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Como a economia incerta afeta seus investimentos neste ano

As projeções para a economia pioram semana a semana e alguns analistas esperam que a recessão chegue a 2017. Como ficam seus investimentos nesse cenário?


	Temer e Dilma: a crise política dita os rumos da economia
 (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Temer e Dilma: a crise política dita os rumos da economia (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

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Da Redação

Publicado em 26 de fevereiro de 2016 às 14h52.

São Paulo – Quando 2015 começou, parecia um enorme exagero prever que a inflação bateria os 10% ou que a crise faria o país mergulhar numa recessão que poderia ser a pior do último século. A maioria dos economistas esperava um período de dificuldades na economia, mas acreditava que ele seria relativamente curto.

A expectativa era que os ajustes prometidos pela equipe econômica surtiriam efeito e que no fim do ano — ou seja, agora — haveria sinais de recuperação. Em pouco tempo, ficou claro que a previsão era otimista demais. As projeções dos principais analistas de mercado vêm piorando semana a semana e já há quem espere que a recessão chegará a 2017.

Um fato novo, porém, pode levar a uma nova revisão de expectativas. Quando a Câmara dos Deputados aceitou o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, alguns profissionais passaram a colocar na conta a possibilidade de a situa­ção começar a melhorar antes do que se espera — ainda no primeiro semestre de 2016. Está tudo no ar.

No curto prazo, o processo de ­im­­pea­ch­­ment mais atrapalha do que ajuda a economia. Com o Congresso tomado pelas discussões do impeachment — houve até pancadaria entre adversários numa sessão —, ficou mais difícil votar medidas de ajuste fiscal, pelo menos até que o processo seja concluí­do.

Em dezembro, a agência de classificação de risco Moody’s colocou a nota do Brasil em revisão, com perspectiva negativa, citando como grande problema “a falta de consenso político sobre as reformas fiscais”. Para a Moody’s, “a recuperação econômica e fiscal do Brasil em 2016 parece improvável”.

O desfecho considerado mais provável — pelo menos até agora — é o de permanência de Dilma no cargo até o fim do mandato, em 2018. Nesse caso, as projeções para a economia são um show de horror. A avaliação é que, ainda que resista ao impeachment, Dilma seguirá fraca e com as mesmas dificuldades para aprovar mudanças, equilibrar o orçamento e convencer empresários e investidores de que vale a pena apostar no Brasil de novo.

“Veremos um aprofundamento da crise em 2016”, diz o cientista político Christopher Garman, chefe de pesquisa para mercados emergentes da consultoria Eurasia. “O impacto dos novos desdobramentos da Operação Lava-Jato tem sido subestimado. Há delações premiadas e acordos de leniência já negociados que devem dar novo fôlego às investigações e dificultar a vida do governo.”

Para o banco Credit Suisse, a recessão vai durar, no mínimo, até 2017: a estimativa é de um recuo de 3,5% no PIB em 2016 e de mais 0,5% no ano seguinte em razão da queda no consumo das famílias e nos investimentos das empresas, que estão mais endividadas e sem um pingo de confiança para iniciar novos projetos. Se as projeções se confirmarem, o PIB brasileiro deverá encolher 8% entre 2015 e 2017, de acordo com o Credit Suisse, o que seria “a maior retração contínua da economia desde 1901”.

O cenário alternativo é o afastamento da presidente Dilma. Os efeitos disso para a economia são, obviamente, uma incógnita, mas, para muitos investidores e executivos de mercado, existe uma chance de a troca de comando ser positiva. O comportamento da bolsa e o câmbio têm refletido essa opinião: sempre que aumenta a probabilidade de impeachment, o real valoriza, assim como o Ibovespa e as ações de empresas estatais, como a Petrobras.

“Sem mudanças, os próximos três anos serão um deserto a ser atravessado. A possibilidade de interrupção do mandato traz algum alento”, diz Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio da gestora Rio Bravo. Para ele, ainda que seja impossível prever como seria um eventual governo do atual vice-presidente Michel Temer, o “ponto de referência” é o documento divulgado pelo PMDB em outubro, com propostas para equilibrar as contas públicas.

Entre elas: o estabelecimento da idade mínima para a aposentadoria, a aprovação de leis que tornem o orçamento federal menos engessado (o que permitiria o corte de despesas de forma mais ágil) e a ampliação de concessões de serviços públicos a empresas privadas.

É pouco provável que o governo —qualquer que seja — consiga aprovar grandes reformas até 2018. Na opinião de um número crescente de economistas, porém, não é preciso fazer nada grandioso para tirar o país do atoleiro. “Caso o governo mostre que está disposto a enfrentar os problemas reais da economia, é possível reverter essa trajetória negativa em seis meses”, diz Marcos Lisboa, presidente da escola de negócios Insper.

O primeiro passo, segundo Lisboa, é elaborar um plano consistente de ajuste fiscal, que mostre não apenas como elevar as receitas, mas como reduzir as despesas. O segundo é atuar para aprovar mudanças pontuais, como a criação da idade mínima para a aposentadoria, que estejam relacionadas ao plano de ajuste fiscal.

Lisboa cita como exemplo a reforma da Previdência proposta pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva assim que ele foi eleito em 2003, o que gerou um clima de otimismo que contribuiu para o crescimento do PIB num ano complicado. “A economia reage rapidamente a um cenário de sustentabilidade fiscal. Não se trata de equacionar o déficit do governo deste ano ou do próximo, mas mostrar como será a situação fiscal no longo prazo”, diz Lisboa.

Segundo ele, isso criaria um ambiente de maior confiança que poderia encorajar os empresários a voltar a investir e a contratar. A má notícia é que estamos longe desse ciclo virtuoso. Nem mesmo a meta de su­perávit primário (a economia que o governo faz para pagar os juros de sua dívida) de 2016 está resolvida.

O ministro Joaquim Levy, da Fazenda, ­defende um superávit de 0,7% do PIB, mas parlamentares da própria base aliada ao governo já avisaram que vão enviar uma proposta para que a meta seja zero. Se isso acontecer, Levy ­deverá sair do governo.

Melhor ser conservador

Com tantas incertezas, muitos investidores têm evitado aplicar de forma sistemática em ações, imóveis e outros ativos de risco. Quando decidem comprar, fazem isso pontualmente. Foi o que aconteceu entre outubro e novembro, quando os fundos de ações globais investiram 50 milhões de dólares na Bovespa.

Nos últimos 12 meses, porém, tinham sacado perto de 2 bilhões de dólares, de acordo com a consultoria EPFR. O bilionário americano Sam Zell, um dos investidores imobiliários mais bem-sucedidos do mundo, diz que só vai voltar a comprar imóveis aqui quando os preços caírem. Para ele, os valores atuais “não refletem a realidade do país”.

A melhor opção hoje, na opinião dos 30 executivos de mercado ouvidos por EXAME para este especial de investimentos, é ser conservador. Não apenas porque é difícil assumir riscos em meio a tantas incertezas na economia e na política. Mas porque dá para ganhar um bom dinheiro fazendo isso.

Para a maioria dos analistas, o desequilíbrio fiscal será responsável por manter a inflação elevada, no mínimo, até 2016 — e, por consequência, os juros continuarão altos. A previsão média do mercado é que a taxa Selic suba para 14,6% ao longo do ano. Com isso, as aplicações de renda fixa — mesmo os tradicionais fundos DI — tornam-se bastante vantajosas. “O custo de oportunidade para fazer outros tipos de investimento no Brasil é enorme”, diz Vital Menezes, presidente da gestora do banco JP Morgan na América Latina.

Os assessores financeiros também veem chance de obter bons retornos aplicando fora do país. Os ventos que sopram do exterior, aliás, deverão mais atrapalhar do que ajudar o Brasil no próximo ano.

Na China, a desaceleração e a mudança do modelo econômico — o atual prevê mais incentivos ao consumo e menos investimentos em in­fraes­trutura — estão provocando a queda das importações de commodities. Com isso, os preços de produtos relevantes na pauta brasileira de exportações, como minério de ferro, estão caindo.

Nos Estados Unidos, o aguardado aumento dos juros pode acentuar o movimento de saída de recursos de países emergentes. Até a vitória da oposição na Argentina pode criar desafios de curto prazo. A maioria dos analistas espera a adoção de medidas recessivas para equilibrar as contas públicas, o que é ótimo para o futuro do país, mas deve reduzir as importações argentinas em 2016.

Para os investidores, no entanto, há oportunidades. Os especialistas recomendam, principalmente, a compra de ações de empresas americanas e europeias em razão da estimativa de maior crescimento econômico. Para quem não quer enviar dinheiro para fora, é possível aplicar em ações, moedas e títulos de renda fixa estrangeiros via fundos e outros instrumentos financeiros no Brasil.

E a Bovespa? A maioria dos analistas diz que não é hora de desistir, mas que investir em ações vale a pena apenas para quem puder deixar o dinheiro aplicado por mais de cinco anos — e conseguir suportar os inevitáveis altos e baixos do mercado. Leia, nas próximas 31 páginas, as recomendações de alguns dos principais gestores de fundos, analistas e consultores financeiros para 2016.

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