Revista Exame

“Ainda faltam 6 bilhões de usuários do Facebook”

O espanhol Javier Olivan, vice-presidente de crescimento do Facebook, explica como fez para levar a rede social a bater a marca de 1 bilhão de usuários — e quais os planos para os próximos bilhões


	Javier Olivan, vice-presidente de crescimento do Facebook: é o braço direito de Mark Zuckerberg na estratégia de crescimento da rede social, que inclui o avanço em celulares e tablets
 (Germano Lüders/EXAME.com)

Javier Olivan, vice-presidente de crescimento do Facebook: é o braço direito de Mark Zuckerberg na estratégia de crescimento da rede social, que inclui o avanço em celulares e tablets (Germano Lüders/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2012 às 07h00.

São Paulo - O dia 4 de outubro de 2012 foi de comemoração para o espanhol Javier Olivan. Naquele dia, seu chefe, o americano Mark Zuckerberg, fez uma visita ao andar onde fica o time responsável pelo crescimento do Facebook, liderado por Olivan, na matriz da empresa, em Menlo Park, na Califórnia.

“Marco”, como o espanhol se refere ao chefe, trazia uma garrafa de champanhe para comemorar a marca de 1 bilhão de usuários. Olivan havia cumprido as duas missões que Zuckerberg lhe dera cinco anos antes, quando o contratou. A primeira era iniciar a expansão mundial do Facebook — até então uma promissora rede social americana, com pouco mais de 30 milhões de usuá­rios.

A segunda era criar uma estratégia para levar o Facebook aos dispositivos móveis. Hoje, o Facebook está presente no mundo inteiro em 70 idiomas, e 60% do acesso ao site é feito por ce­lu­lares e smartphones. Em visita recente ao Brasil, Olivan concedeu a seguinte entrevista a EXAME. 

EXAME - O senhor entrou no Facebook em 2007. O que mudou na empresa nesses cinco anos? 

Javier Olivan - A missão da companhia continua a mesma: tornar o mundo mais aberto e mais conectado. O que mudou, obviamente, foi o tamanho. Cinco anos atrás, tínhamos 30 milhões de usuários e um site apenas em inglês. Éramos menos de 300 funcionários apertados em dois escritórios no centro de Palo Alto, na Califórnia.

Iniciamos em 2007 a internacionalização, que foi uma de minhas primeiras funções na empresa. Hoje, nossos sites estão disponíveis em 70 idiomas, ultrapassamos recentemente a marca de 1 bilhão de usuários e temos 4 000 funcio­nários em dezenas de escritórios espalhados pelo mundo. 

EXAME - O que faz exatamente um vice-presidente de crescimento? 

Javier Olivan - Minha equipe analisa todos os dados gerados por diferentes áreas e serviços do Facebook. Olhamos para as métricas e ajudamos a construir novos produtos e a melhorar os existentes. O objetivo é tornar o uso do site o mais simples possível e fazer com que os usuários fiquem mais tempo conectados.


Também somos responsáveis pela estratégia do Facebook em celulares e smartphones. Há cinco anos, quando começamos, era raro ver uma companhia com uma área dedicada inteiramente ao crescimento. Hoje, é um departamento encontrado em boa parte das grandes corporações.

EXAME - O Facebook teve prejuízo neste ano. O crescimento da receita com publicidade não acompanhou a expansão dos gastos com infraestrutura. Agora que a empresa tem capital aberto, existe pressão dos acionistas para crescer de forma mais sustentável? 

Javier Olivan - Não. Isso seria um pensamento de curto prazo. Lidero um time de crescimento, e não de encolhimento. Nosso objetivo é ter o maior número possível de usuários dentro do Facebook. Mais usuários produzem mais conteúdo. E é esse conteúdo que nos permite criar novas formas de gerar receita. 

EXAME - E quais são as novas formas de gerar receita? Como o senhor imagina o Facebook dentro de cinco anos? 

Javier Olivan - Pela nossa experiência, o mundo se move mais devagar do que você planeja para dois anos e mais rápido do que você prevê para cinco anos. Em 2007, era estranho pensar que teríamos 1 bilhão de usuários hoje. O que vemos é que, quanto mais as pessoas entram, maior é o nível de engajamento e de interação com diferentes tipos de conteúdo.

Começamos basicamente com textos e fotos. Hoje, você sai para jantar e pode compartilhar com seus amigos em que restaurante está, o que vai comer, se o programa vale a pena ou não. Se gostar de uma música nova na internet, você pode comparti­lhá-la em tempo real.

No futuro, teremos mais aplicações da chamada “web semântica”, que é a capacidade de a rede social entender e antecipar aquilo que o usuário está procurando. 

EXAME - Quais são as metas de número de usuários para os próximos anos? 

Javier Olivan - Em qualquer lugar do mundo, as pessoas querem estar conectadas com seus amigos. Por esse raciocínio, dá para concluir que nossa meta é atrair os 6 bilhões de pessoas que ainda estão fora do Facebook. Existem, no entanto, algumas barreiras. Uma delas é a questão do acesso à internet.


Hoje são 2,4 bilhões de internautas conectados no mundo. Por enquanto, o Facebook é bloqueado na China. Feitas essas ressalvas, restam 1,8 bilhão de pessoas a ser conquistadas, a maior parte delas em países emergentes, onde é normal usar o celular para se conectar a uma rede social.

Por isso, nossa estratégia hoje está voltada para o mundo móvel. Atual­mente, 60% de nossos usuários acessam o Facebook pela rede de dados de dispositivos móveis. Essa é uma participação que deve aumentar nos próximos anos.

EXAME - A China é a principal barreira para a expansão do Facebook? 

Javier Olivan - Obviamente que queremos ver o Facebook na China. É um mercado de 600 milhões de internautas. Mas não depende apenas de nós. Os chineses estão em meio a uma mudança política. Nossa esperança é que o próximo governo permita que tenhamos uma operação no país. Mas há outras barreiras maiores hoje quando pensamos em uma expansão internacional.

EXAME - Quais são essas barreiras?

Javier Olivan - Conseguir adaptar o Facebook às particularidades de cada país. No Brasil, por exemplo, o primeiro passo foi a tradução para o português em 2008. Há também um trabalho na identificação das principais escolas e universidades do país, para citar mais um exemplo.

Os celulares ainda são caros aqui, então a expansão em smartphones é mais lenta do que a que vemos nos Estados Unidos e no Japão. Dito isso, os progressos têm sido rápidos. Quando entrei na empresa, havia poucos milhares de usuários no Brasil.

Agora são 61 milhões de brasileiros no Facebook — dos quais mais de 30 milhões entraram nos últimos 12 meses. Só conseguimos isso trazendo mais conteúdo local. Repetimos esse processo em diferentes países. 

EXAME - Como as empresas brasileiras podem ganhar dinheiro com a expansão do Facebook?

Javier Olivan - Trabalhamos com um ecossistema. Mais usuários implicam maior engajamento para empresas que têm páginas de fãs no Facebook. Para os desenvolve­dores de aplicativos, como os jogos, mais pessoas jogando significa mais receita. Os portais de conteúdo têm mais audiência quando integram suas páginas com o Facebook.

Se um usuário curte uma notícia, seus contatos têm acesso a ela. As operadoras ganham com a venda de pacotes de dados. Na era das redes sociais, não é apenas o Facebook que ganha.

Acompanhe tudo sobre:Edição 1028EmpresasEmpresas americanasEmpresas de internetempresas-de-tecnologiaEntrevistasFacebookInternetRedes sociais

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025