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Arte engarrafada: cresce o interesse pelo enoturismo

O varejo digital veio para ficar, sem dúvida. Mas o bebedor de vinho cada vez mais busca ir além na experiência de consumo

 (Catarina Bessell/Exame)

(Catarina Bessell/Exame)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 17 de novembro de 2022 às 06h00.

Depois de caminhar pelos vinhedos e ouvir, do próprio enólogo, como determinado vinho foi elaborado, você tem a chance de degustá-lo na taça antes de comprá-lo. Será que esse vinho vai ter o mesmo sabor daquele outro, escolhido pelo rótulo ou pelo preço, na prateleira do supermercado ou pela tela do celular, sem nenhuma história ou conhecimento?

Provavelmente, não. O varejo digital veio para ficar, ninguém duvida, e segue imbatível em sua eficiência no processo de compra — mas o bebedor de vinho, assim como consumidores de diversas outras categorias, cada vez mais, busca ir além na sua experiência de consumo.

E essa mudança de comportamento passa por conhecer os processos que aconteceram antes que o vinho fosse arrolhado e posto à venda.

Vinho é arte engarrafada que gosta de conversar, de contar quem é, de explicar de onde veio. A forma como as uvas foram cultivadas, as características daquele "terroir", o comportamento do clima em cada safra e a proposta do enólogo, com toda a poesia que ela encerra, são informações que não aparecem nos rótulos.

Ouvir essas histórias permite que a degustação transborde para outros sentidos, transforme o produto e dê outro significado ao momento. Depois de tudo, você pode até descobrir que não gosta do vinho, mas consegue entender muito melhor o que ele tem a contar.

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Enoturismo na experiência de consumo

Essa relação entre vinhateiros e bebedores é cada vez mais próxima e os dados do enoturismo estão aí para comprovar. Quem tenta visitar Mendoza, na Argentina, topa com agendas lotadas — e cerca de 90% delas são reservadas pelos brasileiros.

Cenário parecido acontece nas vinícolas do Uruguai, Chile ou do Sul do Brasil. O setor cresce a passos largos em vários países, as vinícolas aprenderam a receber mais e melhor — e eu entendo que a experiência mais próxima é um dos maiores fatores de fidelização dos tão disputados clientes.

Brasileiros amam viajar mundo afora em torno do vinho, porque é muito gostoso voltar para casa e contar a experiência para alguém que compartilha de sua mesa. Representa bem mais do que simplesmente recomendar um bom vinho a um amigo.

Potencializar a experiência dos consumidores e buscar conexão emocional é uma tendência das marcas ao redor do mundo. A troca do famigerado NPS (net promoter score) pelo NES (net emotional score) se dá exatamente por essa evolução. Tanto com a marca Grand Cru como com a Evino, andávamos atentos a essa tendência.

Recentemente demos mais um passo nessa direção adquirindo 20% da plataforma de enoturimo Wine Locals, de forma a oferecer aos nossos clientes acesso privilegiado às experiências com vinícolas pelo mundo.

Também é possível proporcionar esse tipo de relação íntima entre vinhos e consumidores sem viajar. Dentro das lojas, em plenos centros urbanos, degustações conduzidas por enólogos ou sommeliers e refeições harmonizadas têm se mostrado ocasiões preciosas, que aproximam as duas pontas da cadeia com muito mais calor e emoção.

Vinho tem a ver com celebração, traz boas lembranças e ajuda a construir novas memórias. E, convenhamos, os brasileiros andam ávidos por contato. Após tanto tempo de reclusão, queremos sair e viver nossas paixões ao vivo e em cores, de preferência ao som de taças brindando.  

(Arte/Exame)

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