Revista Exame

Depois de Steve Jobs

O nome mais celebrado do mundo dos negócios deixa a Apple no ápice — e cabe ao desconhecido Tim Cook continuar a história da empresa mais admirada do mundo

Steve Jobs: o empreendedor que fundou a Apple aos 21 anos sai de cena como um dos homens mais admirados do mundo (Jim Wilson/The New York Times/Latinstock)

Steve Jobs: o empreendedor que fundou a Apple aos 21 anos sai de cena como um dos homens mais admirados do mundo (Jim Wilson/The New York Times/Latinstock)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de setembro de 2011 às 11h26.

Nova York - A última aparição pública de Steve Jobs aconteceu no começo de junho. Ele foi apresentar ao governo da cidade de Cupertino, na Califórnia, os planos para a nova sede da Apple.

Jobs precisa da aprovação oficial para as obras que vão permitir que os 12 000 funcionários da companhia possam ser reunidos em um único lugar.

Diante de uma mesa de conselheiros, alguns deles obviamente deslumbrados pela presença do morador mais ilustre da cidade, ele apresentou o projeto do novo prédio. Jobs começou com uma alfinetada na concorrência.

Disse que a área de 640 000 metros quadrados foi em parte comprada da HP, uma empresa “que está encolhendo”, em suas palavras.

Ele prosseguiu no mesmo estilo das apresentações de produto que costuma fazer: mostrando imagens e falando pausadamente, para que a audiência pudesse absorver, boquiaberta, a mágica que se descortinava diante de seus olhos.

“Contratamos alguns dos melhores arquitetos do mundo”, disse Jobs ao conselho de Cupertino. “O prédio é muito legal.” Os desenhos da nova sede da Apple realmente impressionam: o edifício é uma estrutura circular que parece um disco voador pousado no coração do Vale do Silício. Mas essa nave vai ter outro comandante.

No dia 24 de agosto, Jobs anunciou que estava deixando o cargo de principal executivo da Apple. A notícia era de certa forma esperada. Jobs foi operado de um câncer no pâncreas em 2004 e, cinco anos depois, foi submetido a um transplante de fígado. Nada mais se sabe sobre seu estado de saúde, mas há pelo menos dois anos e meio ele tem aparecido magro e abatido.

Desde janeiro, estava oficialmente afastado do dia a dia da empresa, mas sua aparição no lançamento de novos programas e serviços em junho indicou que ele continuava na ativa. Agora Jobs está de fato saindo de cena.


“Sempre disse que se chegasse o dia em que não pudesse mais cumprir com minhas obrigações como CEO da Apple, seria o primeiro a avisá-los”, escreveu Jobs na nota oficial em que passou o cargo a Tim Cook. “Infelizmente, esse dia chegou.” Ele vai assumir a função de presidente do conselho de administração da Apple.

Testado e aprovado

A tarefa de substituir o empreendedor, executivo, inventor, esteta, carismático, transformador, misterioso e admirado Steve Jobs vai caber a Cook, um executivo de quem se sabe muito pouco — mas espera-se muito. Cook está na companhia há 12 anos e, de acordo com os poucos relatos que escapam sob o manto de segredo que cobre a Apple, desfruta da plena confiança de Jobs.

“A ironia é que Steve Jobs nunca acreditou em pesquisas de mercado na hora de criar e lançar produtos”, diz Gene Munster, analista do banco Piper Jaffray. “Mas, no caso de seu sucessor, ele vem fazendo o teste há seis anos.” A resposta dos acionistas à nomeação foi positiva: depois de uma ligeira queda, as ações se recuperaram e se mantêm em alta.

Mas o principal motivo para o otimismo é a excelente posição da Apple no novo cenário da indústria tecnológica. As duas principais tendências no mundo da computação são os smartphones e os tablets.

A primeira categoria foi transformada para sempre com o lançamento do iPhone, e a Apple desfruta da liderança na tecnologia e no fundamental ecossistema de desenvolvedores de programas, seguida de perto pelo Google e seu sistema Android. A segunda foi criada pela própria Apple, com o iPad, de longe o mais vendido e mais conhecido dos tablets e que não tem um competidor à altura.

Quando Cook aceitou trocar a Compaq pela Apple, em 1998, deixou uma das maiores fabricantes de computadores do mundo para trabalhar em uma companhia agonizante, que era motivo de desdém no mundo da tecnologia.

Hoje, a empresa é a mais valiosa do mundo: no fechamento desta edição, o valor de mercado da Apple era de 361,5 bilhões de dólares, ante 360,4 bilhões da petrolífera Exxon Mobil. No último resultado trimestral, divulgado em julho, as receitas aumentaram 82% e os lucros, 125% em relação ao mesmo período do ano passado.


Os analistas atribuem boa parte desse resultado ao trabalho de Cook. Se Jobs é o inventor, o artista e o detalhista, Cook é o engenheiro que tornou possível à empresa crescer de forma assombrosa — e lucrativa. Desde o lançamento do primeiro iPhone, há quatro anos, mais de 200 milhões de aparelhos com o sistema operacional iOS (que equipa os iPad e os iPod Touch) já foram vendidos.

Considerando somente o mercado de smartphones, a Apple detém nada menos do que dois terços do lucro entre todas as fabricantes de aparelhos concorrentes.

A pergunta que Cook terá de responder é como ele pretende manter acesa a chama criativa que permitiu à Apple redesenhar o mapa do mundo da computação. Como todos os outros executivos da empresa, Cook não dá entrevistas. É tido como certo que o foco da empresa vai ser cada vez maior nos aparelhos que usam o sistema iOS, e um novo iPhone deve ser lançado ainda neste ano.

Mas o que virá no futuro? “Ele (Jobs) moldou a Apple à sua imagem”, escreveu Leander Kahney, autor de dois livros sobre a empresa. “Seu DNA está tão firmemente embutido na companhia que ela vai funcionar como um relógio sem sua presença. Mas eu posso estar errado.”

Uma das apostas é um investimento maior da Apple em TV. A ideia seria repetir com filmes e séries o sucesso obtido com a venda de músicas: pela loja iTunes, a empresa já vendeu mais de 10 bilhões de faixas  e tornou-se a maior vendedora de músicas do mundo.

Hoje já é possível comprar filmes e programas de TV pela Apple, mas o negócio ainda é pequeno em comparação com a venda de músicas e aplicativos para iPhones e iPads.

Cook também terá o desafio de manter os talentos que trabalham na Apple e têm como parte do pagamento a oportunidade de ser liderados por Steve Jobs. “Uma coisa é ser um diretor ou vice-presidente e sentar-se diante de Jobs”, diz Munster. “Outra bem diferente é sentar-se com Tim Cook.”

O próprio Cook teria dito, tempos atrás, que Jobs é insubstituível. “Como assim, substituir Steve? Ele é insubstituível”, afirmou Cook, segundo a revista americana Fortune. “As pessoas têm de superar isso.

Eu vejo o Steve (na Apple) com cabelos brancos e seus 70 anos, muito depois da minha aposentadoria.” Não será o caso — e quem corre o risco de ficar com os cabelos brancos com a responsabilidade de substituir Jobs será Tim Cook.

Acompanhe tudo sobre:AppleEdição 0999EmpresáriosEmpresasEmpresas americanasempresas-de-tecnologiagestao-de-negociosPersonalidadesSteve JobsSucessãoTecnologia da informaçãoTim Cook

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025