulheres que são como Dilma Rousseff quando tinha seus 20 anos. Ela sabe o que é repressão do governo militar, o que é tortura e lutou sempre contra isso. 

6) EXAME - Qual deveria ser a postura da presidente Dilma?

Moisés Naím - Dilma tem enorme influência sobre os governos da Vene­zuela e de Cuba, que são protagonistas dessa crise. Ela tem muitos instrumentos de diplomacia e muita cre­dibilidade para agir. Mas não tem feito nada em relação ao que está acontecendo. 

7) EXAME - Qual a saída para o país? 

Moisés Naím - Se existe uma saída para a Venezuela, ninguém sabe qual é, de que forma seria e em quanto tempo ocorreria. Da mesma maneira que era impossível antecipar o que aconteceria na Ucrânia dois dias antes de o governo de Viktor Ianukovich ser deposto. Não há especialista que possa diagnosticar essas coisas.

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