Revista Exame

"Brasil será parte muito maior do Airbnb", diz CEO Brian Chesky

Em entrevista à EXAME, criador da plataforma falou ainda sobre planos com IA, restrições em Nova York e o futuro do trabalho

Brian Chesky, CEO do Airbnb (Jessica Chou/Divulgação)

Brian Chesky, CEO do Airbnb (Jessica Chou/Divulgação)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 23 de novembro de 2023 às 06h00.

NOVA YORK - Para o Airbnb, o Brasil é um dos casos de sucesso: em 2022, as hospedagens feitas por brasileiros no país cresceram 95% em relação a 2021. Desde 2020, quase 600 cidades tiveram a primeira reserva. O país, ao lado de outros mercados, como Alemanha e Coreia do Sul, tem sido um dos motores de crescimento da plataforma, e pode avançar ainda mais, planeja o CEO Brian Chesky. 

Ele conversou com a EXAME, Chesky falou sobre os planos para reconstruir a plataforma, as limitações em vigor em Nova York e como a inteligência artificial pode ser uma revolução para o turismo.

Qual é a importância do Brasil para o Airbnb hoje? 

O Brasil mais que dobrou seu tamanho [de mercado para o Airbnb] comparando com o período pré-pandemia. É um mercado enorme, um grande destino para estrangeiros e um grande mercado doméstico. E o fato de que dobrou de tamanho me diz que há muito para crescer. O Brasil é um dos dez ou 12 maiores mercados de turismo do mundo. Não sei o número exato, mas nossa penetração é muito menor do que nos Estados Unidos. E a terceira coisa a olhar é a taxa de crescimento. Está crescendo super-rápido, muito mais rápido que nos Estados Unidos. O Brasil será uma parte muito maior do futuro do Airbnb do que é hoje no presente. 

Em uma entrevista recente, o senhor disse que o Airbnb estava “fundamentalmente quebrado”, mas que tinha um plano. Como está o plano?

Está indo muito bem. Fizemos mais de 350 melhorias no Airbnb desde maio de 2021. Nunca vamos terminar de melhorar nosso serviço, que nunca será perfeito. Enquanto eu estiver liderando o Airbnb, vou ouvir os feedbacks e fazer melhorias, mas acho que hoje é um dia em que viramos uma esquina, porque o front final é a confiabilidade. Isso tem sido um problema difícil porque os Airbnbs são únicos. Essa é a melhor coisa, mas também tem sido historicamente uma fraqueza. As casas não são nossas. Não as gerenciamos. Não são todas iguais. Se você ficar em uma você não ficou em todas. E isso significa incerteza.

Como resolver a incerteza, quando não é sustentável para nós visitarmos 7 milhões de casas? E, mesmo se nós fôssemos a 10 milhões de casas, não sei se os hóspedes confiariam em nós tanto quanto confiam uns nos outros. Então, acho que a solução que o time trouxe com o Favorito dos Hóspedes [novo modelo que destaca hospedagens bem avaliadas] é a melhor resposta que já tivemos para a confiabilidade. Acho que esses 2 milhões de favoritos dos hóspedes somam mais lugares para ficar do que todos os quartos do Hilton ou do Marriott em todo o seu inventário global. É muito impressionante.

Como o Airbnb tem lidado com as novas restrições em Nova York?

Estamos tentando ajudar os hosts, que costumavam receber reservas e não vão poder mais receber, a seguir em frente. É muito decepcionante para dezenas de milhares de hosts que dependiam das reservas para pagar seu aluguel ou hipoteca. Agora vemos que as pessoas continuam reservando estadias de 30 dias ou mais nos arredores de Nova York, como em Nova Jersey, no interior do estado de Nova York ou Connecticut. Também somos donos da Hotel Tonight, e estamos colocando hotéis no ­Airbnb. Muitas pessoas vão escolher não vir a Nova York simplesmente por motivos financeiros. A questão em jogo é que o custo de ficar em um hotel em Nova York ficará proibitivo: 400 ou 500 dólares por uma noite em um dia de semana é muito caro. 

Teme que outras cidades sigam o caminho de NY?

A maioria das cidades tem escolhido um caminho diferente. O Airbnb está em 100.000 cidades. De seus 200 maiores mercados, 80% possuem regulações. Há um banimento de fato em Nova York agora. Não vemos isso em nenhum outro dos maiores mercados que operamos. Nova York, em vez de ser um modelo, será mais um caso de alerta, porque muitas das propriedades vão acabar indo para um modelo clandestino. São as evidências que estamos vendo com base em mais anúncios no Craiglist [site de classificados dos EUA], Facebook e Instagram. Os hotéis estão 8% mais caros do que há um ano. Isso significa que a cidade está menos acessível para os viajantes, e podemos ter menos viajantes vindo. É cedo para dizer, mas não vemos os preços das casas diminuindo, o que era uma das premissas da regulação. Há dezenas de milhares de hosts que poderiam fazer dinheiro extra, e muitos deles não conseguirão ficar em suas casas.

Como balancear o desejo dos hóspedes de pagar menos e o dos hosts de aumentar seus rendimentos, para compensar perdas com a inflação, por exemplo?

É um equilíbrio muito delicado, e este talvez seja um dos nossos temperos secretos: balancear oferta e demanda. Se você não tem oferta suficiente, os hosts podem cobrar muito dos hóspedes. Se os preços são muito baixos, os hóspedes amam, mas os hosts podem achar que não é financeiramente válido seguir alugando. Tentamos criar boas ferramentas de precificação, para dar aos hosts mais visibilidade sobre a demanda e ver quanto outros hosts na mesma área estão cobrando. E, se os hosts de uma cidade não estão tendo reservas, podemos fazer mais marketing para atrair demanda. Ou campanhas para atrair mais hosts se o preço estiver subindo ou as opções estiverem cheias. Esse modelo é um mecanismo que se autocorrige, como a economia. Se os preços sobem, a demanda cai. Quando a demanda cai, os hosts podem baixar os preços e ter mais reservas. É um mercado saudável, e um desenho muito louco quando você pensa para 1,7 bilhão de hóspedes. A economia do Airbnb tem o tamanho do PIB da Croácia.

Em uma apresentação, o senhor disse que a IA será uma revolução tão grande como foi a internet. Como o Airbnb pode tirar vantagem disso?

A questão real será: quais negócios vão se beneficiar mais da inteligência artificial e quais culturas vão ser mais capazes de utilizar a IA. Temos uma cultura muito inovadora. Acabamos de fazer um tour de fotos [uma galeria de fotos das hospedagens que são organizadas por cômodo] movido a IA. Quanto mais fragmentado um negócio, mais a IA pode ajudar. Somos um negócio muito personalizado. Muitas questões demandam respostas personalizadas. Questões como “para onde deveria viajar?”, “o que devo fazer?”, “quem devo encontrar?”. Essas respostas dependem de quem é você, com quem você vai, qual seu orçamento etc. Há milhares de variáveis, e a IA será muito boa em ser o agente de viagens definitivo, capaz de entender o que importa e dar o que você quer, quando você quer.

Há dois anos, o senhor disse que o home office era o melhor modelo de trabalho para o Airbnb. Como vê isso agora?

Sempre acreditei que o futuro não seria voltar ao escritório, e que nem todo mundo estaria apenas remoto. O futuro é flexível. Será as pessoas estarem juntas de forma seletiva, quando importa mais, mas permitir flexibilidade, como ficar longe no verão ou ter fins de semana estendidos. Nunca acreditei que o futuro seria puramente trabalhar de casa e eu não acredito que o futuro será ir ao escritório. Será um casamento entre a flexibilidade de trabalhar de qualquer lugar com uma conexão significativa, que só acontece quando as pessoas ficam juntas. No Airbnb, a maioria das pessoas pode trabalhar de qualquer lugar, mas reunimos as pessoas cerca de quatro vezes por ano. Em alguns cargos, há encontros mais frequentes, e outros são mais flexíveis.

O repórter viajou a convite do Airbnb. 

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