Revista Exame

Como nascem os líderes

Um livro retrata o novo perfil de jovens executivos — ainda mais preparados para liderar do que as gerações anteriores

MBA em Harvard: os líderes da nova geração são mais educados do que seus antecessores (Stuart Cahill/EXAME.com)

MBA em Harvard: os líderes da nova geração são mais educados do que seus antecessores (Stuart Cahill/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 17 de fevereiro de 2012 às 09h48.

São Paulo - Desorganizados, perdidos, sem propósito, herdeiros folgados. É dessa maneira que muitos executivos acima dos 40 anos de idade — as gerações X e baby boomer — costumam caracterizar os líderes da nova “geração Facebook”.

Com a alta rotatividade de jovens no mercado de trabalho, é comum ouvir reclamações de gerentes experientes sobre o comportamento, o despreparo e a falta de comprometimento dessa nova geração.

Os receios que podem existir sobre os jovens na faixa dos 20 e poucos anos, no entanto, são desfeitos ao folhear as páginas do livro Passion and Purpose: Stories from the Best and Brightest Young Business Leaders (“Paixão e propósito: histórias dos melhores e mais brilhantes jovens líderes de negócios”, numa tradução livre), publicado recentemente por John Coleman, Daniel Gulati e W. Oliver Segovia, todos graduados pela Harvard Business School.

Munidos de entrevistas com executivos sêniores e de pesquisas com MBAs das melhores escolas americanas, os autores oferecem uma nova perspectiva sobre como os jovens líderes de hoje irão desenhar o futuro, transformando negócios e redefinindo a liderança em todo o mundo. 

Em vários aspectos, os novos líderes estariam mais preparados do que os baby boomers quando tinham a mesma idade. Com a profusão de MBAs e cursos de pós-graduação, essa nova geração de líderes de negócios é a mais educada de toda a história. Como consequência, sua alta qualificação traz um novo conjunto de valores para a mesa de decisões.

Produzir de maneira consciente e sustentável nunca foi tão importante. A mesma coisa pode ser dita sobre liderar de maneira integral, um princípio que leva em conta não apenas a transformação de empresas e negócios mas também vidas e sociedades.

Além da educação formal, eles têm forte inclinação a aprender na prática, criando valor com base em experiências em diversos campos do conhecimento. Nesse quesito, a vantagem seria que, apesar de jovens, eles são vividos.

Em sua curta experiência de vida, puderam testemunhar eventos importantes da história, como a última crise financeira mundial. A chance de aprender com erros como esse, na visão dos autores, também colabora para enriquecer ainda mais sua visão de mundo.

Se é verdade que líderes como esses nunca existiram antes, também é preciso notar que os desafios enfrentados por eles são outros. Como essa nova geração vai conseguir equilibrar segurança energética com sustentabilidade? Como catapultar as inovações com saúde que nos permitam viver mais, com todos os custos que isso implica? Como oferecer ao restante dos habitantes do planeta o estilo de vida que 1 bilhão tem hoje em dia, diminuindo, ao mesmo tempo, seu impacto ambiental?


É certo que os jovens líderes terão papel fundamental em ajudar organizações a navegar em mercados globais cada vez mais incertos, além de aproveitar novas oportunidades em regiões do mundo ainda pouco exploradas. Entre muitas histórias, o livro conta o caso da americana Katie Laidlaw, uma jovem consultora do Boston Consulting Group.

Como muitos jovens de sua geração, ao mesmo tempo que desenvolvia habilidades de liderança, Katie queria viver jornadas internacionais em projetos que criassem riqueza de forma sustentável.

Suas experiências a levaram à Tanzânia em um estágio de verão para um projeto desenvolvido pela Technoserve, organização americana sem fins lucrativos e dedicada à redução da pobreza por meio de desenvolvimento econômico.

O livro dá atenção a outros exemplos semelhantes, como o projeto Carolina for Kibera, que recebe todos os anos estudantes de MBA para trabalhos voluntários em uma favela de Nairóbi, capital do Quênia.

Ao longo de três meses, Katie trabalhou para coletar dados sobre o mercado de frutas e vegetais diretamente com os produtores de vilarejos no interior da Tanzânia. A missão era desenhar um projeto de desenvolvimento social, econômico e ambiental em ­regiões do país africano.

“Essa experiência confirma minhas próprias hipóteses de que os futuros líderes estarão mais bem preparados para lidar com os problemas do amanhã, com mais chances de sucesso em operações nos diferentes setores e geografias”, diz ela. Katie é apenas um exemplo entre milhares de jovens que hoje buscam postos de liderança em carreiras globais e multissetoriais, mas que também querem usar seus talentos para provocar impactos positivos para a sociedade. 

Há alguns argumentos que sustentam essa ideia. Essa é a primeira geração que cresceu totalmente conectada, em contato com ideias de lugares mais diversos. Como Katie, eles também ganham experiência internacional cada vez mais cedo em sua carreira — aos 20 e poucos anos, já viajaram para diversos países e trabalharam em empresas no exterior.

O efeito dessa proximidade com o mundo dá a eles bagagem para enfrentar problemas de qualquer natureza. Em tempos de redes sociais como o LinkedIn, ainda, o net­working social global oferece passe livre não somente a informações e dados mas também a pessoas importantes em todos os cantos do mundo.

Tudo isso ajuda a nova geração de líderes a construir valores comuns que transcendem fronteiras nacionais ou culturais. Isso permite que ambientes de trabalho geridos por eles se beneficiem de uma multiplicidade de perspectivas de maneira inédita. O conjunto desses elementos, por fim, se conecta a algo extremamente valioso, e que é esperado de qualquer grande líder: a capacidade de inovar.

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