Cauã Reymond no novo Range Rover Evoque e, abaixo, o carro: a nova geração deixará de ser fabricada no Brasil e virá por importação (Land Rover/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 4 de julho de 2019 às 05h18.
Última atualização em 8 de julho de 2019 às 15h10.
Nunca tive tantos carros na vida. São sedãs, hatches, SUVs e até esportivos. Centenas deles. Há seis meses vendi meu carro e passei a me locomover apenas com táxis, caronas e aplicativos. Uma boa alternativa para sobreviver numa caótica São Paulo com quase 9 milhões de veículos.
Sentado no banco de trás, pude testar uma porção de modelos diferentes, sempre como passageiro. Minha única preocupação é em relação ao motorista. Uns correm demais, outros teimam em falar sobre política, alguns ouvem funk pancadão. Confesso que gosto da sensação de chegar ao meu destino e ver o carro desaparecer para sempre.
O Zeitgeist de hoje é não dirigir.
A não ser, é claro, quando se trata de um senhor carro num senhor destino. Nesse momento, o Steve McQueen adormecido em nós emerge com toda a força. Foi com isso em mente que viajei para a Grécia para testar o novo Range Rover Evoque, maior sucesso da Land Rover nos últimos anos — para não perder o hábito, como passageiro. Ao volante, o ator Cauã Reymond, embaixador da marca no Brasil desde 2016. “Amo dirigir”, contou o uber-global. “Amo tanto que, quando mandam um motorista me buscar para uma gravação, peço para ele ir no banco de passageiro.”
Lançado em 2011, o Evoque mudou o conceito da categoria de SUVs compactos no mundo. Uniu design, potência e conforto como nenhum outro. Foi o primeiro carro da marca inglesa a imprimir de fato uma nova personalidade à Land Rover, conhecida originalmente por seus carros quadradões, montados com chapas de ferro unidas por rebites aparentes. “Difícil não é criar um carro do zero, mas redesenhar um carro que já vendeu 300.000 unidades ao redor do mundo”, disse Gerry McGovern, diretor global de design da montadora.
Foi McGovern quem criou o último modelo exclusivo para a rainha Elizabeth. Aberto na parte traseira para que seus súditos possam vê-la, o carro na cor vinho passou por uma inspeção minuciosa da própria rainha, logo após seu 90o aniversário. “Ela ficou mais de meia hora olhando o carro”, diz o designer. “Só reclamou do peso da porta, que, convenhamos, ela jamais terá de abrir.”
Poucos conhecem tanto da marca quanto Her Majesty The Queen. Apesar de não precisar de carteira de habilitação (está na lei inglesa), Elizabeth dirige desde 1945, quando auxiliou as tropas inglesas na Segunda Guerra. Foi treinada até para resolver problemas mecânicos.
Mas voltemos ao que interessa, nosso test-drive. De Atenas, onde chegamos, partimos para o Peloponeso, península montanhosa no sul do país, a 170 quilômetros de trechos de estrada combinados com percursos nada convencionais. Meu motorista seguiu impávido ao volante, aproveitando-se da versão top de linha, equipada com motor 2.0 Ingenium turbo de 300 cv, o mesmo do Jaguar F-Type, que chega neste mês às concessionárias brasileiras.
Assim como a rainha, Cauã é velho de guerra quando se fala de Land Rover. “Sou tão fã da marca que fui eu quem pediu para ser embaixador”, diz. Em geral, as marcas é que vão atrás das celebridades. Antes mesmo de ser contratado para acenar aos súditos tupiniquins, o ator já dirigia os carros preferidos da realeza britânica. Já teve um Defender, um Discovery 4 e agora pilota um Range Rover Sport HSE.
“Este novo Evoque parece um Velar menorzinho. Os faróis, a grade frontal, as maçanetas embutidas…”, dizia o motorista metido a taxista. Eu também desfrutava da (boa) trilha sonora escolhida pelo ator e do conforto de quem estava de carona olhando a paisagem espetacular das montanhas sendo devoradas pelo Mar Egeu.
Em vez de seguir o Waze, como fazem os motoristas que costumo chamar pelo aplicativo, Cauã acompanhava o percurso pelo sistema de navegação do carro. A nova tela de 10 polegadas permite também visualizar o piso à frente, como se o capô fosse invisível. A novidade ajuda tanto na hora de manobrar como na direção dos pneus — fundamental para situações off-road.
Isso ficou claro quando tivemos de percorrer terrenos acidentados, com direito a cruzar um riacho e atravessar o Estreito de Corinto sobre uma ferrovia desativada. O Sistema Dinâmico Adaptativo, também inédito, usa sensores para calcular suspensão, velocidade das rodas e nível de aderência. Basta escolher os diferentes tipos de solo (pedra, lama, neve…) que o carro se adapta.
O mais peculiar do novo Evoque é o retrovisor. Em vez do tradicional espelho, uma câmera envia as imagens captadas a uma tela de LCD. Segundo Peter Binghan, mecânico responsável pelo novo projeto, o sistema permite aumentar o campo de visão para 50 graus. É uma versão digital dos espelhos curvos usados por taxistas desde os anos 80.
A viagem segue e o papo também. Apesar de não oferecer nem balinhas nem água, o motorista era simpático e atencioso. Falamos de trabalho, família, economia, surfe, cinema e viagens. Quando ovelhas cruzaram nosso caminho, ele gentilmente pediu para parar. “Tenho de fazer um vídeo para minha filha”, disse abrindo a porta e correndo em direção aos ovinos. “Olha só que foooofos, toisa mais linda, fiiiiilha”, derretia-se saudoso de Sofia, de 7 anos.
A primeira versão do Evoque desembarcou no Brasil em outubro de 2011. O modelo caiu nas graças dos brasileiros com espírito aventureiro, e a aceitação foi tão grande que a Land Rover passou a produzi-lo localmente. Isso aconteceu de 2016 até agora, quando a matriz britânica decidiu suspender a fabricação na planta de Itatiaia. Curiosamente, o modelo dirigido pelo ator e dublê de motorista é produzido somente em um lugar, com nome de meca de cinema (ou quase isso): Halewood. Mas esta não fica na Califórnia, e sim na Inglaterra.