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De onde vem seu bife

Um sistema criado para o rastreamento dos produtos da fazenda até o supermercado impulsiona a qualidade de nosso agronegócio


	Gado: no Brasil, menos de 2% do rebanho bovino é monitorado individualmente
 (John Moore/Getty Images)

Gado: no Brasil, menos de 2% do rebanho bovino é monitorado individualmente (John Moore/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 29 de abril de 2014 às 12h55.

São Paulo - Saber a fazenda de origem de uma peça de carne, o nome do produtor e se o gado foi criado em condições sanitárias adequadas. Ou então verificar onde foi cultivada uma fruta ou hortaliça, ver fotos do sítio e certificar-se de que os produtos não contêm resíduos de agrotóxicos acima dos limites aceitáveis.

Essas informações já estão disponíveis para carne bovina, frutas, verduras e legumes vendidos nas 615 lojas Pão de Açúcar e Extra espalhadas pelo país. Para checar o histórico dessas mercadorias, basta o comprador baixar um aplicativo no celular e escanear o código de barras dimensional da embalagem do produto. Ou então entrar no hotsite do Pão de Açúcar e digitar o código do produto.

“Para o consumidor, o produto rastreado se traduz em um alimento mais seguro”, diz Leonardo Miyao, diretor comercial do Grupo Pão de Açúcar. 

O êxito desse programa pioneiro, lançado em 2008, é medido pelo aumento de quase 20% nas vendas de frutas, legumes e verduras rastreados entre 2010 e 2012. Mas os ganhos vão além. O rastreamento permite monitorar pontos críticos na cadeia produtiva, identificar os melhores e piores fornecedores e sugerir melhorias.

Após a adoção do programa, a devolução de mercadorias devido à baixa qualidade caiu pela metade. Em dois anos, a rede varejista deve estender o programa de rastreamento para carnes de porco, frango e pescados.

O produtor que adere ao programa também tem vantagens. O Pão de Açúcar não paga um prêmio em dinheiro aos melhores fornecedores, mas faz mais negócios com eles. De 40 produtores de morango do sul de Minas Gerais que abasteciam a rede, 28 foram descredenciados por ultrapassar o limite de resíduos de agrotóxicos. Os 12 que restaram entregam hoje volumes maiores ao grupo. 

Outro benefício é que o rastreamento se torna uma ferramenta de gestão, já que obriga o produtor a registrar seus passos: datas e formas de plantio, aplicações de adubos e defensivos, colheita, embalagem, transporte. O produtor deve obedecer a padrões de boas práticas agrícolas e cumprir à risca as exigências sanitárias.

Isso ajuda a organizar os processos, com reflexos na qualidade e na produtividade. Além disso, o produtor pode verificar, em uma plataforma online, as notas de qualidade atribuídas pelo Pão de Açúcar. Assim, ele pode monitorar seu desempenho e comparar com o de outros fornecedores.


“O rastreamento é o primeiro passo para um sistema de gestão”, diz Thomas Eckschimidt, diretor da PariPassu, empresa de Florianópolis que fornece sistemas de rastreamento. “Ele cria a rotina e o procedimento, permitindo controlar, acompanhar e medir toda a cadeia produtiva.” 

O produtor André Bartocci, de Caarapó, em Mato Grosso do Sul, rastreia individualmente seu rebanho de 4 000 cabeças e está satisfeito. Ele produz  550 quilos de carne por hectare ao ano, três vezes a média da região. Bartocci passou a controlar melhor seu rebanho depois que aderiu ao sistema federal de rastreamento de bovinos, o Sisbov, lançado pelo governo em 2002.

No ano seguinte, Bartocci já tinha todo o rebanho com brincos de identificação e fornecia informações sobre origem, nutrição, vacinações e movimentação de cada animal. Ele recebe 2 reais a mais que a média pela arroba que entrega aos frigoríficos. O prêmio poderia ser maior, de até 10 reais, mas o mercado internacional se encontra retraído e os preços estão baixos.

A atual diferença nos valores, segundo Bartocci, não paga os custos do rastreamento, mas, ainda assim, ele vê vantagens. “Comecei a enxergar números que não conhecia, pois cada animal passou a ser monitorado individualmente, e não por lote”, diz Bartocci. Ele ainda faz parte de uma minoria.

De adesão voluntária, o Sisbov foi criado no Brasil para atender a uma exigência da União Europeia após um surto de doença da vaca louca. O plano do governo era rastrear os 190 milhões de bovinos do país.

Mas, até agora, o sistema foi adotado por 1 750 propriedades, que reúnem 3,6 milhões de animais — menos de 2% do rebanho nacional. Na prática, tornou-se um certificado para vender ao mercado europeu, que absorve 10% das exportações brasileiras. O caminho está apontado.

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