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Como ninguém viu o que acontece no Ministério dos Esportes?

Nunca houve tanta informação. Mas ninguém ficou sabendo que os ditadores árabes estavam por um fio. A escassez de notícias é um mal — mas talvez o excesso também seja

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Da Redação

Publicado em 31 de março de 2011 às 10h20.

O cidadão que lesse, visse ou escutasse o noticiário internacional seis meses atrás — ou nem isso: três meses atrás — não teria encontrado, em nada do que leu, viu ou escutou, o menor vestígio de que países como a Tunísia, o Egito ou a Líbia poderiam estar com um problemão à vista no curtíssimo prazo.

Suas longas ditaduras, na verdade, estavam com os dias contados. Dezenas de jornalistas, possivelmente, passaram por esses três países de seis meses para cá; não notaram, em nenhum deles, que havia algo fora do lugar. Como na queda do Muro de Berlim, em 1989, e na dissolução dos regimes comunistas que veio em seguida, o público só foi informado dos acontecimentos na hora em que eles estavam acontecendo.

Até ali, durante anos a fio, leu-se de tudo sobre a URSS e o comunismo — menos que estavam, simplesmente, acabando. Os meios de comunicação não podem, é claro, adivinhar o que vai acontecer no futuro. Mas a ausência de qualquer menção à fragilidade dos regimes em questão, que obviamente existia, deixou o público desinformado a respeito do que realmente estava ocorrendo por lá. Um belo dia veio a notícia de que a casa caiu — e a constatação de que ninguém tinha recebido um mínimo de informação a título de aviso prévio.

É um fato aceito por todos que nunca houve tanta informação disponível no mundo como há hoje — em volume, variedade, origem. Nunca tantas pessoas tiveram tanto acesso às informações. Nunca elas circularam tão rápido de um canto para outro do mundo. Nunca foi tão fácil conectar-se com o noticiário.

Nunca houve tantos fornecedores de informação, de todos os tipos que se pode imaginar. Isso deveria fazer a população de hoje ser mais bem informada que a de ontem, ou de qualquer outra época na história da humanidade — mas não é o que acontece. A internet pode até desempenhar, como desempenhou no caso das revoltas populares contra as ditaduras do norte da África, um papel essencial na própria criação dos fatos e em sua evolução.

Sustenta-se que, sem as redes digitais, as pessoas não alcançariam o grau de mobilização que foi fatal para os governos; ou que ficou muito complicado para tiranias de Terceiro Mundo sobreviverem em tempos de internet aberta a todos. É isso mesmo — mas a desinformação permanece. A escassez de notícias, é claro, não ajuda ninguém a ser bem informado. O excesso de notícias também não.

Já foi o tempo, no Brasil, em que indivíduos interessados em furtar do Erário tomavam cuidado na montagem de operações complicadíssimas para embaralhar as pistas em caso de descoberta; de tão complicada, a negociata acabava se tornando incompreensível para o público.

Quem roubou o quê, afinal? É penoso, para o cidadão comum, manter sua atenção numa roubalheira que não entende; depois de certo tempo, a história vai sumindo do primeiro plano e acaba ficando restrita aos especialistas.

No Brasil de hoje, não passa pela cabeça de ninguém gastar tempo e energia com esses detalhes, conforme ficou mais uma vez demonstrado com o corrente escândalo no Ministério dos Esportes — simplesmente, ali, entregava-se dinheiro público para “ONGs” de amigos, que privatizavam as verbas recebidas através de empresas-laranja. Nada menos complicado que isso, nem mais fácil de entender. Mas quem é que está preocupado? Nenhum dos que se meteram nessa história, com certeza.

O episódio servirá para nos informar sobre o rumo que o atual governo pretende adotar nesse tipo de evento. No fundo, só há dois caminhos. Ou o Palácio do Planalto se livra dos envolvidos ou alia-se a eles.

O bom seria aproveitar a oportunidade e acabar logo de uma vez com esse Ministério dos Esportes, distribuindo suas tarefas entre os 30 e tantos outros ministérios restantes; mas já estaria ótimo se a cúpula fosse demitida. O ruim seria deixar tudo como está. Na próxima bomba dessas que estourar, os responsáveis vão querer tratamento igual — um caso claro de direito adquirido.

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