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Reforma de ministério bem longe do Brasilzão

É uma ironia que a presidente Dilma Rousseff esteja falando do Ministério dos Transportes agora. Nas conversas sobre a reforma ministerial, a última coisa em que os políticos estão pensando é em melhorar os transportes


	Mexe de lá para cá: a grande preocupação na Esplanada dos Ministérios é saber quem vai mudar de prédio
 (Mario Roberto Durán Ortiz/Wikimedia Commons)

Mexe de lá para cá: a grande preocupação na Esplanada dos Ministérios é saber quem vai mudar de prédio (Mario Roberto Durán Ortiz/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2013 às 16h18.

São Paulo - Os brasileiros tiveram oportunidade de viver nestes últimos dias um dos grandes momentos de uma disciplina que poderia muito bem entrar nos currículos das nossas faculdades de economia e administração. Título: “O Brasil segundo o governo e o Brasil que existe para quem vive no mundo das realidades”.

No Brasil oficial, a presidente Dilma Rousseff, o copresidente Lula e a tropa toda que prospera em volta deles estavam envolvidos na tarefa, altamente estratégica, de mexer daqui para lá nos ministérios.

Seus labores, nessa questão, parecem incluir a criação de mais um — isso mesmo, mais um — ministério, o que nos leva a um total de 39, pelas últimas contas, e reforça a perspectiva de atingir o sonho dourado de Dilma e da companheirada: 50 ministérios ao todo, ainda em nosso tempo.

No Brasil das realidades, enquanto isso, o maior comprador de soja da China, o grupo Sunrise, anunciou o cancelamento da compra de 2 milhões de toneladas de soja brasileira (valor: 1,1 bilhão de dólares) porque dos 12 navios que deveriam entregar a soja em janeiro e fevereiro só dois chegaram à China até agora.

É, em português claro, o que se chama de quebra de contrato — e, por causa disso, a Sunrise pretende cancelar o negócio inteiro.

É exatamente esse o Brasil que existe para os brasileiros. O motivo do desastre com a soja é o mesmo que estava aí dez anos atrás, quando Lula e Dilma descobriram o Brasil pela segunda vez — pura, simples e grosseira incompetência na ação do governo na área de transportes.

A presidente, há algum tempo, desafiou tudo e todos: “Não herdamos nada”, disse ela. Parece que também não vão legar coisa nenhuma.

Em matéria de transporte, é certo que não fizeram nada de útil se nosso ritmo de entrega de grãos está na base de dois navios atracados no porto de chegada, ante 12 que foram contratados.

O Brasil de verdade não consegue, simplesmente, levar a soja colhida até os portos — principalmente o de Santos, o maior de todos eles. Há imensas quantidades de soja perdidas em Mato Grosso, pois não se sabe como tirá-las de lá.

Os caminhões levam nove dias para percorrer uma distância de 2 200 quilômetros, e não há a alternativa de utilizar linhas ferroviárias — invento que está para completar 200 anos de existência, mas não foi bem entendido até hoje pelos governos brasileiros.

Os caminhões que conseguem chegar ao destino formam filas apavorantes, pois a capacidade de escoamento dos portos é uma piada. A possibilidade de armazenar a soja é outra: para 180 milhões de toneladas de grãos colhidas, a capacidade atual dos silos brasileiros não chega a 150 milhões.  

É uma notável ironia que justo neste momento a presidente da República esteja falando muito a respeito do Ministério dos Transportes, dentro das conversas sobre “reforma” ministerial — mas a última coisa em que ela, Lula e os políticos à sua volta estão pensando é em melhorar o que quer que seja nos transportes brasileiros.

Nem sabem (e não querem ficar sabendo) que há filas de caminhões nos portos, que mais de 1 bilhão de dólares foi jogado fora nas operações de exportação de soja para a China ou que há grãos apodrecendo no pé nas áreas produtoras.

Seu único e exclusivo interesse é decidir quem vai para o emprego de ministro; o tema “transporte”, para todos eles, começa e acaba aí. O resto do mundo em que vivem não é melhor.

O deputado Valdemar Costa Neto, atualmente condenado a sete anos e dez meses de cadeia por corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, terá voz na “reforma” de Dilma, na sua condição de grão-comendador do PR?

O ex-ministro do Trabalho  Carlos Lupi, demitido por suspeitas de ladroagem, parece que está mandando de novo no pedaço. Anuncia-se a criação do Ministério das Pequenas Empresas, a última coisa neste mundo que pode servir a uma pequena empresa — seu problema não é a falta de um ministério, e sim o excesso de fiscais de todos os tipos que a extorquem dia após dia.

Este, sim, é o nosso Brasilzão.

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